A educação é uma profissão impossível, porque é uma profissão complexa, que obriga a enfrentar contradições irredutíveis, tanto no espírito do ator quanto nas relações sociais.

Perrenoud

Notícias sobre a educação não param de surgir e todas elas sempre focando o mesmo tema: a sua má qualidade. Os motivos listados vão desde a péssima qualificação dos professores, passando pelos seus baixos salários, chegando até as difíceis e muitas vezes impossíveis condições de trabalho enfrentadas por esses profissionais. Tudo isso, é claro, refletindo diretamente na motivação dos professores e, portanto, na qualidade do processo de ensino-aprendizagem.

Contudo, os problemas não param por aí. Agora, além de todas essas dificuldades, os professores estão tendo de se defrontar com outro tipo atribulação: as agressões físicas.

A mídia tem relatado inúmeros casos de violência contra professores. São braços quebrados, olhos roxos, traumatismos cranianos e até assassinatos. Numa situação ocorrida no final de 2010, um professor foi morto a facadas por um aluno na saída da escola. O mais triste – ou seria melhor dizer trágico? – é que a vítima não era o alvo desse aluno, na verdade, sua intenção era matar outro professor. Motivo alegado? Uma nota baixa.

Sou professora. Trabalho em sala de aula há 23 anos e preciso confessar: essas situações além de me entristecerem, me deixam apavorada.

Entristeço-me porque, ao longo desses 23 anos, tenho acompanhado o progressivo aumento do desprestígio da minha profissão sem conseguir fazer absolutamente nada. Ano após ano, observo a perda do respeito não só dos alunos como do restante da sociedade. Ano após ano, ouço discursos nos acusando de sermos incompetentes e mal preparados. No entanto, não vejo nenhum desses inquisidores tomando qualquer atitude no sentido de mudar ou ao menos melhorar o que eles, do alto de sua “sabedoria”, consideram errado no sistema educacional brasileiro.

Do mesmo modo, não escondo o meu medo diante dessa onda de ataques a professores. A razão é simples: posso, a qualquer momento, me tornar a próxima vítima. Onde não há respeito, não há limites. Quem garante que um aluno ou um pai descontente com o resultado de uma avaliação não irá me agredir? Quem, em sã consciência, diante de tudo o que vem acontecendo, vai duvidar de que isso possa realmente acontecer?

Assim, não é de estranhar que os jovens não estejam mais querendo seguir a carreira do magistério, forçando as universidades a oferecer descontos cada vez maiores com o objetivo de atrair alunos para os cursos de licenciatura. Afinal, quem vai querer ingressar em uma profissão na qual, além do salário baixo (muito baixo!), se estará sujeito não só a agressões morais, mas também físicas?

Como resistir a isso, é o que não canso de me perguntar. Entretanto, preciso dizer: a tristeza é muito maior do que o medo. O medo, no meu caso, será em breve resolvido com a aposentadoria, mas a tristeza essa, com certeza, sempre me acompanhará.

Tristeza por todos aqueles professores que permanecerão em suas salas de aula dando o seu melhor mesmo que a sociedade não reconheça. Tristeza pelos jovens professores que chegam às escolas cheios de sonhos e expectativas. E tristeza por todos aqueles alunos que, apesar de todas as dificuldades e incertezas, ainda veem no seu professor uma fonte de inspiração e um exemplo a seguir. Tristeza e medo são os meus sentimentos e, quem sabe, o meu legado.