Cunha e Silva Filho


                            Há pouco a TV mostrou uma das mais pungentes e dolorosas cenas que já vi: um menininho palestino de cinco anos, lutando bravamente para impedir que o pai fosse preso por soldados judeus indiferentes. Razão da prisão: o pai, porque necessitava muito de água para a sobrevivência da família, foi obrigado a desviar uma pequena parte do curso de um riacho para sua casa. O apresentador do noticiário fez um comentário espirituoso em cima do visto nas imagens dramáticas: “Ora, a água é de todos.” 
                           O movimento do cinegrafista focando, em primeiro plano, o desespero da criança que, inconsolada, não aceitava a ação violenta contra o pai, me parece um final de tragédia grega. O pequeno palestino, gritando, chamando pelo pai que cercado estava de militares levando-o a um lugar onde seria preso, sem julgamento, mas apenas num ato autoritário, era o exemplo mais corajoso de um filho inocente que se vê impotente para livrar o pai de uma situação aterradora.
                           Não precisava alguém falar árabe para entender a linguagem universal dos gestos, do olhar e dos movimentos convulsos que tomavam conta do mundo interior daquela criancinha procurando, de todas as formas, se desvencilhar das mãos dos soldados que tentavam contê-la inutilmente. Não havia forças que a dominassem tão decisivos eram seus movimentos para se livrar dos braços e das mãos de soldados impassíveis e sem compaixão. Soldados que ali estavam para cumprir ordens nascidas da repressão da equívoca política israelense, dos acordos de paz que não se materializam nunca e, ao contrário, são unilateralmente rompidos.De acordos que, por não serem respeitados, tornam-se geradores de barbáries e truculências cometidas - veja-se o ato incongruente e discricionário – no próprio território pertencente aos palestinos, como é a Faixa de Gaza.
                          O pequeno palestino, de certa forma, alça-se a símbolo da luta contra a injustiça e a prepotência de quem detém o poder das armas sobre indefesos a serviço de ordens superiores, ordens do Estado de Israel. Onde ficam os princípios humanitários e religiosos (ou serão mais econômicos, com forte apoio norte-americano congraçado ao lobby financeiro dos poderosos judeus nos EUA?) de um povo tão massacrado pelas forças do nazifascismo que, na Segunda Guerra Mundial, culminou com o fatídico genocídio, mais conhecido como Holocausto? Será que, hoje, os judeus estão se vingando daquele genocídio concentrando seu ódio contra um bode expiatório, no caso, os sofridos palestinos? Quero crer que não seja esse o motivo principal.
                         Onde está agora aquele pequeno palestino que defendia o pai com unhas e dentes, enfiando-se por entre as pernas dos soldados inimigos, chamando-o insistentemente, não se deixando vencer pelas forças de braços e mãos opressores que não lhe queriam permitir alcançá-lo lá adiante, cercado de soldados de rostos carrancudos e pouco se importando com o choro, os gritos e os gestos valentes e decididos de uma criancinha para quem a liberdade do pai era o único bem que, na sua inocência e fragilidade, tão corajosamente desejava preservar? “Pai, eu quero meu pai. Pai! Pai! Pai...! Quero meu pai! Não levem meu pai! 
                         Aquela criança cada vez mais se distanciava do pai e, finalmente, se perdia de nós diante do corte súbito da imagem televisiva.
                         Quem poderia, leitor, jamais esquecer a voz do pequeno palestino, no meio dos soldados, clamando, desolado, abandonado, contra os inimigos da paz e da liberdade?

NOTA AO LEITOR:  O colunista estará afastado durante um tempo para realizar  estudos e pesquisas que lhe exigirão  tempo integral. Até à volta!