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                                             O ENIGMA DO AUTOMÓVEL DE PRATA, de Ronnie Wells (RESENHA)

 

 

                                                                         Miguel Carqueija

 

 

     Ronnie Wells – pseudônimo de Jeronymo Monteiro (1909-1970)

 

     “Aventuras de Dick Peter” volume 3, Edições “O Livreiro” Ltda., s/d

 

     Rua Carneiro Leão 267, S.Paulo – SP

 

 

 

     Ao narrar a aventura do automóvel prateado que dispara a 500 por hora pelas estradas circunvizinhas a Nova Iorque, J.M. derrapa espetacularmente. A parte de ficção científica fica mal explicada (a origem dos homens-macacos) e a parte de mistério, mal resolvida, pois o super-vilão, acuado por forças superiores, morre gloriosamente, levando com ele trinta policiais, sem que um desastre tão exagerado perturbe o bom humor do herói Dick Peter.

     Como de hábito Dick é chamado a ajudar o neurastênico Morris, chefe da polícia novaiorquina, sempre pronto a destratar seu subordinado, o sargento Cross (que é elogiado por Dick). E como sempre, norteado pelo seu lema “veja as coisas com seus próprios olhos”, Dick logo enxerga as pistas negligenciadas pela polícia.

     Felizmente há uma certa leveza no estilo do autor, um certo bom humor, e a leitura é fácil. Jeronymo Monteiro, porém, não é muito habilidoso na titulação dos capítulos: revela demais, prejudica o suspense. Por exemplo, o capítulo IV intitula-se: “A trágica morte de O’Malley”. Quer dizer, você lê esse título e já fica sabendo que O’Malley vai morrer, o que só ocorre no fim do capítulo.

     As moças seqüestradas e levadas no automóvel prateado têm uma participação etérea no caso, como personagens não apresentam a mínima importância. A tara sexual do vilão é outra coisa que não convence. Fica-se sem saber porque ele esperou chegar aos oitenta anos para praticar as maluquices da história. Tratava-se simplesmente de um “voyeur” sádico. E quanto a Dick Peter, apesar de sua esperteza, parece-me evidente que ele resolve tudo aos trancos e barrancos.

     A assinalar, como toque de humor, a diferença de opinião entre Dick e Morris, no que se refere ao Sargento Cross:

     (DICK) – Esse Cross é um bicho!

     (MORRIS) – É o que eu digo também. É um bicho. Por mim ele estaria no Jardim Zoológico.

 

 

 

 

 

Rio de Janeiro, 13 de abril de 2005.

 

 

Nota: na faltra de imagem do livro em questão, coloquei a de outra obra de Jeronymo Monteiro, "A cidade perdida", esta assinada com seu verdadeiro nome.