Rogel Samuel: Que é Democracia
Em: 30/09/2010, às 07H29
Rogel Samuel: Que é Democracia
Para quem, como eu, que ficou 20 anos sem votar para Presidente, as eleições é uma belíssima alegria.
Voto no Partido, não voto em pessoas.
A Democracia, essa Sagrada Instituição, é feita de Partidos.
O partido moderno, diz Maquiavel, “é o centro de uma ampla rede de instituições sociais e políticas que compõem a sociedade civil”.
“O príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma laicização completa de toda a vida e de todas das relações de costume” (O príncipe, p. 9).
É claro que as religiões e a mídia passaram, para manterem-se vivas, a constituir-se em espécies de partidos políticos, partidários do jogo do Poder.
Só assim se tornaram legitimadas no mundo moderno, e vigoram no meio de tudo.
Se a igreja não tivesse sido instituída como religião oficial pelo imperador Constantino, em 312, certamente não teria sobrevivido.
A partir do Iluminismo, entretanto, esta separação entre o poder e o obedecer tende a se dissolver, a se interpenetrar, passando a própria burguesia a assumir a postura de autodominação, embora reconhecendo na classe administrativa dominante, nas instituições do Direito, da Justiça e da Polícia os representantes vivos dos símbolos de dominação da ordem e do equilíbrio.
Em outras palavras, os representantes do povo: EU OS ESCOLHI, SÃO OS MEUS REPRESENTANTES.
A divisão do trabalho, na qual a dominação se dissolve socialmente, e a existência de um partido único, no caso do antigo modelo soviético, serviam para a autoconservação de todo dominado.
A opressão exercida pela sociedade moderna vem de baixo, dos eleitores, e exibe sempre, hoje, as características de opressão exercida coletivamente, pela ditadura do coletivo.
É essa unidade de coletividade e dominação, no nosso século XXI, que unifica as forças de unidades social das sociedades modernas e determina a formação dos Partidos, em cuja base estão os interesses e as necessidades coletivas. E a emoção.
Somente a emoção, e não a razão, pôde servir de força para a liberdade dos povos.
A liberdade, desde o século XVIII, vem devido à crença de que o homem é o ser dotado de razão e emoção e pode autogovernar-se.
Isto aparece na Declaração dos Direitos Humanos, na teoria econômica de Adam Smith e mesmo no Manifesto Comunista de 1848.
A Democracia é uma luta.
Luta com uma arma antiga: a força da argumentação do discurso, a força do texto. A força da emoção. Do “patos”.
Luta pela liberdade, contra a organização da técnica, contra os riscos da técnica, contra as bombas da técnica.
Sua luta é um resíduo considerado “conservador”, pois a modernidade está imbuída da tecnologia-científica.
O discurso é uma forma conservadora da História.
Mas é melhor do que a sanguinária luta armada.