Cunha e Silva Filho

 

                É claro que a permanência da presidente Dilma Rousseff chegara a um fase clamorosamente inaceitável à situação financeira do país. Inflação crescente, desemprego na casa de milhões, situação extremamente aflitiva das finanças de alguns estados brasileiros (Rio Grande do Sul e, Rio de Janeiro) sucateamento dos serviços da saúde pública, violência calamitosa, escândalos e mais escândalos minando os cofres públicos em consequência da roubalheira via propinas, superfaturamentos e descarados conluios entre o governo e mega-empresários. Para piorar ainda mais os desmandos em que ficaram as finanças do Estado Brasileiro, vieram à tona as chamadas pedaladas fiscais proibidas pela legislação e feitas à revelia da aprovação dos Congresso.
            O dado técnico da improbidade fiscal utilizada pela presidente, a meu ver, não é matéria prima da sua queda do poder, mas um conjunto de fatores que, somados, vão configurar um governo perdulário, esbanjador, excessivamente permissivo com o dinheiro do povo. .Quer dizer, a me ver, foi a quebra de ética, a ausência de decência no trato da coisa pública que levou ao afastamento da Senhora Dilma Russeff.. Se é verdade o que o novo governo recém- instalado anda anunciando à mídia, no que tange à falência financeira do Estado, que até pode haver a possibilidade de atraso de pagamento dos salários do funcionalismo federal, é porque algo muito catastrófico já iria surgir no próprio governo petista. Não me lembro de que, na história dos governos federais tenha havido semelhante possibilidade.  
        Ora, o governo atual, mesmo em grandes dificuldades financeiras, que chegue ao ponto da tragédia de atrasar pagamento dos salários federais, não está isento de culpabilidade imputada ao governo anterior, visto que foi uma das bases aliadas mais sólidas do governo petista. Refiro-me sobretudo ao PMDB. Agora, como ficaria se a situação chegasse a se materializar? As altas autoridades, a começar do presidente, já tiveram aumentos em seus salários e mordomias sempre generosas porque os aumentos são por eles mesmos determinados no poder legislativo e no senado. No judiciário, idem e, no executivo, idem.
          O atual governo já vem anunciando indiretamente por vezes o ressurgimento da CPMF, o aumento de impostos, dos juros, que são já considerados os mais altos do mundo. Ora, estamos numa fase de recessão, de desemprego, mas também estamos em inflação. O custo de vida está muito alto, sobretudo em remédios e alimentos. O transporte de massa é caro. Havendo falta de pagamento para o funcionalismo o federal, como ficarão situações do tipo prestação da casa  própria financiada pela Caixa Econômica? Como um funcionário público federal irá pagar a mensalidade de mutuário se o governo deixar de pagar em dia seus vencimentos? Essa questões, de alta relevância social, é que têm que ser analisadas com rigor e com responsabilidade de quem comanda a vida financeira nacional agora.
     O governo tem que cortar ainda muito mais o número de ministérios, retirando os funcionários desnecessários, os chamados cabides de emprego arranjados por vias do fisiologismo e do compadrio político. O governo atual deve reduzir as mordomias nos três poderes, caso contrário, ficará na mesma regalia do governo afastado.
       Sabemos que, a despeito de todas as falhas, erros e falcatruas do governo anterior, não me parece em absoluto que possamos atingir um quadro aflitivo da máquina do Estado no que concerne aos vencimentos do funcionalismo federal. O de que o atual governo necessita é de baixar os juros shyloquianos, os impostos exorbitantes, os aumentos de todos os produtos determinados pelo próprio governo federal. A fim de arrecadar mais e mais. Por que nunca pensam os governantes em, temporariamente, congelar alguns produtos vitais, dos itens de alimentos e  remédios? Quem sofre com a inflação são os menos protegidos, os pobres e miseráveis. Em seguida, partes da classe média (entendo-se que, no pais, há classes médias e não “classe média” simplesmente).
    Ora, ao anunciar sacrifícios à sociedade, o governo deverá começar pelos altos escalões de privilegiados dos três poderes a fim de dar exemplo de probidade administrativa. No país, nunca houve redução de mordomias dos três poderes, sobretudo de deputados e senadores, ministros, desembargadores, dirigentes de estatais, dos bancos federais etc. Se o Estado Brasileiro está mal de finanças, repito, então cortem-se as mordomias de ponta a ponta.
     Não vivemos numa realeza em que os imperadores ou reis levam vida de milionários à custa da sociedade. Se o atual e incipiente governo quer mudar a fisionomia do país, é preciso refletir sobre todas essas questões de interesse social. E com transparência. Não ajam as autoridades só tecnicamente, mas com o coração e a consciência de dar mostras eficazes de que estão fazendo mudanças para a melhoria da sociedade, sobretudo dos mais necessitados. Sem populismos Sem novos escândalos. Sem propinas. Sem superfaturamentos. Sem novos-ricos. Sem arrivistas. Sem mistificadores. Sem presidentes parvenus às expensas de malversações públicas. Sem envolvidos na Lava-Jato. Sem rapinagens. Sem mentiras perniciosas de campanha para ganhar votos de pascácios ignorantes e de fanáticos, incluindo intelectuais que sonegam de propósito os erros de canalhas e de vendedores de sonhos e simulacros.
     O lema do Brasil que queremos poderia ser esse: ética no governar e respeito aos eleitores. Se não, as mudanças que queremos como povo continuarão sendo apenas palavras de retórica de início de um novo governo que de novo só teria o significante do signo linguístico. O Brasil não precisa apenas de significante - mero som vazio de verdade e de realizações comprovadas. O Brasil precisa do todo do signo: do significado.