RIATLA, A ATLÂNTIDA DE DIEGO MENDES SOUSA - ENSAIO DE LUIZ OTÁVIO OLIANI
Por Diego Mendes Sousa Em: 12/09/2025, às 19H37

RIATLA, A ATLÂNTIDA DE DIEGO MENDES SOUSA
por Luiz Otávio Oliani
"Poesia é clareira/ na toca da grandeza / subterrânea."
Diego Mendes Sousa
Diego Mendes Sousa despontou, agora, com novo livro de poemas. Trata-se de “A borda do mar de Riatla”, Brigada Mandu Ladino, 2025.
Na orelha da obra, Ana Arguelho, Doutora em Literatura, escreveu:
"Diego Mendes Sousa imprime uma carga poética de altíssima densidade lírica às suas 'transgressões', no atravessar de suas fronteiras linguísticas e estéticas."
A quarta capa vem iluminada com depoimentos de Luiz Ayrton Santos Junior, Valdeci Cavalcante, Danilo Nascimento Cruz e Christovam de Chevalier. Todos corroboram o vigor da obra de Diego, que possui duas seções: "Borda-d'água" e "Altos-mares".
O livro é pontuado por epígrafes de calibre. Nomes nacionais e estrangeiros antecedem as pérolas de Diego, como: Da Costa e Silva, Diderot, Saint-John Perse, Clarice Lispector, Jean Cocteau, William Shakespeare, entre outros homenageados.
Consiste em um libelo de amor à terra natal, à pátria na qual o poeta nasceu e que tanto venera.
E, diante da impossibilidade de comentar tantos textos significativos, seguem notas de alguns deles, ressaltando todo o artesanato verbal do autor.
Em "Cega-rega", p.13, o eu lírico busca a cigarra entre as árvores e o elemento celestial, "entre o humano / e a cantoria do tempo", todavia o fecho de ouro encanta: "Lancinante é encontrar / o sublime."
Bela prosopopeia encanta em "Veneração", p. 14: "O vento / não levará / as linhas tecidas / nas ambíguas / talhas / que a profecia / confidencia."
"Anamneses", p.15, traz a potência de uma voz forte: "cavo o pó esquecido / no mar desgrenhado/ de pedras despencadas / em mim mesmo.”
Alta voltagem metafórica aparece em "Demolição", p.16: "A poesia / é o sol / e depois / o pó / solamente / ausente."
Em "Quimera", p.19, o eu lírico cita que o tempo é comprado "por quase nada" e que, por ser inexistente, cresce dentro do poeta, em bela prosopopeia.
"A poesia conhece / o homem / e o seu inferno" em "Arquitetura", pois ela desnuda o ser, mostra-o diante das belezas e fraquezas da existência.
A presença das prosopopeias ilumina o poema "Desolação", p.35: "O coração fica encalhado/ na gleba consternada” e "A tristeza me encara / com uma súbita melancolia...”
O longo poema "Aprofundamentos", p.26, trabalha com intensa presença de aliterações marcadas pelo fonema vibrante /r/, pois é necessário refundar tudo, desde o tempo, a alma, a casa, a utopia, o verbo, a memória, o mar, a morte, o pertencimento, a solidão, entre tudo o mais que já possui uma concepção de pensamento.
Três poemas reforçam a cor local, a paixão de Diego pela terra onde nasceu: "Nascente", "Santeiros do Piauí" e "Evocação da Parnaíba", páginas 39 a 43.
Na segunda parte do livro, "Altos-mares", em "Porto das Barcas", p. 47, "o rio irá transpor o Tempo decaído / a demandar o mar", em bela prosopopeia.
No lindo "Crônica sobre o Rio Igaraçu", p.55, o eu lírico vai tecendo considerações sobre um rio interminável que flui, ao sabor das águas da Morte, do Tempo, do Amor, e que alcança o mar do Piauí, mas não tem fim, isto porque "(...) a Poesia / não termina, / nem o silêncio / termina”.
Memória e lembrança entrelaçam-se em "De saída", p.58, tudo através de grande dúvida existencial: "Como esquecer o vivido? / Se a alma ainda sofre / no redemoinho extinto?"
Já "Mau tempo", p. 64, representa um texto que exalta condições climáticas internas do lírico, pois, de "As folhas caem. / As casas se arruínam. / Os séculos decaem.", isso porque "Abrimos os abismos / dentro de nós mesmos / de repente / caímos."
LUIZ OTÁVIO OLIANI é professor e escritor. Com intensa produção intelectual, publicou 25 livros, incluindo poesia, conto, crônica, teatro, literatura infanto-juvenil, crítica literária e ensaios.