PROTEJA-ME: SOU GENTE
Por Miguel Carqueija Em: 28/05/2010, às 11H03
PROTEJA-ME: SOU GENTE
Miguel Carqueija
Sou vida tenra e oculta,
indefesa e inocente;
não dê razão aos algozes;
defenda-me: eu sou gente.
Do seio da minha mãe
quero amá-la eternamente;
ela porém me assassina
esquecendo que sou gente.
O Estado ante o aborto
dá de ombros complacente:
podem matar-me à vontade
como se eu não fosse gente!
Ao médico monstruoso
que me mata friamente,
só o lucro interessa:
e ele sabe que eu sou gente.
Neste tempo desumano,
neste mundo indiferente,
preciso que me socorram;
protejam-me: eu sou gente!
(do livro: Encontro 22, Só-Arte Produções, Rio de Janeiro, 1989, antologia com vários autores)