PROTEJA-ME: SOU GENTE

    Miguel Carqueija


    Sou vida tenra e oculta,
    indefesa e inocente;
     não dê razão aos algozes;
    defenda-me: eu sou gente.


    Do seio da minha mãe
    quero amá-la eternamente;
    ela porém me assassina
    esquecendo que sou gente.


    O Estado ante o aborto
    dá de ombros complacente:
    podem matar-me à vontade
    como se eu não fosse gente!


    Ao médico monstruoso
    que me mata friamente,
    só o lucro interessa:
    e ele sabe que eu sou gente.


    Neste tempo desumano,
    neste mundo indiferente,
    preciso que me socorram;
    protejam-me: eu sou gente!
    
(do livro: Encontro 22, Só-Arte Produções, Rio de Janeiro, 1989, antologia com vários autores)