Regras
Por Maria do Rosário Pedreira Em: 07/05/2014, às 20H19
[Maria do Rosário Pedreira]
Há desde sempre o mito de que o escritor é um ser completamente desregrado, mas são muitos os escritores actuais que partilham com os leitores as regras que os norteiam, desde que Elmore Leonard (recentemente falecido) o fez nas páginas do New York Times. Desta vez, foi a britânica Zadie Smith, autora de livros como Dentes Brancos e do mais recente NW a estabelecer dez pequenas regras para se ser escritor – e a primeira, comum a quase todos os que se dispuseram a contribuir, é a de que, antes de se começar a escrever, é preciso ler, ler muito, gastar mais tempo a ler do que com qualquer outra actividade (presumo que dormir não contará como actividade). Porém, entre os seus conselhos, um dos que mais apreciei foi o de devermos ler os nossos textos como se não fossem nossos, como se fôssemos outras pessoas e, de preferência, pessoas que não gostam assim muito de nós (difícil, não é?). Outra das regras (ah, como concordo com esta!) é a de deixar o que escrevemos a marinar tempo suficiente antes de o editarmos: uma das coisas que mais vejo nos dias que correm é os potenciais escritores entregarem os livros logo que terminam as primeiras versões; além de erros e gralhas desnecessários, há muita incongruência de que eles próprios se dariam conta se tivessem sabido esperar. Também me pareceu imensamente válida a sugestão de não confundir nunca um elogio com um feito, uma conquista: o facto de alguém ter gostado do que escrevemos não nos deve convencer de modo algum de que fizemos o melhor de que somos capazes. Por último, adorei um conselho que poucos autores que conheço seguem: o de trabalhar num computador sem Internet