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[Maria do Rosário Pedreira]

 

Recentemente, a Dom Quixote organizou uma sessão mais ou menos íntima para comemorar o décimo aniversário da primeira edição de O Vento Assobiando nas Gruas (sim, também se falou da estranheza do título), de Lídia Jorge. Quando digo «íntima», quero sobretudo dizer que não se tratou de uma festa com bolo e champanhe, embora, tanto quanto sei, a entrada não estivesse restringida apenas a uns happy few – aliás, acabou por aparecer muito mais gente do que o petit comité que a escritora imaginara. (Desculpem tanto estrangeirismo, não sei o que me deu hoje.) Devo dizer que foi, em muitos anos de livros, um dos melhores fins de tarde a que tenho assistido, porque, instigada pela jornalista Filipa Melo, Lídia Jorge não parou de dizer coisas interessantes, sérias quase todas – e muito sérias – mas não deixando de temperar a conversa com umas pitadas de humor que deliciaram a assistência. Entre elas, uma história que dedico especialmente ao meu leitor «Monchique», que é, segundo percebi, um amante de Agustina. Pois confidenciou Lídia Jorge que, pouco depois de ter publicado o seu primeiro romance (O Dia dos Prodígios), recebeu da grande senhora do Norte uma cartinha que dizia o seguinte: «Bem-vinda a esta arca da desaliança. Oxalá a leiam. Oxalá lhe paguem.» Genial, como só ela consegue ser. O romance de Lídia que fez dez anos, e que ganhou o Grande Prémio de Romance e Novela da APE e o Prémio Literário Correntes d'Escritas, está aí de cara lavada para quem perdeu a oportunidade de ler uma das cinco edições anteriores. A ele voltarei, naturalmente, um dia destes: uma sessão que rende dois posts já se viu que foi boa, uma prenda para quem lá foi.