RÉQUIEM (CONTO)
Por Margarete Hülsendeger Em: 15/11/2010, às 10H03
Eu te odeio!
Queria poder gritar essas palavras bem alto no teu rosto. Esquecer que um dia te conheci. Deixar tudo para trás. Mas é impossível. Nada poderá ser o mesmo novamente, pois mesmo te odiando, também te amo. Muito. Desesperadamente.
Lembro da primeira vez que te vi. Não encontrei nada que me atraísse. Eras até um pouco desmazelada. Enquanto as outras - todas as outras - se tornavam bonitas apenas pelo prazer de estar comigo, tu nem um batom usavas. Nossos beijos sempre tiveram gosto de carne e saliva. No início, acreditava que era modéstia, simplicidade tua. Tolo. Hoje sei: modéstia nunca foi uma das tuas qualidades. Fazias assim porque não querias te revelar, tinhas medo de te pôr a perder. E pensar que o meu único desejo sempre foi que te perdesses em mim.
E agora? O que vou fazer com esse misto de ódio e amor que me consome e enlouquece? Não me deixaste nada! Transformei-me em um monte de destroços, sem nenhuma serventia. Para meu desespero, continuo a te querer. Preciso dos teus lábios sem batom junto aos meus. Sempre.
Quando te conheci, pensei: “Que pessoinha bem insignificante”. Como pude me enganar tanto? Na verdade, hoje percebo, o insignificante sempre fui eu. Apenas eu. Enlouquecia, quando te afastavas gritando: “Preciso de espaço”. “Que espaço?”, eu me perguntava. Não conseguia compreender. Ainda não consigo. Atento, sempre observei teus mínimos gestos e palavras, tentando adivinhar teus desejos e aflições. Quando me rejeitavas eu entendia, ou, pelo menos, procurava te entender. Nunca te forcei a nada. Sempre vivi em função do teu tempo, jamais do meu. Emprestei minha vida para ti.
Dizes que te sufoco e te aprisiono. Mentirosa! Sempre fui eu o teu prisioneiro. Eu. Apenas eu. Nunca abriste mão da tua liberdade. Teus amigos. Tua casa. De meus amigos hoje nada sei. Minha casa é onde estás. Minha liberdade nunca teve significado se não estavas junto a mim. E dizes, agora, que não me amas?
Não me olhes assim. Não suporto esse teu olhar de acusação. Se alguém deve acusar, esse alguém sou eu. Tornaste-me um nada. Passei a viver à tua sombra, sempre esperando que pudesses me ver da maneira como eu sempre te vi. Amei-te. Não. Amo-te. Como louco. Sinto a loucura tomando conta de mim. E, agora, ousas dizer que não me amas? Vagabunda!
Se eu pudesse te arrancar de dentro do meu peito e da minha mente, eu o faria. Agora. Nesse instante. Mas não posso. Sei que se o fizer estarei terminando com o meu próprio mundo. Um mundo que acreditei também fosse o teu.
Amada! Escuta. És minha. Sempre serás minha. E eu sempre serei teu. Eternamente. Compreende isso e me deixa continuar te amando.
Não. Volta! Não quis te magoar. Nunca. Preciso de ti. Por favor. Não me vires as costas. Vou morrer se não estiveres ao meu lado. Eu já estou morrendo. VOLTA!
Não me deixes. Não suporto te perder.
Fica. Meu amor.