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Educar uma pessoa apenas no intelecto, mas não na moral, é criar uma ameaça à sociedade.
Theodore Roosevelt
Há alguns anos um amigo astrólogo me deu de presente o meu mapa astral. Quando da sua leitura e interpretação, fiquei sabendo que, além de ter o sol em Escorpião, meu ascendente era Aquário e minha lua estava em Peixes. Não vou cansar vocês explicando todos os detalhes dessa leitura; no entanto, quero compartilhar o significado de ter a lua na Casa de Peixes.
Segundo esse amigo, a lua nessa casa tem a ver com meu lado maternal e também com a minha escolha profissional. Na verdade, esses dois aspectos da minha vida meio que se misturam, tornando difícil dizer quando começa a professora e termina a mãe (ou vice-versa). Essa explicação não está longe do real, a única ressalva é que isso não se aplica apenas a mim, mas a todos aqueles que optam por essa profissão. Por mais que se tente manter a distância profissional, acaba-se assumindo, em algum momento, o papel de mãe ou de pai.
Assim, quando o professor repreende um aluno, ele acredita estar contribuindo para tornar aquele indivíduo, que está sob sua responsabilidade, uma pessoa honrada, com valores éticos e morais claros. A questão é que para a grande maioria dos professores, esses momentos, quando ocorrem, são apenas isso, momentos. Depois eles são esquecidos e a vida/aula segue em frente. Exatamente como fazem – ou deveriam fazer – os pais.
A modernidade, no entanto, tem tornado esse movimento de perdoar e esquecer cada vez mais difícil. Agora com a internet – cobrindo tudo e todos com o seu manto do anonimato e da impunidade – é possível agredir sem a certeza de uma punição a altura da ofensa cometida. As redes sociais, por exemplo, tornaram-se um lugar onde pessoas mal intencionadas ou mal orientadas dizem o que querem, sem nenhum tipo de controle. Facebook e twitter tornaram-se verdadeiros outdoors, onde o elogio e a injúria dividem o mesmo espaço.
E nesse turbilhão de limites pouco precisos entre o certo e o errado, entre o apropriado e o inapropriado, vamos encontrar os maiores fãs e frequentadores das redes sociais, os jovens. Nelas, eles dizem tudo para qualquer pessoa, pois acreditam que no final “não vai dar nada”. E o pior é que não dá mesmo. Recentemente, por exemplo, uma professora foi ofendida em uma rede social por um aluno de apenas 16 anos.
Esse jovem, após receber o resultado de uma prova, discordou da correção e para expressar a sua inconformidade com a nota recebida decidiu que o melhor caminho seria utilizar o twitter para ofender a professora. Assim, após o término da aula, ele postou e, portanto, “compartilhou com o mundo”, uma série de palavras ofensivas contra essa profissional. As palavras usadas destilavam não apenas ressentimento, mas também raiva e ódio, tudo por causa de uma avaliação. O choque pegou a todos de surpresa, imagine, então, a professora.
A escola, apesar de ser informada da ação do aluno, demorou duas semanas para acionar os pais, alegando que se tratava de “coisa de adolescente”. Agora, a questão: só porque é “coisa de adolescente” pode-se simplesmente ignorar um gesto cruel e despropositado como esse?
Tenho certeza que, dependendo da pessoa – alunos, pais, professores, diretores ou coordenadores de escola –, a resposta a essa pergunta pode ser bem diferente. No entanto, algo é certo: há limites que não podem ser ultrapassados e um deles é a falta de respeito. O grande e difícil problema é que a cada dia esses limites tornam-se menos claros e o medo de assumir responsabilidades é empurrado sempre para mais tarde. Assim, o jovem chega aos 25 anos pensando e agindo como se ainda tivesse 16. Os pais entregam às escolas os filhos para que elas façam o papel que sempre foi deles. E, por sua vez, as escolas não querem agir com mais rigor porque temem a perda da clientela.
De qualquer maneira, o triste fato é que essa professora foi obrigada a assumir o encargo de estabelecer esses limites. Por conta própria, decidiu que a melhor forma de agir seria colocar nas mãos da Justiça o seu caso. Ela, no entanto, não deseja vingança ou indenização financeira, mas que o jovem e a família entendam as consequências desse tipo de comportamento. Consequências que vão além do simples “puxão de orelhas” da escola ou um pedido de desculpas a portas fechadas. O raciocínio dela é simples: se o insulto foi público, a retratação também deve ser. Esse é o seu objetivo, educar pelo exemplo, para que no futuro outras pessoas – não apenas os jovens – não pensem que podem agir do mesmo modo, sem assumir a devida responsabilidade por seus atos. Afinal, não há melhor forma de deseducar do que a certeza de não ser punido.