[Flávio Bittencourt]
Quem é esse mestre Porfírio?
Ele é um caboclo amazônico, como lembra Roberto Carvalho de Faro, administrador e escritor que é membro da Academia Paraense de Letras, desde 2004, onde ocupa a cadeira cujo patrono é Paulino de Brito (aquele autor do famoso poema "Rio Negro")
"VOA CONDOR, QUE A GENTE VOA ATRÁS! "
(OSWALDO MONTENEGRO, verso de música
de sua talentosa autoria)
"COLOQUEI UM GLOSSÁRIO DEPOIS DE TER REPRODUZIDO,
NESTA MESMA COLUNA DO ENTRETEXTOS, UMA CRÔNICA -
SOBRE OS ÍNDIOS AMAZÔNICOS DENOMINADOS MURA -
DE U. BITTENCOURT; EIS QUE NO DIA SEGUINTE, POR
COINCIDÊNCIA, LOCALIZEI, NA WEB, BUSCANDO
CONTOS AMAZÔNICOS DE VALOR, UM ARTIGO DE
ROBERTO CARVALHO DE FARO, DA ACADEMIA
PARAENSE DE LETRAS, COM VÁRIOS VOCÁBULOS
'dicionariamente' EXPLICADOS, AO FINAL, VALE DIZER,
OUTRO GLOSSÁRIO, sendo que as palavras que integram
o referido "microdicionário" (o último citado acima) são
as seguintes: jaburu, curumim, parava, tracajá, tufados,
tope, envira, entaniçar e malinar, tal como o referido
autor significacionalmente as explica, para os
não-amazonólogos leitores [QUE, A PROPÓSITO,
VIA DE REGRA CONHECEM UM OU OUTRO TERMO
'glossariamente' DEFINIDO]"
(COLUNA "Recontando...")
O JUBURU (ave um tanto "feiosa")
EM PLENO (belíssimo) VOO:
(http://www.conexaomaringa.com/corptext.php?id=1914&autor=Roberto%20Carvalho%20de%20Faro&item=contos&menu=Contos&mes=8&ano=2008)
"NO ENTENDIMENTO DO POETA PAULINO DE BRITO,
O RIO NEGRO É TENEBROSO;
PARA NÓS, O RIO NEGRO É APENAS
ESCURO, SEM CHEGAR A SER TRISTE
E SOMBRIO, COMO ALEGRE PODE SER
PERCEBIDA UMA XICRINHA DE QUENTÍSSIMO CAFÉ,
UM GELADO COPO DE GUARANÁ NATURAL, OU ATÉ MESMO
UMA GARRAFA (em formato que lembra as curvas de
um violão) DE COCA-COLA, se não parecesse
um merchandising gratuito citar aqui marca de fantasia
de refrigerante ianque, que sem anúncio, nem nada, já vende
muito, e, felizmente, co-patrocina o Festival Folclórico
de Parintins, Estado do Amazonas, Brasil"
(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")
"Na terra em que nasci, desliza um rio
ingente, caudaloso,
porém triste e sombrio...
Como noites sem astros, tenebroso;
qual negra serpe sonolento e frio,
parece um mar de tinta, escuro e feio.
(...)"
(PAULINO DE BRITO, início do
belo e sombrio poema
"RIO NEGRO",
http://www.bv.am.gov.br/portal/conteudo/serie_memoria/81_paulinho.php)
PAULINO DE BRITO:
(http://www.bv.am.gov.br/portal/conteudo/serie_memoria/81_paulinho.php)
HOMENAGEANDO A MEMÓRIA DO SAUDOSO AMIGO
REGES PADRON, ARQUITETO E CINÉFILO RECENTEMENTE DESAPARECIDO,
QUE PRODUZIU, ESPECIALMENTE PARA O ENTRETEXTOS, UM ARTIGO
SOBRE A ELABORAÇÃO DO PROJETO URBANÍSTICO DA
CIDADE DE GOIÂNIA (CAPITAL DO ESTADO DE GOIÁS, BRASIL)
[http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/o-homem-que-projetou-goiania,236,5194.html ("O homem que projetou Goiânia"), artigo de 3.12.2010],
E TAMBÉM REVERENCIANDO:
O POVO DO RIO GRANDE DO SUL (onde Reges nasceu), O POVO
DO ANTIGO ESTADO DA GUANABARA (para onde Reges migrou para estudar
e se formar em Arquitetura), O POVO
DO ESTADO DE GOIÁS, CUJO PROJETO DE CONSTRUÇÃO DA CAPITAL ERA OBJETO
DA REFLEXÃO DO MUITO CULTO E INTELIGENTE REGES, E O POVO
DE BRASÍLIA (onde Reges dediciu viver, depois de alcançar a maturidade)
31.10.2011 - Mestre Porfírio é um caboclo amazônico, como lembra Roberto Carvalho de Faro - Mas quem é, exatamente, esse Mestre Caboclo da Amazônia? (NA ACADEMIA PARAENSE, CARVALHO DE FARO OCUPA A CADEIRA Nº 34, CUJO PATRONO É PAULINO DE BRITO, o construtor do célebre poema "Rio Negro".) F. A. L. Bittencourt ([email protected])
ROBERTO CARVALHO DE FARO
ESCREVEU E O site CONEXÃO MARINGÁ
DIVULGOU:
"CONTOS
CASOS DO MESTRE PORFÍRIO
Quem é esse mestre Porfírio?
Mestre Porfírio, caboclo do âmago da Amazônia, fazendo papel de guia turístico, já que passeia com o leitor pelas brenhas misteriosas e encantadoras da Hiléia, conta com peculiar propriedade, histórias curiosas e típicas do seu repertório, nas quais toma acento como protagonista. Daí emprestar aos relatos inquestionável autenticidade, ainda que pareçam absurdas fantasias.
O fato é que, já a partir deste primeiro fascículo de uma série de cinco, o Mestre envolve e extasia o ouvinte com suas aventuras quixotescas, num cenário maravilhoso de rios, lagos, igapós, várzeas, tesos e florestas da invejável Amazônia, num linguajar despojado e cativante de um autêntico ribeirinho do Baixo-Amazonas.
VOANDO COM ASAS DE JABURU (1)
— Uma vez, mestre Porfírio, me disseram que o senhor voou com as asas dum jaburu, é verdade mesmo? — perguntou o Zeca da Brígida.
— Quem lhe contou essa história, seu Zeca, faltou com a verdade. O caso não se deu assim. Eu não cheguei a voar. Acho que já falei aqui que, quando eu era curumim(2), parava(3) com meu padrasto, que era vaqueiro do seu Lucas, na fazenda Santa Rosa, lá no Curiá. Não falei? Pois foi justo nessa época que esse caso se sucedeu. Mas antes de começar eu queria saber se quando vocês eram meninos sonhavam que saíam voando por aí como um pássaro?... Tá vendo? Sonhavam, não é? Pois então, eu também sonhei e não foi uma, nem duas vezes. No sonho do nosso caso, eu trepava numa cerca, dava um impulso e lá tava eu avoejando a modo um gavião. Me lembro benzinho, como se fosse hoje. Nessa manhã, eu tinha acordado, muito impressionado com as diabruras que eu fazia lá no alto, no meu sonho. Aí me mandaram pegar o cavalo no pasto. Ora, cavalo de menino só podia ser o Paredão. Era pra levar uma saca de ovo de tracajá(5) pra dona Joana, mulher do seu Pedro Dantona, que era pra ela fazer uns tufados(6). Justiça seja feita! Só a dona Joana sabia fazer tufado de ovo de tracajá daquele jeito em toda aquela redondeza. E lá praquelas bandas, quando chegava o verão, dava era ovo em grande quantidade. A fazenda do seu Pedro Dantona era perto da Santa Rosa. A sede ficava bem no alto de uma ponta que era só um pedral e o curral ficava justo na frente da casa, dando já pro precipício. Pois é, ligeiro como eu era, montei no cavalo e fui fazer a entrega. Depois de cumprida a obrigação, aproveitei a viagem e fui prosear com os filhos do vaqueiro de lá. Eu me dava mais com o Tonico porque ele era, a bem dizer, do meu tope(6). Os outros já eram mais velhos. Então comecei a contar pro Tonico que a gente também podia voar. E pra mim, podia mesmo! E ele, acreditando. Nessa hora, vem subindo do porto o Fabiano, irmão dele, carregando um teba dum jaburu que ele tinha caçado. Botei o olho no pássaro e o pensamento foi rápido. Ora, se sem asa eu já voava que nem um gavião, que dirá com aquela besta asa! Então perguntei pro Fabiano: “Fabiano, o que tu vai fazer com a asa do jaburu?” E ele respostou: “Nada! Pra que já que eu ia querer?” Aí me animei e pedi pra mim. Ele, na mesma hora, pegou a faquinha, cortou a asa bem na junta e me deu. E, muito curioso, quis saber o que eu ia fazer com ela. “Voar, Fabiano! Pra que mais serve a asa?” Aí o Tonico ficou todo influído e quis voar também. “Tá bem — eu disse — sendo assim, tu vai primeiro”. O Fabiano arrumou umas cordinhas de envira(7) e nós entaniçamos(8) bem as duas asas nos braços do Tonico. Ele ficou muito engraçado. Parecia um homem-pássaro! E agora? Bem, agora era ajudar o companheiro subir na cerca do curral e, quando eu mandasse, era só bater as asas e voar. Escolhemos o lado que dava pro pedral porque tinha mais altura. Com muita dificuldade, conseguimos botar o Tonico em pé na última vara da cerca e ele escorou a barriga na ponta do esteio. Então eu falei pra ele: “Tonico, presta bem atenção. Eu vou contar até três. Quando eu disser: três e já!, sai do esteio, dá um impulso e vai embora, na direção do lago”. Naquela hora, parece que não tinha ninguém prestando atenção na nossa arrumação de menino. Ainda o Fabiano perguntou: “Porfírio, será que vai dar certo?” “Tem que dá, Fabiano, tem que dá!”, eu respondi e aí comecei a contagem: “um...dois...três e... já!” Então o Tonico saiu da frente do esteio e pulou... Ah, mano velho, foi só aquele grito feio lá pra baixo. Ele se espatifou no pedral de braço aberto por causa das asas. Mais do que depressa nós descemos pra socorrer o coitado que não podia nem se levantar. Tava todo escalavrado. Cara, peito, perna... tudo. Mesmo com pena dele ainda tive coragem de criticar: “Tonico, tu não fizeste com eu mandei. Tinha que bater a asa, rapaz!” Mal acabei de dizer isso, a mãe dele que tinha ouvido o grito, chegou. Por primeiro ajudou a desembaraçar as asas do braço do Tonico, mas depois, quando a gente já tava lá em cima, ela pegou um galho de cuieira e deu-lhe uma baita duma sova, dizque pra ele deixar de ser bestalhão. Eu saí de fininho, na ponta do pé, montei no Paredão e arribei a galope no rumo da Santa Rosa. A mãe do Tonico tinha razão. Menino é bicho besta. Como é que a gente podia acreditar que dava pra voar com a asa do jaburu? Só sendo besta mesmo! Mas eu não fiz com a tenção de malinar(9) com o Tonico. Eu tinha certeza que dava pra voar com aquela asa, isso eu tinha. Só que não deu certo!
GLOSSÁRIO
(1)– JABURU:. comum às aves ciconiiformes, de grande porte, da família dos ciconiídeos, gêneros Mycteria e Jabiru, encontrados em grandes rios, lagoas e pantanais; apresenta plumagem branca, enorme bico negro levemente curvado para cima e pescoço negro, nu e com a base vermelha.
(2)– CURUMIM: menino, criança.
(3)– PARAVA: morava; vivia.
(4)– TRACAJÁ: tartaruga de água doce, da família dos pelomedusídeos (Podocnemis unifilis), encontrada nos rios amazônicos, com cerca de 50 cm de comprimento, carapaça abaulada, pardo-escura, e cabeça com manchas alaranjadas; [Os ovos são apreciados pelo povo amazônico.]
(5)– TUFADOS: biscoitos feitos com ovos de tracajá.
(6)– TOPE: tamanho.
(7)– ENVIRA: fibra extraída de uma árvore da Amazônia que serve para o fabrico de cordas.
(8)– ENTANIÇAMOS: amarramos.
(9)- MALINAR: judiar; maltratar.
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Roberto Carvalho de Faro
O menino nasceu de Maria da Paz, ao meio dia e meia de 30 de agosto de 1940, na sede do município paraense de Faro (Baixo-Amazonas), localizado às margens do rio Nhamundá, afluente setentrional do rio Amazonas e que faz divisa com o Estado amazonense.
Na pia batismal, com água limpíssima e azul do rio Nhamundá, recebeu o nome de Roberto e, no Cartório Flexa Pereira, daquela pequena cidade, seu pai, Marcos Bentes de Carvalho, registrou-o com o assento de Roberto Monteiro de Carvalho.
Sua mãe, depois dele, ainda teve mais seis filhos, vindo a falecer de parto, na fazenda Santa Olímpia (Faro), ao dar a luz ao último rebento, que sobreviveu.
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Em homenagem à sua terra natal, adotou o nome literário de Roberto Carvalho de Faro, para que um nunca se divorcie do outro.
É casado com Adalgisa, de Nova Europa (SP) que lhe deu três filhos (Marcus, Julius e Erika) e estes, por sua vez, lhe deram quatro netos (Sofia, Julius Junior, Juliane e Rafael).
Administrador de profissão, é escritor ficcionista, por diletantismo, dedicando-se aos gêneros romance e conto, tendo recebido vários prêmios literários.
Dentre suas obras destacam-se, os romances: O PEREGUINO DAS ÁGUAS, DEPOIS DA TEMPESTADE e ARRASTADO PELA CORRENTEZA e os livros de contos: A CRIANÇA E AGUERRA, QUE DEUS É ESSE?, CASOS DO MESTRE PORFÍRIO e PRESSÁGIOS & PROMESSAS. E também uma coletânea de poesias TEMPOS LÍRICOS, herdada da fase febril da juventude.
Desde 2004 tornou-se membro efetivo e perpétuo da Academia Paraense de Letras (fundada em 3 de maio de 1900, sendo a terceira mais antiga do Brasil), ocupando a Cadeira n° 34, cujo Patrono é Paulino de Brito. Em deferência ao seu patrono, decidiu adotar todas as escolas do Pará que tenham o nome de Paulino de Brito, nas quais ministra palestras, estimulando os jovens à leitura, e colabora na organização e ampliação de suas bibliotecas."
(http://www.conexaomaringa.com/corptext.php?id=1914&autor=Roberto%20Carvalho%20de%20Faro&item=contos&menu=Contos&mes=8&ano=2008)
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