(http://carla-carpediem.blogspot.com/2010_04_01_archive.html)
HOMENAGEANDO A MEMÓRIA DO ERUDITO JORNALISTA E ESCRITOR
EDMUND WILSON (1895 - 1972)
Por Flávio Bittencourt Em: 08/04/2011, às 22H23
[Flávio Bittencourt]
Resenha de Rumo à estação Finlândia, por Fabio Cardoso
Se nas universidades o valor de Edmund Wilson não é reconhecido, o problema é das universidades.
"O QUE TAMBÉM ESTÁ EM QUESTÃO, QUANDO SE DISCUTE O ESTILO E OS CONTEÚDOS DOS TEXTOS DO INFELIZMENTE JÁ FALECIDO ERUDITO E. WILSON - um estudioso das revoluções (não apenas a soviética) -, É O FATO DE WILSON, QUE ERA JORNALISTA, NÃO RECORRER, felizmente, A MANDARINS DOS ESTUDOS DE BASE PRÁTICO-TEÓRICA MARXISTA - ou seja, a artigos e livros acâdemicos ancorados no MATERIALISMO HISTÓRICO e no MATERIALISMO DIALÉTICO -, quase todos eles escritos por infelizes stalinistas que acabaram por se tornar "simbolicamente" coniventes com os medonhos crimes à socapa perpetrados pelo grupo político que governava a URSS, chefiado pelo camarada Stalin, cristalizados em tenebrosos assassinatos de compatriotas, crimes esses que foram mundialmente denunciados, em 1956, pelo então premiê soviético Nikita Khruschov (1894-1971)."
(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")
O LÍDER DO GRUPO MAXIMALISTA RADICAL (LENIN) DISCURSA
NA TRIBUNA POPULAR-REVOLUCIONÁRIA, EM MOSCOU (1917)
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HOMENAGEANDO A MEMÓRIA DO ERUDITO JORNALISTA E ESCRITOR
EDMUND WILSON (1895 - 1972)
9.4.2011 - Segundo Edmund Wilson, Karl Marx é o POETA DAS MERCADORIAS - E Fabio Silvestre Cardoso mostra que é um conhecedor do pensamento e da obra de Wilson, ao lembrar que esse autor - cujos escritos eram muito apreciados pelo jornalista e romancista Paulo Francis - buscou descrever, à sua maneira, os bastidores das revoluções. F. A. L. Bttencourt ([email protected])
FABIO SILVESTRE CARDOSO ESCREVEU
A SEGUINTE (ÓTIMA) RESENHA DO
LIVRO RUMO À ESTAÇÃO FINLÂNDIA,
DE EDMUND WILSON:
"SEM O ESCUDO DAS TEORIAS |
Em Rumo à estação Finlândia, Edmund Wilson opta por um gênero mais derramado e informal para discorrer sobre história e as idéias que a compõem Fabio Silvestre Cardoso • São Paulo – SP |
Existem diversas formas de contar uma história. Este é um adágio que, grosso modo, persegue os jornalistas e todas as pessoas que se metem a escrever com o objetivo de contar histórias reais, trazer os fatos à tona, revelar segredos escondidos ou, ainda, descrever os acontecimentos de um determinado período em ordem mais ou menos cronológica. Em que pese o árduo ofício que se impõe ao historiador e ao jornalista, é notório que algumas narrativas se tornam mais legíveis e, acima de tudo, agradáveis não tanto pela temática escolhida pelo narrador em questão, mas, principalmente, pela forma como contam essas histórias. Em linhas gerais, o período anterior sintetiza a natureza e a importância de Rumo à estação Finlândia, escrito pelo jornalista e escritor Edmund Wilson.
A obra foi o primeiro livro lançado pela Companhia das Letras em 1986, quando o mercado editorial era incipiente e quando os livros de História tinham de ser sisudos e repletos de um academicismo rebuscado. O livro de Wilson, relançado agora em edição de bolso, rompeu com esses dois modelos então vigentes. Para a surpresa de muitos, a obra é até hoje um dos grandes sucessos de venda e, de certa maneira, iniciou uma nova tendência na forma de os intelectuais se dirigirem ao grande público com uma prosa, a um só tempo, sofisticada e bastante acessível. Crítico literário e profundo conhecedor de temas como política e história, Edmund Wilson pode ser considerado um dos mestres do ensaísmo, essa difícil modalidade da prosa que, feita com a devida presteza, é um deleite para os leitores. É com esse tom ensaístico que o autor conduz os leitores em uma das passagens mais complexas da política e da história mundial, catalisadora de acalorados debates até hoje (o título do livro, para quem desconhece a história da Revolução Russa, está explicado no final da obra).
Para contar a história da Revolução Russa, ocorrida em 1917, Wilson toma o leitor pelos sentidos e pela razão e o leva até o século 19. É lá que o autor inicia a narrativa a partir de uma espécie de perfil intelectual de Jules Michelet, um jovem e inquieto professor preocupado com as questões históricas, assim como com o momento em que vive. Desse modo, e justamente por ser tão óbvio, o jornalista realiza algo que parece um ultraje às histórias malcontadas das guerras e dos conflitos armados de nosso tempo. Edmund Wilson contextualiza e constrói um cenário a fim de ambientar o leitor em um período distinto do presente e com suas particularidades. É interessante observar que o jornalista, a despeito da contextualização, não busca exemplos simples ou rasteiros para apresentar sua narrativa. Longe de ser descaso, trata-se, muito mais, de uma opção de estilo e, sobretudo, de uma questão de princípios. Sua homenagem ao "respeitável público" se dava no âmbito da escrita, sempre elegante, como se fosse um atleta em plena forma, jogando com a cabeça erguida (Wilson jamais recorreria a uma metáfora como essa, mas, enfim, este resenhista não é Wilson...). Assim, antes de ser burocrático, o autor opta por um gênero mais derramado e informal, sem se despreocupar com a pesquisa e com a estrutura temática bem encadeada.
A propósito dessa estrutura, cumpre assinalar a maneira como o jornalista recompõe os fatos em ordem cronológica, mas, ao mesmo tempo, subverte a lógica ao contar as respectivas histórias de uma forma pouco ortodoxa. Em outras palavras, as fontes e a pesquisa bibliográfica são respeitadas, porém não existe uma espécie de proibição, muito comum hoje em dia: o politicamente correto. Não que Wilson não seja polido ou, como se costuma dizer, "isento", mas isso se expressava a partir de sua escrita cristalina demais para assuntos tão demasiadamente complexos. Talvez isso fique tão claro justamente porque o autor escolheu abordar a história como se fosse mais um caso jornalístico. Ou seja, sempre à sua maneira, um estilista refinado da palavra, Wilson investe na leitura dos livros e na sua interpretação como se fossem essas as fontes documentais de seu trabalho. Já no que se refere ao testemunho e aos depoimentos, nada melhor do que reproduzi-los, e isso ressalta, no livro, a capacidade de o autor costurar as mais diversas idéias e correntes ideológicas em um discurso bastante articulado.
Amplo painel
Rumo à estação Finlândia, portanto, busca nos bastidores das revoluções, a começar pela Revolução Francesa, uma explicação da conjuntura da sociedade, com o objetivo de trazer um amplo painel do estado de coisas daquela época. Assim, quando os personagens têm seu perfil traçado, descobre-se, por tabela, a importância de suas respectivas idéias para todo o contexto da época (e da história). Nesse aspecto, é curioso observar a forma como Wilson expõe as análises dos personagens. Um belo exemplo se dá no capítulo 5, quando ele escreve acerca das classes sociais. Operários, empregados, comerciantes, funcionários públicos e, claro, os burgueses ociosos. A disputa "clássica" ali está posta, as outras teorizações ficam de fora, até porque o jornalista conta uma história e não se prende às divagações sem sentido. Adiante, quando fala de Karl Marx, ele é, no mínimo, perspicaz ao descrever seu gênio. Diz, entre outras coisas, que o autor de O capital é o "poeta das mercadorias" e que a força de sua grande obra se deve não só pela capacidade literária, mas também à combinação de várias técnicas de pensamento distintas. É nesse aspecto que ele ressalta o fato de Engels e Marx terem criado uma obra pertence ao socialismo científico, um passo adiante do chamado socialismo utópico, que também é analisado no livro.
Em outras palavras, é bastante correto afirmar que Edmund Wilson não foge da teoria para contar a história, contudo, ao contrário do que se poderia imaginar, ele não usa a teoria como escudo para uma eventual narrativa árida e sem sabor. Em vez disso, segue uma máxima: o saber tem sabor. E é com sabor que apresenta nomes e autores tão variados quanto interessantes. Pela ordem, Vico, Michelet, Renan, Taine, Anatole France. Em seguida, Saint Simon, Engels, Marx, Lassalle. E, por fim, Lenin e Trotsky. Fala-se muito das personagens, mas os livros abundam nesse estudo sobre a história. E os leitores absorvem a informação como se fosse um romance. Nota-se, a propósito, que o próprio autor compara o estilo de Michelet ao que, anos mais tarde, Proust desenvolveria em seus romances. Com efeito, é Edmund Wilson que dá continuidade à sua obra com uma fluência que procura alçar a narrativa histórica à categoria de melhor prosa romanesca. Em certa medida, não é absurdo afirmar seu êxito.
Certamente, um livro como Rumo à estação Finlândia não se encerra em si mesmo. Melhor dizendo, não se trata de uma leitura definitiva sobre as teorias revolucionárias. Antes disso, pode-se afirmar que a obra pretende, e nesse aspecto cumpre muito bem seu papel, ser um livro de história para não-iniciados. Nem por isso, contudo, o livro faz concessões didáticas, a fim de tornar o conteúdo mais explicativo - não há fotos, desenhos, infográficos, quadros (aliás, a edição de bolso mereceria ser um pouco mais caprichada). Ainda assim, o texto de Edmund Wilson supera essas vicissitudes e atinge um quilate literário que poucas obras do gênero conseguiriam - muito tempo antes que outro grande historiador, Eric J. Hobsbawm, dissecar o século 20, com o também monumental Era dos extremos. Por tudo isso, ao final do livro, a única dúvida que permanece é a seguinte: como uma obra desse porte pôde ficar tanto tempo esquecida, a despeito do seu sucesso de vendas. Escrevo "esquecida" porque poucos, na academia e fora dela, citam Edmund Wilson e seu Rumo à estação Finlândia com o devido mérito. Talvez seja o fato de seu trabalho como crítico literário também ter sido de grande valor, talvez seja o fato de a academia não reconhecer seu trabalho intelectual, posto que era, "apenas", jornalista. De todo o modo, o registro deve ficar: há várias formas de se contar uma história, porém nem todos têm talento e discernimento para contar os detalhes que fazem a história. Edmund Wilson é uma dessas exceções.
Sobre o autor
Edmund Wilson nasceu em Red Bank, Nova Jersey, em 1895, e morreu em 1972. Personagem decisivo na vida intelectual norte-americana, esteve entre os primeiros a saudar autores como Joyce, Fitzgerald e Hemingway. Além de Rumo à estação Finlândia, Edmund Wilson escreveu O castelo de Axel; Os anos 20; e Os manuscritos do Mar Morto.
• Trecho de Rumo à estação Finlândia
A grande realização de Karl Marx, O Capital, é uma obra única e complexa que exige um tipo de análise diferente da que costuma ser aplicada a ela. Quando estava trabalhando no primeiro livro, Marx escreveu a Engels (em 31 de julho de 1863) que, quaisquer que fossem as limitações de seus escritos, eles tinham "o mérito de constituir um todo artístico". Em sua carta seguinte, datada de 5 de agosto, diz que seu livro é uma "obra de arte" e menciona suas "considerações artísticas" ao explicar por que está demorando para terminá-lo. Sem dúvida, em O Capital entraram tanto considerações artísticas como científicas. Contém um tratado de economia, uma história do desenvolvimento industrial e um panfleto inspirado em sua época; nessa obra, a moralidade, que por vezes é deixada de lado em benefício da objetividade científica, não é sempre coerente, nem a economia é coerentemente científica, nem a história é isenta de arroubos inspirados por uma visão apocalíptica".
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LENIN - RESUMO BIOGRÁFICO:
Origens - Nascido Vladimir Ílitch Uliánov em 22 de abril de 1870 no calendário juliano, adotou posteriormente o nome de Vladimir Ilitch Lenin . Seu pai, Ilia Uliánov, foi inspector das escolas da província de Simbirsk. Homem extremamente religioso, apoiava as reformas de Alexandre II e aconselhava os jovens a não cairem no radicalismo. Durante a vida de Lenin, sua origem nobre foi largamente ignorada; foi apenas quando Stalin desejou realizar uma mitologização de Lenin como um ente semidivino e fonte da legitimidade do seu próprio poder, que os problemas começaram. Segundo Orlando Figes e outros, esta origem nobre foi uma fonte de embaraço para os biógrafos stalinistas, que escolheram ressaltar, entre os antepassados de Lenin, seu avô paterno, Nikolai Uliánov, filho de um servo, que trabalhou como alfaiate em Astrakhan, no Volga. Apenas Nikolai era em parte calmuco (e sua mulher Anna, completamente — Lenin tinha feições claramente típicas dos mongóis) e isso era inconveniente para o nacionalismo grão-russo do regime stalinista. Sob este ponto de vista, os antepassados de Lenin do lado materno eram-lhe motivos de ainda mais constrangimento. Maria Alexandrovna, sua mãe, era a filha de Alexander Blank, um judeu converso, que se fez médico e dono de terras em Kazan. Ele era filho de Moiche Blank, um comerciante judeu de Volínia, que casou com uma sueca chamada Anna Ostedt. Os antepassados judeus de Lenin foram sempre ocultados pelo regime stalinista; quando foi sugerido a Stalin, por Anna Uliánov em 1945, que tais fatos pudessem ser usados para combater o anti-semitismo, Stalin ordenou que "nenhuma palavra" fosse repetida sobre isso
Juventude
De acordo com Orlando Figes: "Ao contrário do mito soviético segundo o qual Lenin ainda de fraldas já era um avultado teórico do marxismo, o líder da revolução bolchevique entrou relativamente tarde para a política. Com 16 anos de idade ele era ainda religioso e não mostrava qualquer interesse na política. No liceu em Simbirsk, as suas principais cadeiras foram filologia clássica e literatura".
Por ironia do destino, o director do liceu de Simbirsk onde Lenin estudou foi Fiodor Kerenski, pai do futuro rival de Lenin, e que escreveu em 1887 (último ano de liceu de Lenin) um relatório exemplar sobre este jovem: "Religião e disciplina foram a base da sua educação, cujos frutos se tornam claros nas suas excelentes maneiras".
Ao terminar o liceu, nada indicava que Lenin se viria a transformar num revolucionário. Orlando Figes: "tudo indicava antes que ele iria seguir os passos do seu pai e fazer uma excelente carreira na burocracia czarista".
E ainda Figes: "Na sua juventude (Lenin) era orgulhoso de se poder designar como "filho de um nobre". Uma vez descreveu-se mesmo na polícia como "Vladimir Ulyanov, de nobre família". Após a morte de seu pai, sua família vivia confortavelmente dos arrendamentos e das vendas dos terrenos de sua mãe. No entanto, ele, como tantos outros jovens promissores de classe média da época, acabaria por alienar-se do regime czarista devido à severidade com que este agia para banir elementos tidos por politicamente suspeitos.
O irmão
O irmão mais velho de Lenin, Alexandre Uliánov, ainda com 21 anos, um estudante em São Petersburgo, envolveu-se no grupo de extrema esquerda Pervomartovtsi e foi um dos cúmplices numa das muitas tentativas de assassinar o Czar Alexandre III da Rússia. Foi condenado à morte em 1887. Isto teria grandes consequências para o irmão, que se radicalizaria nos anos seguintes.
Estudos de direito em Kazan
Nesse ano de 1887, Lenin, com 17 anos de idade, foi estudar direito em Kazan. Ali, logo tomou contacto com um outro grupo de revolucionários moldados no Vontade do Povo. Ainda nesse ano, foi preso, juntamente com outros, numa manifestação de estudantes movida por reivindicações de cunho estritamente acadêmico. Como consequência, foi-lhe proibida a continuação dos estudos. Em 1890 foi readmitido na Universidade, porém apenas como estudante "externo" autorizado a prestar exames anuais, mas não a freqüentar a universidade.
Doutrinação
Foi nestes anos que Lenin se tornou um marxista. Sua primeira grande paixão revolucionária, no entanto, foi Tchernichevski e em particular sua obra Que fazer?, que o "converteu" definitivamente ao ideal revolucionário, anos antes de ter lido Marx. A obra de Tchernichevski falava da criação de um "novo homem" russo através da auto-disciplina e da auto-estilização, capaz de superar o que o senso comum da época considerava serem os traços comuns da "alma" russa, a passividade, a melancolia e o alcoolismo.
Em Lenin, nos seus primeiros anos de marxista, existe uma convicção de que o desenvolvimento capitalista da Rússia seria uma pré-condição necessária do socialismo, na medida em que apenas a modernização industrial da Rússia, o desenvolvimento da disciplina associada à generalização do trabalho industrial assalariado, seriam capazes de elevar a consciência política do povo russo a níveis tais que tornassem possível a derrubada da autocracia czarista e a constituição de uma república democrática - contrariamente às teses dos populistas, que consideravam que o socialismo russo se desenvolveria nos quadros da comuna camponesa tradicional. Esta associação da modernidade ao capitalismo industrial, no entanto, não era uma idéia original de Lenin. Já encontrava-se nas obras do fundador do marxismo russo, Plekhanov, ao qual ele se associaria no seu primeiro exílio, no início do século XX, como redator do jornal da emigração marxista (social-democrata) russa no exílio, o 'Iskra' (centelha).
A originalidade de Lenin manifestar-se-ia na discussão sobre os estatutos do Partido Operário Social Democrata Russo, em 1903, quando do segundo congresso deste partido, no qual Lenin argumentou pela constituição de um partido centralizado e dirigido por intelectuais com intensa formação teórica marxista, em oposição à tese de um partido organizacionalmente frouxo, que limitasse-se a se enquadrar à atividade sindical do movimento operário. Para Lenin, a mera agitação sindical, desprovida de uma base doutrinária voltada para o socialismo, acabava por reduzir-se a reivindicações parcelárias por maiores salários e menos horas de trabalho, que aceitavam a exploração capitalista enquanto tal, visando apenas minorá-la. Para que tal agitação levasse à refundação socialista da sociedade burguesa, seria necessário a existência de marcos teóricos claros, associados não apenas aos interesses específicos da classe operária, mas de todas as questões sociais, políticas, culturais, religiosas etc., referentes à situação concreta da sociedade como um todo. Neste sentido, a consciência socialista, que os sindicalistas supunham ser um traço ontológico da classe operária, para Lenin só poderia chegar à mesma classe operária 'de fora' dela mesma, mediante o trabalho teórico e de agitação de intelectuais de classe média
Guerra Civil
Dmitri Volkogonov afirma que durante a guerra civil Lenin ordenou a seus comandantes o fuzilamento de transgressores por uma ampla variedade de crimes, como participação em conspiração, resistência à prisão, ocultamento de armas, desobediência, comportamento atrasado, atuação descuidada e falsos testemunhos, contribuindo, com suas ordens e instruções, para exacerbar a crueldade.
O terror
Dmitri Volkogonov também afirma que a idéia do sistema de campos de concentração (os Gulags), e os terríves expurgos dos anos 30, são normalmente associados ao nome de Stalin, mas o verdadeiro "pai" dos campos de concentração bolcheviques, as execuções, e o terror em massa, era Lenin. Nos antecedentes do terror implantado por Lenin, se torna fácil entender os métodos inquisitoriais de Stalin, o qual era capaz de executar alguém apenas baseado em suposições.
O Terror Vermelho era crucial na luta de Lenin pelo poder, segundo Anne Applebaum[6], e os campos de concentração eram cruciais para esta política. Eles foram mencionados no primeiro decreto do Terror Vermelho, que demandava a detenção e prisão de importantes representantes da burguesia, donos de terras, industriais, comerciantes, padres contra-revolucionários, e oficiais anti-soviéticos, e estabelecia o seu isolamento em campos de concentração.
Críticas
A principal crítica feita contra Lenin, inclusive por alguns setores da esquerda, é em relação à sua suposta participação na construção do Estado policial autoritário nos primórdios da União Soviética[carece de fontes?], processo este que mais tarde foi seguido e aprimorado por Stalin. Outros sectores baseiam-se na conquista de liberdades que se seguiu à vitória bolchevique (autodeterminação, distribuição de terras aos camponeses pobres, leis do divórcio e do aborto, liberdade de criação artística, etc) para situar a ruptura ditatorial com essa dinâmica precisamente na morte de Lenin e a consolidação do poder da burocracia.
Na primeira visão, afirma-se que em maio de 1919, 16 mil pessoas foram confinadas em um antigo campo czarista de trabalhos forçados chamado Katorga, e que em setembro de 1921 foram enviadas mais de 70 mil.
Outros dados sem documentar falam de entre 50 mil a 200 mil execuções sumárias de "inimigos da classe" durante o regime de Lenin[carece de fontes?]. Durante a Guerra Civil, em 1918, seriam executados o Czar Nicolau II e toda a família imperial, sob suas ordens. Destaca-se também a repressão à revolta dos marinheiros de Kronstadt (Março de 1921), que resultaria na morte e na deportação de milhares de marinheiros. Os factos são controversos, já que também do lado bolchevique houve 10.000 vítimas no confronto com os alçados de Kronstadt. Segundo grande parte de seus muitos defensores, como o norte-americano John Reed ou o belga Victor Serge, biógrafo de Lenine, o seu papel de organizador e director da primeira revolução proletária triunfante não impediu que tentasse evitar "a efusão de sangue" no caminho à vitória. Victor Serge, vítima da repressão stalinista e testemunha directa do processo revolucionário e exilado da URSS em 1936, exculpa explicitamente Lenine pela deriva repressiva e reconhece a sincera entrega da velha guarda bolchevique à causa da revolução mundial. Reconhecendo erros no Partido Bolchevique, apoia a experiência revolucionária russa, se bem que afirme que as novas lutas anticapitalistas deverão assumir novas formas no futuro.
Lenin e a revolução jamais lançada
Na Suíça, Vladimir Ilitch Ulianov – conhecido como Lenin – preparou a Revolução Russa e seu lugar na História do século XX.
Mas o revolucionário fracassa na sua terra de asilo, tentando em vão convencer os “camaradas” suíços da necessidade de uma insurreição proletária.
“Não sou desertor nem refratário, sou um exilado político”, declara Lenin às autoridades suíças quando chega ao país em 1914. Ele consegue então refúgio na Suíça sem muita dificuldade.
Acompanhado pela esposa, Nadia Krupskaia, Lenin instala-se primeiro na tranqüila e burguesa cidade de Berna.
Como chefe do partido bolchevique, na época minoritário entre os revolucionários russos, ele procura contatos com políticos suíços da esquerda, que, no entanto, preferem evitá-lo.
O historiador Willi Gautschi realça, por exemplo, que os parlamentares federais Naine e Graber não acharam tempo para se encontrar com seus emissários. Motivos invocados? Estão muito ocupados com pesca ou com a limpeza de roupa...
A esquerda de Zimmerwald
As idéias do agitador russo também não encontram terreno fértil nas duas conferências secretas – Zmmerwald (1915) e Kiental (1916) – das quais participam dissidentes da esquerda européia que se opõem às opções dos partidos oficiais.
Em 1914, os diferentes partidos socialistas europeus haviam, de fato, decidido apoiar o esforço de guerra solicitado pelos respectivos governos. As conferências de Zimmerwald e de Kiental encerram-se, no entanto, com um apelo à paz e ao despertar da unidade proletária.
Lenin, que participa das duas conferências, teria desejado uma alternativa: tirar proveito da “guerra imperialista” em marcha, para concretizar uma “revolta armada contra o capitalismo”.
Mas essa linha dura defendida pelo líder russo é minoritária. Lenin, o idealista, deve contar principalmente com o pragmático e influente socialista bernês Robert Grimm. Mais tarde, desiludido com os “sócio-pacifistas suíços”, Lenin o qualificará de “canalha insolente”.
Entre salsichas e revoluções
Em fevereiro de 1916, ele recebe autorização para se instalar em Zurique para poder trabalhar na redação de alguns livros na biblioteca central. É no local que termina, em particular, O imperialismo, estágio supremo do capitalismo.
Por 24 francos por mês, ele subloca dois quartos na Spiegelgasse 14, num bairro animado na parte antiga da cidade de Zurique. Ironia da História, é no n° 1 da mesma rua que surge na época o movimento dadaísta (no mítico Cabaret Voltaire)
Essa rua estreita e pavimentada acolhe portanto, lado a lado, os germes de duas revoluções, uma política e outra artística.
“Zurique nos agrada muito, escreve Lenin à sua mãe. O lago é magnífico”. O revolucionário caminha com freqüência pelas margens do lago com a esposa.
O quadro da Spiegelgasse não é, porém, tão idílico. “Há no pátio um horrível cheiro procedente da uma fábrica de salsicha, escreverá Nadia nas memórias. Só podemos abrir as janelas à noite”.
Mudança para Zurique
Mas é político o verdadeiro motivo de mudança para Zurique. Lenin sonha com uma revolta armada, igualmente possível na Suíça.
O líder russo continua tentando criar em volta de si um grupo de fiéis capazes de defender seu pensamento. Mostra-se, no entanto, prudente e procura não atrair as atenções das autoridades para evitar expulsão do país.
Os socialistas zuriquenses, entre os quais Fritz Platten e Willi Münzenberg, são mais radicais e mais resolutos que seus colegas berneses. E, portanto, espera Lenin, mais receptivos às suas idéias.
O futuro pai da Revolução Russa torna-se, então, membro do Partido Socialista de Zurique e participa assiduamente às reuniões. “Ele chegava cedo e sempre se sentava na primeira fila, escreverá o socialista Beat Nobs, em 1954. Fazia parte dos ouvintes mais atentos, mas jamais tomou a palavra”.
Na sombra, Lenin continua a praticar o proselitismo. “Ele ficava contente como uma criança quando a gente lhe dizia que ele tinha conseguido convencer sete jovens proletários a entrarem na sua organização”, escreve seu companheiro Georg Zinoviev.
Mas não adiante e, em 1917, Lenin dá os primeiros sinais de resignação. “A esquerda foge de mim, em Berna ou em Zurique”, realça em algumas cartas.
Regresso triunfal à Rússia
Pouco tempo depois, desaparece o interesse de Lenin pelos “pequenos” acontecimentos suíços. Em março de 1917, ele fica sabendo, de fato, que uma nova revolução havia estourado na Rússia.
Com a ajuda de líderes da esquerda suíça, consegue autorização para atravessar a Alemanha de trem para voltar a St. Petersburgo (futura Leningrado). Ele deixa a Suíça definitivamente em 9 de abril de 1917.
O resto é conhecido. Seis meses mais tarde, triunfa a Revolução de Outubro e a entrada de Lenin na História mundial.
Numerosos historiadores estimam que se as teses leninistas que seduziram a Rússia tivessem vingado na Suíça, a greve geral de 1918 ter-se-ia transformado em conquista armada do poder pelo proletariado suíço.
E hoje, falar-se-ia também de uma Revolução de Novembro suíça. Mas isso não passa de pura ficção.
swissinfo, Marzio Pescia (Tradução e adaptação de J.Gabriel Barbosa)
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenin
http://www.swissinfo.ch/por/especiais/gente_famosa/"