9225, por Regina Sylvia     (resenha)


               


                            Miguel Carqueija



            Subtítulo: Ficção da Nova Era
   
c.1987 Regina Sylvia. Capa: Harmut Oster. Primeira edição – 1989. Segunda edição – 1990. Poesia “Aguadeiro celeste” de Júlio Bueno Neto (do livro “Despertar do louco”) História em quadrinhos “Estrela cadente” de Flávio Calazans. Edição da autora.


   Este é um dos livros mais estranhos e originais que eu tenho lido. Ressente-se de, digamos, um amadorismo de estilo que reflete a extrema juventude da autora; mas em nenhum momento se pode afirmar que a história se perca, seja mal conduzida ou não desperte interesse.
   A edição é independente e, surpreendentemente, o exemplar que possuo (achado num sebo de rua) é da segunda edição. A técnica narrativa é ousada, sem divisão em capítulos, mas não tudo de uma enfiada como em “Grande sertão: veredas”, de Guimarães Rosa, mas em alternâncias de narrativa, ora na terceira pessoa, ora na primeira, com o ponto de vista da protagonista, a soldada 9225.  
   A autora só explica de forma perfunctória como a humanidade chegou àquela distopia, de um mundo unificado sob a ditadura de Eunuco, um estranho personagem que estabeleceu o mal como ideal de vida: os homens eram maus por natureza, e deviam assumir a sua maldade. O medo passava a ser encarado como um crime, o mundo passava a ser conhecido como “Inferno”. O alienígena Pedra Escura é chamado de “extrainfernal”.
   A história possui uma riqueza que a autora não consegue administrar. Passa uma mensagem de valorização do amor humano, de retorno às fontes, mas com um entremeio extravagante de concepções “hyppies” ou contraculturistas e alguma coisa de doutrina espírita kardecista e mística oriental. Fica um texto desequilibrado mas com uma certa desenvoltura, e personagens bem delineados, além da fina ironia do mapa-múndi que supõe alguma catástrofe modificadora da configuração dos continentes. Alguns são continentes atômicos: os “Estados Unidos das Usinas Atômicas”, a “União das Usinas Atômicas” e a “Índia Atômica”. Os demais são o “Primeiro Mundo” (Europa), “Segundo Mundo” (Austrália) e “Terceiro Mundo” (América do Sul e África, unidas num só continente). É um mapa muito engraçado, onde aparecem “Brasílha”, “Rio de Fevereiro”, “Aires Poluídos”, a “Hidrelétrica de Paraguaias Afundadas”, o “Rio da Zona”(Amazonas!), o “Cabo sem Esperanças” e por aí afora
   Em suma é um livro divertido, polêmico, bizarro, como poucos das letras nacionais. Nas entrelinhas ou abertamente aparecem conceitos da autora que eu julgo questionáveis, mas que não tiram a qualidade da obra — sinalizadora de uma novelista que merece atenção.
   Uma observação: Regina Sylvia consegue criar uma heroína simpática, a Dhyana ou 9225, que de seguidora devotada do extravagante ditador vai aos poucos valorizando coisas como o amor, a amizade, a natureza e – detalhe importante! – a maternidade.                                  
   Outro detalhe importante: através da invenção apelidada “videograma”, a autora previu simplesmente... a internet! Uma façanha que os mais conhecidos autores de FC não conseguiram.
























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