Quem tem dúvida – ou não sabe o que é certo -, não erra. Peguei-me pensando nessa alocução que, ou ouvi, ou me acorreu em sonho, e, a despeito de não ser detentor de profundos estudos em hermenêutica nem filosofia, tomei-a por interessante observação.

                A frase veio à tona ao tomar conhecimento dos atos ou fatos sobre os quais, já, já, arrazoarei. O primeiro é este: profissional que lida com as palavras e sua justaposição contextual, dia desses, em texto que li, disse que BRICS seria um anacrônico de Brasil, Rússia, Índia, China e South (África do Sul). E não é. Uma acrografia, uma abreviatura, um anagrama, mas jamais um anacrônico. Se duvidou ou lhe faltou certeza a respeito do que iria afirmar, ao colocar a expressão no papel, arriscou, mas não errou, pois imaginou a possibilidade de estar certo. Errou, se não teve dúvida ao escrevê-lo. Um acrônimo, sim, anacrônico, nunca, uma vez que o termo, em toda a escrita, não se prestou a conceituar um anacronismo, ou seja, uma falta contra a cronologia; não foi utilizado para discorrer sobre algo não moderno, retrógrado, atrasado ou antiquado.

                Na dúvida estou se a base contextual desse outro caso, dela vim a saber ouvindo-a de alguém ou por meio da mídia.

                Sem nenhum pejo, tampouco, desdém, preconceito ou gozação, é como falaremos do assunto e o queremos ver entendido. De antemão e, ainda que despiciendo, gostaria de dizer que o que pretendo aqui expor são pontos de vista, opiniões, impressões pessoais, conjecturas, intuições, suposições; exercício de liberdade de expressão e pensamento.

                Ao fato. Alguém defendia outrem de estar sendo criticado por ser travesti. Não levara em consideração ou se esquecera o crítico de que a pessoa ofendida, segundo o defensor, era trabalhadora, estudante, cidadã e, por conta disso, merecia respeito. Perfeitamente clara sua colocação: por ser um cidadão, trabalhador, estudante, contribuinte, membro da sociedade, sim; se fosse um indivíduo desocupado, idem; por travestir-se, também.

                Não parece ser somente uma ideia conceitual que o vocábulo passa; etimológica e, mesmo, semanticamente, o termo travesti designa construção, uma produção, uma transformação, não uma concepção; travestir-se é deixar de ser para estar; é mudar a forma, ainda que não mude o modo, de apresentar-se.

                Ninguém está travesti o tempo todo, apenas durante parte dele; todavia, pelo simples fato de ser um cidadão ou cidadã, indivíduo do sexo masculino ou feminino, por essa inata condição, já se faz merecedor de respeito. Por que deixaria de sê-lo quando se traveste, se, mesmo havendo se transmudado ou se transformado em alguém, cuja aparência física pode ser a de sexo que não o seu, geneticamente, manteve a dignidade e o estofo moral?

                Penso que o trabalhador, o estudante, o desempregado; enfim, o indivíduo, a pessoa que opta por se travestir, seja quando o faz voluntariamente, por vontade própria, seja quando é instado a fazê-lo, visa ou tem por objetivo exercer uma ação, como praticar uma arte, uma atividade laboral; ou, simplesmente, dar vazão ou exercitar sua orientação sexual. Enquanto cidadão ou estando travesti, o respeito que lhe deveremos dispensar será o mesmo, a menos que, em uma de essas condições, torne-se indigno de, como tal, ser respeitado.

                Como não tenho dúvida de que não conseguirei fazer de este texto um ensaio de boa profundidade, para não errar, mais, fico por aqui.

           Antônio Francisco Sousa  - [email protected]