REFLEXÃO DE ADVOGADO
Por José Fortes Em: 06/03/2010, às 23H58
Por Marleide Matos Torquato
São três vertentes e três forças que se entrelaçam construindo uma nova civilização. A modernização limita o espaço do homem. Esse é medido em suas potencialidades por tecnologia avançadas redutoras do mercado de trabalho e eqüidistante do ser.
As informações, ainda, não totalmente explorada, são estocadas e computadorizadas, na fria imobilização do produzido. “Como mostrou o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, em sua notável obra O processo civilizatório(1968), as mutações civilizacionais começam a se apresentar pela introdução de novas tecnologias na dialogação das sociedades com o mundo e entre os vários fatores da sociedade. Efetivamente está ocorrendo um processo acelerado de mutação tecnológica. Consideremos alguns passos. Do neolítico até os anos 50, a humanidade conhecia e fazia uso das características da matéria: sua massa e sua energia. A massa foi particularmente investigada e aplicada pela física clássica de Newton e Galileu a partir do século XIX e até meados do século XX”.
A centralidade do trabalho baseada no ser humano muda o seu eixo através das telecomunicações, da biotecnologia.
“O efeito desta mutação sobre as relações sociais de trabalho são diretas: dispensação continuada e irrecuperável da força de trabalho e exclusão crescente da participação humana no processo de produção. Estamos inaugurando uma sociedade informacional em grande escala e automatizada de forma crescente. A economia muda. Ela não é mais dominada pela escassez e raridade das matérias primas mas pela reprodutibilidade de bens e serviços a custos baixíssimos. As mutações são de tal ordem que significam muito mais do que uma nova revolução industrial dentro do paradigma convencional de desenvolvimento. Por exemplo, a informatização produz grande crescimento quantitativo sem gerar empregos, pior ainda, destruindo empregos em setores importantes da indústria, da agricultura e dos serviços. Ela mais e mais prescinde do trabalho humano”.
Assistimos, calados, talvez omissos, o grande número de bacharéis em ciências jurídicas entrando no “mercado” de trabalho. Vislumbramos o primado do quantitativo sobre o qualitativo. O privilegiado capital, os novos meios de produção sobre a pessoa humana trabalhadora. A predominância do material dilapidando as forças humanistas.
“Na atualidade está se formando outra concepção da vida: o papel da pessoa na sociedade, ou melhor dito, no espetáculo da sociedade, é mais importante do que o trabalho. Por isso as atividades sociais, de representação, de diversão, de espetáculo são os mais importantes. Para um empresário, mais importante do que o trabalho são as entrevistas dadas à imprensa e à TV. O trabalho é o meio de acesso a um certo status social, uma figuração. Não vale pelo trabalho, mas pela figuração que permite. No trabalho o que importa não é a produção; mas o prestígio que confere, a iluminação que dá ao sujeito na sociedade” ( “Sinais dos tempos no final do século XX”. In: vários, vida, clamor e esperança, Loyola, São Paulo, 1992,pp. 31-41, aqui 34).
Não apoiamos o assistencialismo primário, mas a defesa do mercado de trabalho digno para o advogado. Não precisamos de simulações mas de transparência. A visibilidade ao nosso alcance. Idéias abastratas criam cenários utópicos e sonhos, meramente sonhos. Precisamos de realidade fáctica, gestando novas formas para adaptarmos à nova mutação cultural. A qualificação intelectual do advogado possibilita a garantia de uma produção eficaz para sua não exclusão em todas diversidades típicas e diversidades dolorosas atípicas?
No Brasil a grande massa de advogados percebe, pelo menos, o salário existencial?. Tem seguridade social, aposentadoria, acesso a pós-graduação gratuita em todos os níveis, etc.?
A sobrevivência de cultos operadores do direito depende da cotidiana correria pelas escadarias rústicas dos fóruns, localizados em diversos pontos das cidades, a busca incessante por autos dos processos, o acompanhamento do cliente com olhar de sutil ou ostensiva desconfiança, a esperança pela atenção de poucos juizes para milhares de processos. Essa vida da maioria dos advogados de hoje, dominados pelo império da lei draconiana e na luta pela sobrevivência.

