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[Flávio Bittencourt]

Rogel Samuel escreve para Neuza Machado

Homenagem.

 

 

 

 

(http://neuzamachadoletras.blogspot.com.br/2010_09_01_archive.html

 

 

 

 

 

 

(http://clotildetavares.wordpress.com/2010/02/14/antigos-carnavais/)

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.bdoubliees.com/seriesauteurs/series1/mandrake.htm)

 

 

 

 

 

 

 

O GRANDE ATOR JI-TU CUMBUKA, 

que foi LOTHAR na série de televisão 

(de 1979) MANDRAKE, O MÁGICO,

EM FOTO RECENTE: 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.filmous.com/person30542/) 

 

 

 

 

 

 

A EXPERIÊNCIA JURUÁ [RIO AMAZÔNICO]:

 

 

 

 

 

 

 

 

Neuza Machado (“O Fogo da Labareda da Serpente.: sobre O Amante das Amazonas de Rogel

Samuel”. Rio de Janeiro: N. Machado, 2008. 105p.) escreveu, sobre o personagem PAXIÚBA,

o cabocão:

“Manifestado à moda dos lendários heróis de misteriosas histórias de cerimônias e cultos diversos, Paxiúba é a encarnação mítico-ficcional de antigos guardiões extravitais (de qualquer arcabouço esotérico da humanidade, humanidade esta quase sempre conduzida por elementos das forças sobrenaturais), os quais povoaram, ao longo do tempo, a poderosa imaginação reduplicada, sintagmática, do mundo dos conceitos veneráveis. Paxiúba se configura como o símbolo das forças da natureza selvagem do Amazonas (no caso, o estrato mítico-substancial da sociedade indígena amazonense), e, acima de sua aparência exterior, a matéria épica se faz presente no relato ficcional, realçando o prestígio prosopopaico de sua natureza humana.
“Se me encontro aqui como apreciadora de obra ficcional da pós-modernidade, envolta em minhas próprias teorizações analítico-fenomenológicas sobre um assunto no qual eu mesma me alterco constantemente, confirmo que em O Amante das Amazonas há um altíssimo grau de entropia no sistema de narração (ausência da ordem narrativa à moda tradicional). Para explicitar o seu personagem mítico-ficcional Paxiúba, o criador pós-modernista de Segunda Geração se vale dos enclaves narrativos, tão do gosto dos escritores pós-modernos/pós-modernistas da Primeira Geração. Entretanto, enquanto autor-criador de um novo direcionamento estético-ficcional, mais de acordo com a vivência do homem do século XXI, objetivou abandonar o estereótipo (lugar comum) do personagem reificado (inacreditável, fantasioso) da primeira fase, procurando descortiná-lo por meio de um olhar diferenciado (o ser mítico a se transformar em humano), circunscrito a insólitos acontecimentos dinamizados. (Preciso esclarecer que os escritores do final do século XX, dos anos 80 para cá, perceberam as qualidades intrínsecas das regras sócio-culturais do século XXI, e, por sua vez, como participante ativo daquele momento, o narrador rogeliano enxergou criativamente a mudança que já se avizinhava).

“A entropia narrativa, no século XX, surgiu das pioneiras modalidades sócio-culturais capitalistas, intermediárias de uma novíssima ciência, baseada em um conjunto de métodos científicos, de novas modalidades existenciais que visavam resolver os problemas do homem pós-moderno. Fundamentado-se em normas predominantemente científicas e em transmissões de notícias generalizadas oferecidas pelos meios de comunicação em evidência naquele momento (rádio, televisão e cinema), as mensagens saíam de uma realidade cotidiana, poderosa, mas que já chegavam descaracterizadas aos destinatários, propiciando espetáculos insólitos. Assim, a técnica discursiva da propaganda impôs suas diretrizes no universo ficcional da pós-modernidade, naquela Primeira Geração de escritores ficcionistas, obrigando-os a “criar” seus textos ─ sintagmáticos ou paradigmáticos ─ pelo ponto de vista de uma realidade liquidificada, reduzida a diversas cópias (ou colcha-de-retalhos, ou patchwork quilt) de conceitos vitais diversificados e entrelaçados, conceitos esses vistos pelos críticos da literatura do final do século XX como simulacros de uma realidade há muito despojada de suas características fundamentais.”

 

 

 

 

 

 


PAXIÚBA [LEGENDA NOSSA],

ELE SERIA MELHOR INTERPRETADO POR

Djimon Hounsou (FOTO ABAIXO) DO QUE

POR QUALQUER OUTRO ATOR:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

O multipremiado ator Djimon Hounsou, trabalhando:

ELE FOI LOTHAR EM FILME DE ESPIONAGEM

[Jax of Heart, EUA, RODADO EM 2010] INSPIRADO

EM MANDRAKE

(veja, por favor, adiante [vídeo Youtube], falso - mas

muito bem elaborado - "trailer" desse ainda não lançado

filme, cujo título é JAX OF HEART [MAS, NO "TRAILER",

APARECE UM TÍTULO MUITO MAIS IMPACTANTE:

MANDRAKE, THE MAGICIAN...],

http://www.cinemovies.fr/fiche_film.php?IDfilm=16214 e

http://www.cinemovies.fr/perso-Djimon+Hounsou-1-2-0.html;

foto de divulgação acima reproduzida:

http://www.celebrityring.info/zoom.php?pic=Djimon-Hounsou-5.jpg&celebrity=Djimon%20Hounsou)

[http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/o-caboclo-paxiuba-personagem-assustador-de-rogel-samuel,236,6339.html

 

 

 

 

 

 

 

O REI ZULU, ATUANDO (MUITO BEM)

COMO ATOR NEÓFITO,

INTERPRETOU Mestre Irineu

NO VÍDEO O SENHOR DA FLORESTA

(documentário premiado de Mivan Gedeon,

lançado em março de 2008): 



Rei Zulu

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.afamiliajuramidam.org/comunidade/o_senhor_da_floresta.html)

 

 

 

 

 

 

 

Mandrake The Magician Trailer,

Youtube:

(http://www.youtube.com/watch?v=UecHod6YbGM,

onde se pode ler - a narração do clip está em inglês -, 

na explicação do argentino "CPMASTER446":

"Mandrake El Mago TRAILER - Este es mi Trailer (fan made) 

de Mandrake el Mago. Aparecen, el Cobra, Lothar, y Narda".

[NÃO É PRECISO ACRESCENTAR QUE "CPMASTER446" -

que é o apelido de alguém, da Argentina, no Youtube - 

APRESENTOU DJIMON HOUNSON NO "PAPEL DE LOTHAR" -

as aspas constam porque o take utilizado foi de outro filme -,

NO CURIOSO E BELO "trailer"-MOSAICO QUE

INTELIGENTEMENTE EDITOU])

 

 

 

 

 

 

 

"(...) Lothar est le serviteur de Mandrake. Au tout début de la série, c'était un esclave noir qui appelait Mandrake "maître". Au fil du temps, les moeurs évoluant, il s'est contenté d'un "patron" un peu moins raciste. C'est le roi d'une tribu d'Afrique (Mandrake ne fréquente que des rois et des princesses). Les liens patron/employé entre Mandrake et Lothar ont peu à peu fait place à une grande estime. Lothar est très fort. Quand la magie de Mandrake n'est pas efficace pour combattre un adversaire, les poings de Lothar sont redoutables. (...)"
 

(http://www.bdoubliees.com/seriesauteurs/series1/mandrake.htm)

 

  

 

 

 

 

 

ric4.jpg

 

 

 

 

 

 

 

(http://uminomukougawa-br.seesaa.net/article/26114500.html)
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

28.4.2013 -   F.

 

  

Coluna de Rogel Samuel   

2ª quinzena de abril de 2013 [BLOCOS ONLINE Nº 236]:

 

"Escrevo para Neuza Machado

 

                                                 Rogel Samuel 


Soube que um livro de crônicas de Paulo Mendes Campos foi publicado. Ele fazia parte dos grandes daquela época, Rubem Braga, Fernando Sabino e ele. Era a época das belas crônicas. Drummond também as escrevia. Crônicas todas que eu lia, e imitava.


O futuro das crônicas está aqui, na Internet. Quem gosta de ler, lê primeiramente crônica, e as lia no ônibus, no escritório, na praça. Os velhos leem na praça. Mas os jornais estão acabando, em breve só se vai ler em tablet, e o mundo continua lindo, o Rio de Janeiro. Os velhos cronistas usavam máquinas de escrever portáteis, escreviam nos aviões, aeroportos. O mundo parecia moderno. Eu nunca escrevi em aeroporto. Meus poucos livros os escrevi a mão, em grandes cadernos. “O amante das amazonas” escrevi num hotel, no centro, pois meu apartamento estava em obra inacabável. A primeira versão foi feita lá, perto da Praça da Cruz Vermelha. Ali eu mergulhei na selva amazônica, no rio Juruá, ali construí o Palácio Manixi, com todo o seu luxo. Lembro-me de que, naquele hotel, naquele Igarapé do Inferno, mas logo mais abaixo na última linha que riscava o horizonte da tarde - era uma diagonal dourada com a tempestade se aproximando na outra ponta do horizonte - como num recorte de uma cena de um escrupuloso sonho histórico, soberanamente saltava sobre meus olhos o belo vulto e art-nouveau do Palácio Maxini (que era como se chamava aquela construção), sede do Seringal e residência de Pierre Bataillon, pois eu e o texto retornávamos em busca daquele passado interdito, e chegávamos no fim daquela era quando o Palácio transparecia com deslumbramento de múltiplos reflexos das quinquilharias de cristal, janelas e bandeiras das portas transformadas em lúcidas placas de ouro reluzente e vívido e muito louco, de um ouro muito louco e muito vivo, de um brilho vivíssimo, dourado e louco, fantasmático e delirante, desterritorializado e dIspare, produzido pela acumulação primitiva de quase um século de exploração e investimento e agenciamento de sobrepostos níveis heterogêneos de história, num engendramento de todo varrido do planeta moderno, confinado ali, circunscrito ali, centrado ali na dependência permanente de si e de seu retardado isolamento e de seu anacrônico testemunho.


Todo escritor é louco delirante, todo escritor surta. Todo escritor recria a imagem de um passado que não viveu. Mas nesse ponto me falta o fôlego enquanto eu chego ao fim dessa minha crônica, pois o dia se anuncia e ressurge e é tempo de você partir, meu amigo, que eu fico aqui e tudo já vimos do que deveria ser visto a despeito desse vosso Narrador fingido que está no fim, permanecendo vivo ainda até esta hora e o assunto está terminado. Não mais, que foi assim que falei, e assim a estória se fez e falou por mim, e se cumpriram as coisas conforme o disse eu, o Narrador. Adeus, minha amiga, adeus Neuza, que tão bem soube interpretar “O amante das amazonas” que parecia ter sido escrito para ela. Adeus Amiga, lembre-se desse Narrador nos desconhecidos espaços da morte, não se esqueça dessa estória tão bonita do amante das amazonas. A Amazônia é um certo lugar fantástico que também está no fim, e quando sonhar sonhe aquilo, com aquele Igarapé se indo por dentro daquele pântano, passando pelo Palácio Manixi de grande memória, com o jovem Zequinha Bataillon. Lembre-se de Maria Caxinauá, do bugre Paxiúba, de Benito Botelho, de Pierre Bataillon ao piano e de sua Ifigênia Vellarde. Não se esqueça de Antônio Ferreira, da maacu Ivete, da Conchita dei Carmen, de Juca das Neves e D. Constança, sua mulher, e do Comendador Gabriel Gonçalves da Cunha. Mais de Frei Lothar e de Ribamar de Souza, que assim se vai nesse velho Narrador que desaparece, neste ponto.


Ela faleceu subitamente. E o livro que Neuza Machado escreveu sobre “O amante das amazonas” pode ser lido em:

http://www.portalentretextos.com.br/webroot/files/prt_livrosonline/esplwww.pdf "

 

(http://www.blocosonline.com.br/home/index.php)

 

 

 

 

 

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28.4.2013:

"O homem que não queria morrer

 

Cunha e Silva Filho


                             Era jovem ainda o Hadesiano, assim mesmo escrito. Não tinha mais do que trinta anos, mas vivia afirmando que morrer não estava nos seus planos,.não. Antes viver, viver como pudesse, viver ao máximo ainda que fosse no seu mundo pequeno e sem graça, viver sem pactos, sem essa conversa de perder a alma para ganhar a vida ou a eterna mocidade e sem ter que recorrer ao expediente macabro de Dorian Gray ou à ambiguidade do pacto do narrador Riobaldo ou às implicações fáusticas de Thomas Mann. Viver no seu epicurismo de pobre e ambulante semi-letrado. Viver a vida simplesmente vivida, sem horizontes, sem grandes sonhos, sem grandes esperanças. Viver apenas...
                           Por isso, agia como se escondesse eternamente da morte, não pegava avião, não pegava ônibus interestadual, nada. No seu bairro, que não era pequeno, preferia passar a via só caminhando pelas ruas. Conhecia-as de cor e salteado e delas sabia os nomes todos, ainda mesmo aqueles escritos em língua estrangeira.
                          Era assim Hadesiano. Se alguém lhe viesse dar uma sugestão para se tornar igual a todos a respeito da condição mortal do se humano lá vinha ela com sete pedras na mão, esbravejando aos quatro ventos que essa sugestão melhor seria dada para quem professasse alguma religião cristã, que, para pacificar os ânimos dos fiéis, inventou que há vida depois desta. Com ele, não, não se criava este princípio.E não havia mesmo ninguém que o dissuadisse de suas excêntricas ideias, nem padres, nem pastores, nem espíritas, nem de qualquer crença afro-brasileira. 
                        Hadesiano, desse modo,  ia vivendo como podia, vendendo pipoca no seu carrinho, na praça principal de um populoso bairro carioca. Tinha-se afastado dos pais porque não fora compreendido, questão de temperamento dele muito individualista.
                        Uma outra ideia que levava muito a sério era que jamais iria se casar. Casamento, nunca! Só pros que não pensavam o quanto era dura a vida de casado, com filhos e, depois, netos. Isso só lhe custaria dissabores, brigas em família, escândalos etc.
                       Os pais dele já se haviam acostumado com a decisão de sair de casa e morar sozinho, lá no centro, perto da Avenida Mem de Sá, numa quitinetezinho que fazia parte de um velho prédio. Gostara sempre do centro do Rio, local ideal para ver muitas coisas de dia ou de noite. Seu lugar de trabalho, vendendo pipoca naquele bairro perto do centro, era a menina dos olhos. Bem asseado tudo, a roupa de trabalho, o avental branco, o boné branco, a barba feita, os cabelos bem penteados. A pipoca feita na hora, quentinha, saborosa. O elogio dos clientes, sempre bem tratados, mas sem liberdades, nem sorriso encenado. Seu cabelo liso e escuro  brilhava como se nele colocasse a brilhantina dos anos cinquenta e início de sessenta.
                      Tinha pouquíssimos conhecidos. Amigos, não, que não era de confiar em ninguém. Toda amizade lhe soava falsidade. Não acreditava em nada.  Entretanto, sozinho, na hora de ir pra cama  de solteiro (presente de sua mãe), Hadesiano sonhava com espíritos maléficos que vinham do desconhecido querendo devorar-lhe as entranhas. Eram terríveis, parecendo animais medonhos com asas e sem face. Eram, contudo, tão reais no sonho que, ao acordar, seu coração batia tão forte e acelerado como se fosse explodir, tamanho era o medo que dele se apossava naquele instante de despertar de madrugada. Sentia, às vezes, um calafrio de meter medo em qualquer valentão. Olhava para a sala semi-iluminada por um abajur, no entanto, não via ninguém. Eram sonhos mesmo, concluía aliviado.
                    Hadesiano, que não queria  morrer, um dia, foi encontrado sem vida, em adiantado estado de decomposição. A porta do apertado quitinete tivera que ser arrombada pela polícia. Os vizinhos do prédio não o conheciam, apenas o viam entrando e saindo. Ele não gostava de falar com quem morava no mesmo prédio. Uma semana depois, o pai, lendo um jornal popular do dia, soube de sua morte. Já havia sido enterrado no Catumbi por um conhecido com quem se dava um pouco, morador de um prédio também velho, vizinho ao seu. Este conhecido atendeu a um pedido de        Hadesiano. Uma mensagem escrita a tinta numa meia folha de papel A4, encontrada em cima de uma mesinha perto da cama. O conteúdo da mensagem era muito claro, escrito naquela letra dele bem desenhada e numa frase dizia tudo: “ Não avisem nada a ninguém, principalmente à minha família.              

              Não deixava de ser bizarra esta sua disposição que valia como palavras de um testamento. Uma contradição, diria algum leitor. Hadesiano se declarava um ateu convicto, inabalado. Somente a vida pra ele tinha valor. Daí todo o seu medo de morrer, de evitar a morte por todos os lados. Cuidados extremos tinha ao andar pelas ruas, ao atravessar uma rua. Parecia que havia perigo em tudo ao seu redor. Não viajava para nenhum outro estado brasileiro com medo de morrer em acidente. Nisso coincidia com o jurista Rui Barbosa: “A morte nos cerca de todos os lados.” Hadesiano era um cara que não queria morrer, contudo, a morte o perseguiu até no próprio nome de batismo. Hadesiano era a própria morte."

(http://www.portalentretextos.com.br/colunas/letra-viva/o-homem-que-nao-queria-morrer,212,8945.html)

 

 

 

 

 

 

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PROFª DRª NEUZA MACHADO:

Falece Neuza Machado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.portalentretextos.com.br/noticias/falece-neuza-machado,1736.html,

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/neuza-machado-letras/a-pequena-paris,224,8929.html

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/neuza-machado-letras,224.html e 

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/letra-viva/a-ausencia-de-neuza-machado,212,8926.html

[artigo de Cunha e Silva Filho, colunista deste site de jornalismo cultural Entretextos])

 

http://www.blocosonline.com.br/home/index.php