Que não seja uma questão de hábito
Por Chagas Botelho Em: 02/12/2023, às 09H53
[Chagas Botelho]
Como é de conhecimento público, e de toda geral, sim, sou corintiano. Pertenço ao bando de loucos que vive a vociferar: “Vai Corinthians!”. No entanto, nesta temporada de 2023, o meu time de coração está um deus nos acuda. Para não dizer horrível. Vai terminar o ano sem título. O caos se instalou dentro e fora de campo. Para completar a penúria, ainda lutamos desesperados contra o rebaixamento. A fase está mesmo feia. E o torcedor, coitado, não merece tamanho sofrimento.
Desapontado com o Corinthians, resolvi apoiar o meu segundo time. Tenho sim, outra opção para torcer. Neste Campeonato Brasileiro, por exemplo, que já está se despedindo, meu amparo é o Botafogo. É o meu lenitivo em decorrência do revés vergonhoso da equipe paulista. Ainda no primeiro turno, o alvinegro carioca assumiu a liderança. Manteve-se firme no topo da tabela. Portanto, logo ergueria a taça de campeão.
Tudo estava perfeito. O Botafogo jogava e ganhava. Chegou a colocar treze pontos na frente do segundo colocado. O mesmo número que o mestre Zagallo, ex-jogador, treinador e botafoguense roxo, exultava em suas inúmeras entrevistas. Porém, meu caro boleiro de plantão, “o torcedor do Botafogo”, diria Nelson Rodrigues, “é o único que, em vez de esperar a vitória, espera precisamente a derrota”. Do nada, o time da estrela solitária, desandou a perder. A amargar derrotas acachapantes.
Em certas partidas, vencia o jogo por 3 × 0, de repente, como uma maldição, levava a virada. Era de bater o desespero. Foi caindo de produção e se distanciando da ponta que lhe sagraria tricampeão nacional. Agora, nos três jogos restantes, a camisa poderosa que imortalizou Garrincha, sofre para permanecer entre os que disputarão a próxima Libertadores. “Há no alvinegro”, de novo Nelson Rodrigues, “a emanação específica de um pessimismo imortal”.
Diante disso, veja a minha situação, caro leitor (a). Sou corintiano, mas gosto do Botafogo, e os dois nada conquistaram neste ano. Que roubada, não? Quanta decepção, tanto pelo lado da garoa como a do verão. E o que dizer sobre este fracasso duplo, hein Nelson Rodrigues? Responda-me: “No dia em que retirarem do torcedor alvinegro o inefável direito de sofrer e, sobretudo, o direito ainda mais inefável de descompor o seu técnico, ele ficará inconsolável”.
Inconsolável é pouco, ilustre anjo pornográfico e torcedor ferrenho do Fluminense, nós estamos é fulo da vida. O que nos resta é chupar o dedo ou um chicabon e ver nossos adversários levantarem a taça. Como refresco, esperamos sinceramente, corintianos e botafoguenses, que em 2024, esse padecimento não se torne um hábito. Embora o pessismo seja o principal jogador de ambas as agremiações futebolísticas.