[M. T. Piacentini]

É opcional dizer percentagem (do latim per centum) ou porcentagem (em razão da locução por cento), assim como percentual ou porcentual. Com as expressões que indicam percentagens o verbo pode ficar no plural ou no singular, conforme o caso, já que a concordância pode ser feita com o número percentual ou com o substantivo a que ele se refere:


No seu Estado, 75% da população ganha menos de dois salários mínimos.

[concorda com população] / No seu Estado, 75% da população ganham menos de dois salários mínimos. [concorda com 75%]

Somente 1% dos candidatos consegue passar nos exames. [concorda com 1%] / Somente 1% dos candidatos conseguem passar nos exames. [concorda com candidatos]

Oitenta e três por cento dos inscritos votaram. [concorda com percentual e substantivo no plural]

Segundo o IBGE, 90% das mulheres pesquisadas aceitam sua situação. [idem: como percentual e substantivo estão no plural, não existe a opção de verbo no singular]


A orientação mais moderna é fazer a concordância com o substantivo próximo, ou seja, usar o verbo no singular quando o substantivo está no singular; verbo no plural quando o substantivo está no plural:


A pesquisa indica que 10% da força feminina trabalha à noite.

O prefeito assegura que 70% dos moradores terão saneamento básico.

Registrou-se que 20% da população estava acamada e os 80% restantes estavam sadios.


Quando não existe um substantivo explícito, é preciso fazer a concordância com o número percentual:


Concluo que 36% são inativos.

Apenas 1% votou a favor do casamento homossexual. 


Observe a coerência quando usar verbo com particípio (locução verbal passiva). Em outros termos: respeite a concordância nominal – feminino com feminino, plural com plural etc.:


50% da comunidade foi invadida.

90% das mulheres pesquisadas são analfabetas.

Até 10% da mata pode ser queimada.

Só 50% dos dados foram tabulados.


Se você não usar a fórmula acima, preferindo concordar com o número e não com o substantivo, leve o particípio para o masculino plural:


50% da comunidade são semi-alfabetizados.

Dizem que 10% do terreno foram invadidos.


ARTIGO OITAVO, ARTIGO VINTE


Vários leitores perguntam como se faz a leitura de números em referências legais e outras.


Quando se trata de artigos e parágrafos de leis, decretos, regulamentos e atos do gênero, usa-se o numeral ordinal de 1 a 9 (caso de um só dígito) e o cardinal de 10 em diante (isto é, a partir de dois dígitos). Ex.: Art. 1º  (primeiro), art. 19 (dezenove), parágrafo 2º (segundo), § 10 (dez).


No caso de título, seção e inciso, que são escritos em algarismos romanos, e de capítulo – seja em algarismo romano ou arábico, como numa tese ou livro –, quando o numeral vem depois do substantivo faz-se a leitura em cardinal, como se houvesse a palavra "número" entre eles: Título [nº] I (um), Seção VIII (oito), inciso XII (doze), inciso III (três), Cap. IX (nove), capítulo [nº] 20 (vinte).


No caso de reis, imperadores, papas e séculos, em que a ordem de sucessão é redigida com algarismos romanos, há uma pequena divergência em relação ao número 10. Embora os livros de gramática proponham a leitura em ordinal até 10 inclusive, na prática também se ouve o cardinal dez, como nos artigos de lei. Exemplos: D. Pedro I (primeiro), Luís VIII (oitavo), Papa Leão III (terceiro), Luís XIV (catorze), Papa João XXIII (vinte e três), séc. XIX (dezenove), Seminário São Pio X ( Pio décimo ou Pio dez).