QUANDO FIZ SESSENTA ANOS AGORA QUE JÁ COMPLETEI RECENTEMENTE SETENTA E QUATRO ANOS
Por Cunha e Silva Filho Em: 07/01/2020, às 18H55
QUANDO FIZ SESSENTA ANOS AGORA QUE JÁ COMPLETEI RECENTEMENTE SETENTA E QUATRO ANOS
Cunha e Silva filho
A meus filhos Francisco Neto e Alexandre
Queridos amigos e amigas!
Certas datas de aniversário são importantes, como o primeiro aniversário de uma criancinha, a data dos quinze anos (sobretudo para as debutantes ), dos cinquenta, dos sessenta. Paro aqui porque ainda espero outras etapas. Completo sessenta, na realidade, já os completei no dia 7 deste mês de dezembro. No entanto, o que vale é a ação, a intenção, o valor simbólico demarcado.
Vou seguir um conselho de minha esposa. Se cheguei a esta idade deve ter sido por vontade divina. Descobri, nesta nova fase de vida, que a Arte, sem o viver é incompleta. Vou, pois, completar-me com a Arte (especialmente com a arte literária, com a Literatura). Tenho amigos e conhecidos que não gostam de dizer a sua idade verdadeira. Eu não me importo com isso. A Arte, em todas as suas manifestações, equivale a viver com júbilo, emoção, plenitude, dignidade.
Meu pai, Cunha e Silva (1905-1990) em carta, me confessou que, aos sessenta, se viu chamado pela musa Calíope. Segundo ele, a poesia nele brotou diante da “amarguras da vida". Eu, ainda que com amarguras, não vou me tornar poeta, não obstante tenha, de forma bissexta, incursionado pelo terreno poético com alguns poucos poemas de menor “voltagem, ” poemas circunstanciais, diria melhor, presunção de jovens que pensam fazer tudo no campo literário. Vou, porém, continuar meus estudos literários aliando o prazer da análise ao julgamento estético.
No mundo da criação artística, o ponto final só se dá com a nossa passagem do domínio terreno para o da dimensão do espírito. Claro que sentimos o fluir dos dias, meses, anos, décadas e séculos. Por outro lado, a temporalidade é pejada de subjetividade. Eis por que, no nosso particular mundo interior, não nos percebemos velhos e descartáveis.
A nossa velhice está nos outros através dos rótulos e das discriminações. .Uma vez, minha mãe Ivone, uma bela mulher, me falou que, à altura dos setenta anos, não se sentia idosa. Sentia-se sempre plenamente remoçada. Meu pai, por sinal também, nunca deixou escapar qualquer resquício de sentimento negativo com a vida de idoos, mesmo ao chegar aos oitenta anos. Por que essa atitude? Porque ele e mamãe amavam a vida e tinham ainda sonhos e esperança em dias melhores.
Gilberto Freyre (1900-1987), notável sociólogo brasileiro, certa vez formulou a ideia de um tempo tríbio - um tempo que para ele somaria o passado, o presente e o futuro numa espécie de fusão de temporalidades, nas quais a sensação resultaria num eterno presente, como forma de não nos apegarmos tão-somente, ao meu juízo, com a preocupação das apreensões do futuro. Tal sensação, ou melhor, percepção desse eterno presente, seria uma maneira de nos sentirmos dentro da contemporaneidade. Não vejo, assim, coisa mais saudável ao espírito para regressarmos ao passado com saudades e aproveitar o presente da melhor forma possível.
Um texto límpido e fascinante do psiquiatria Augusto Cury, numa abertura a um capítulo do livro Pais brilhantes, Professores fascinantes 7 ed.( Rio de Janeiro: Sextante, 2003,p. 103) há o seguinte pensamento: “Se o tempo envelheceu o seu corpo mas não envelheceu a sua emoção, você será sempre feliz.”
Essa emoção não a quero perder porquanto não entendo a vida sem a emoção, como não a entendo sem o choro, a sensibilidade, a solidariedade e a dor do outro. Isso não é pieguismo inócuo, porém demonstração inequívoca de que alguém se toca diante de fatos e acontecimentos que nos fazem vibrar de alegria, chorar de emoção ou chorar pela tristeza alheia. Por isso, a arte da comédia, a arte do drama e da tragédia têm seus fundamentos derivados do riso, do ridículo e da catarse.
Reunindo vocês aqui, amigos queridos e diletos de longa data, amigos mais novos, de coração lhes agradeço pelo carinho de suas presenças no playground do meu prédio. Aqui tenho amigos, cujos laços cada vez mais se estreitaram ao longo do tempo, como da mesma forma tenho nesse recinto outros amigos mais recentes que tive o grato prazer de com eles travar amizade sincera.
Para concluir, espero que se sintam como se estivessem em suas casas. Tenho dito.