Preguinho, filho de Coelho Neto
Em: 19/01/2012, às 07H32
Autor do primeiro gol brasileiro em Copas do Mundo, João Coelho Neto, o Preguinho, ganhou 357 medalhas pelo clube carioca
Esqueça a história recente do tricolor das laranjeiras. E esqueça tudo que você conhece sobre ser um esportista vitorioso e completo. O maior atleta da história do Fluminense existiu quando o futebol ainda era praticado amadoramente no Brasil. João Coelho Neto nasceu em 1905, no Rio de Janeiro, na mesma casa da Rua das Laranjeiras que morou a vida toda. Filho do escritor Coelho Neto e com 13 irmãos, filiou-se ao Fluminense Football Club em 1916, onde, incentivado pelo pai, começou a vida de esportista. Jogado na água durante uma aula de natação, afundou como um prego, apelido que o perseguiria por toda a vida no diminutivo. Dedicou 33 anos de sua vida ao esporte pelo clube das laranjeiras, sempre na condição de amador.
Aos 18 anos, foi artilheiro do campeonato carioca de 1923 com 12 gols pelo Fluminense, onde jogou a vida toda. Seria também artilheiro dos campeonatos de 1928 (16 gols) e em 1932 (13 gols), e artilheito do clube em 1929 (9 gols), 1930 (20 gols) e 1931 (10 gols). Campeão Brasileiro de amadores em 1931 e Carioca em 1933 e 1938. Na época do futebol profissional, conquistou o tri-campeonato carioca de 1936, 1937 e 1938.
Mas o que o torna o atleta mais completo do século são seus títulos pelo clube em diversos esportes. Alcançou a marca de 357 medalhas em dez modalidades: remo, volêi, basquete (marcou 48 pontos em seu jogo de estreia e é um dos maiores cestinhas da história do clube, com 711), polo aquático, saltos ornamentais, atletismo, hockey, tênis de mesa, natação e futebol numa época onde atletas eram mitos. Em 1925 chegou ao ponto de disputar uma prova de natação de 600 metros na Praia do Botafogo, ser campeão, correr para chegar a tempo de disputar o jogo final contra o Sâo Cristovão e sagrar-se campeão da Primeira Divisão de futebol amador no mesmo dia.
Argeu Afonso, jornalista e historiador amigo de Preguinho por 40 anos, fala sobre as lendas a respeito do façanha. “Foi campeão carioca de natação, veio para o Estádio das Laranjeiras, pegou o jogo final, entrou no time e foi campeão. Seria mar e terra. A lenda é que uns dizem que ele veio da Praia de Botafogo para o Fluminense de táxi. Outros dizem que ele veio de bicicleta. E os mais fanáticos dizem que ele veio correndo, quer dizer, fez natação, veio correndo, e jogou futebol. Seria o máximo! Mas isso vai por conta da lenda”, conclui.
Preguinho entrou para a história do futebol brasileiro ao marcar o primeiro gol da Seleção Brasileira em Copas do Mundo. Na estreia da seleção na derrota para a Iugoslávia por 2 x 1, na Copa do Mundo de 1930, disputada no Uruguai. No albúm oficial do torneio, descrição do gol do brasileiro: “Aos 17 minutos do segundo tempo, os brasileiros fizeram o primeiro gol da seguinte forma: o lateral-direito brasileiro ataca, chuta… Arsenievich põe para
escanteio! Pamplona cobra, Stefenovitch tira de cabeça. Quando se acreditava que a bola seria levada para o campo adversário, a bola foi conquistada por Fausto, que driblou Vouyadinovich, enviando a bola de forma altíssima para o arco yugoslavo. No preciso instante em que a bola caía, em frente ao gol saltaram à procura da bola Ickovitch e Prego. Este conseguiu mover violentamente a bola em um dos ângulos conquistando o gol!”.
Foi também o primeiro capitão e o primeiro artilheiro da seleção em Copas, com 3 gols.
O gol que Pelé não fez
Na semana que antecedeu o Fla x Flu de 1928, Preguinho recebe um telegrama do goleiro rubro-negro: “Amanhã não farás nenhum gol. Vai ser canja para o Flamengo. E a zero”. Preguinho encheu-se de raiva e prometeu a amigos que faria dois gols no clássico mais tradicional do futebol carioca. Aos dois minutos de jogo, acertou um “tijolo quente” (apelido de seu forte chute) de longa distância.
Aos dez minutos, numa confusão na área, se choca com Amado e sente que passou da bola. Testemunha ocular do feito e notável torcedor tricolor, Mário Lago descreveu o gol na revista Placar de julho de 1983. “A bola ia mesmo cair nas costas do Preguinho, mas ele nem se abalou. Tocou de calcanhar, com a maior categoria. Foi um gol de fazer inveja ao Sócrates. No fim, ganhamos de 4 x 1, com dois gols do nosso meia-esquerda”
Dois anos depois, na final do carioca de 1930 contra o Botafogo em 7 de dezembro, ele faria o gol que Pelé não fez. “Foi igual ao que Pelé tentou contra o goleiro Viktor, da Tchecoslováquia, na Copa de 70. O goleiro Germano lançou-lhe a bola na intermediária do Flu, Preguinho dominou-a, deu duas passadas e chutou forte, alto, por cobertura. Um gol que nenhum outro jogador conseguiu no mundo” disse Mário Lago em 1983. O jornalista Mário Filho apontou o lance como “um gol diabólico”.