QUE IMPORTA O AREAL E A MORTE E A DESVENTURA?
Por Rogel Samuel Em: 12/03/2016, às 06H12
                            QUE IMPORTA O AREAL E A MORTE E A DESVENTURA?
Rogel Samuel
                A leitura do romance histórico de Aydano Roriz, «O Desejado», me fez reler a terceira parte da MENSAGEM de Fernando Pessoa.
'Sperai! Cai no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
        O romance me surpreendeu. Em vários pontos. 
O autor diz que o jovem rei era hermafrodita, e por isso não se casou. 
Seu cadáver foi embalsamado em Marrocos, e anos mais tarde resgatado por Felipe de Espanha.
        Oh, tudo é mistério, e não «haverá rasgões no espaço / que dêem para outro lado»...
        Romance intrigante, momentos de rara beleza. Mas volto ao mito. Prefiro o mito. 
        Sou, a meu modo, um sebastianista (mais seria se não fosse, para tanto viver tão curta a vida...). Por isso Camões entregou seu poema a D. Sebastião. 
        O jovem rei, no livro, é rapaz extremamente religioso, pudico, puritano, se delicia a matar porcos na cozinha, a assistir às sessões de tortura, ao suplicio dos condenados. Havia condenados pelos mais extremos e hediondos crimes, como o crime da masturbação, por exemplo.
        A obsessão do rei em matar-mouros lembra certo presidente de nação distante, hoje. Conflito que vem de longe, entre nossa boníssima e caridosa civilização cristã e a dos cruéis árabes pagãos. Mas:
 
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar! 
        Devemos a D. Sebastião o nome da nossa cidade do Rio de Janeiro.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
        Talvez seja Mito.
        Prefiro o Mito.
«No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião».
        

                                                        