PONTE ESTAIADA E MESTRE ISIDORO FRANÇA

 

Elmar Carvalho

 

Voltei há pouco de minha caminhada na avenida Raul Lopes, que durante estas minhas férias venho fazendo quase diariamente. Escolhi o seu calçadão para esse saudável exercício porque é um local adequado, possui uma bem conservada floresta à margem do rio Poti, tão degradado, com as suas águas poluídas e estagnadas, exceto na época chuvosa; porque vejo outras pessoas a caminhar, e isso me estimula a persistir nesse esforço em prol da saúde. Fora das férias, caminho apenas às sextas-feiras e aos sábados, e excepcionalmente aos domingos.

 

Às vezes, acompanho (ou sou acompanhado por) algum amigo e me entretenho em agradável conversação, ou sigo sozinho, e me deleito a ver as árvores frondosas, os pequenos arbustos, e as diferenças entre as variadas folhagens, sem descurar da beleza das flores, que ornam a margem do calçadão. Isso faz com que me sinta bem e prossiga com mais vigor na caminhada. Hoje, durante algum tempo, caminhei ao lado do Dr. João Borges Caminha, advogado aposentado do Banco do Brasil, que foi meu professor de Direito Agrário na velha Salamanca da UFPI. Após a sua aposentadoria, tanto na universidade como no banco, o mestre começou a escrever sobre a História do Piauí, tendo lançado recentemente um livro sobre a História de Ipiranga, sua terra natal. Temos entabulado várias conversas sobre assuntos diversos, mas com mais frequência sobre a História de nosso estado.

 

Nessas marchas, acompanhei a construção da ponte estaiada João Isidoro [da Silva] França, mais conhecida como ponte do sesquicentenário. Sem dúvida será muito útil e bela, e vai desafogar o tráfego das pontes da Frei Serafim e da Petrônio Portella. É uma obra monumental, no sentido de grandiosidade e de beleza, com os cabos de sustentação a ornamentá-la, como raios ou um grande leque, quase a lembrar uma desfraldada cauda de pavão.  As  obras continuam firmes, com a construção das “alças” e da avenida de acesso à ponte.

 

Quando, recentemente, Alberto Silva morreu, demagogos e oportunistas defenderam que essa obra passasse a ter o nome do ex-governador, que já foi prodigalizado com grandes e várias homenagens. Ressalvo, obviamente, aqueles que agiram de boa fé, seja por ignorância ou por paixão política. Provavelmente, desconheciam a importância histórica de João Isidoro França, que foi fundamental para Saraiva, no início da construção de Teresina, pois esse mestre de obras era uma espécie de arquiteto e engenheiro sem universidade, diligente em sua labuta, e sempre a cobrar de Saraiva, através de cartas, as providências necessárias para que as obras seguissem seu curso normal.

 

Devia ter interesse cultural, porquanto em sua casa, na praça da Constituição, hoje Marechal Deodoro, fazia representar peças teatrais, o que era de admirar, considerando-se a Teresina da época. Entre as suas principais obras, destaca-se a igreja do Amparo, que ainda hoje alveja suntuosamente. Dela foi vigário, por muitos anos, o grande historiador monsenhor Chaves, que escreveu obras seminais e clássicas sobre a história do Piauí, inclusive especificamente sobre Teresina. O prefeito Sílvio Mendes, de forma firme, com a autoridade moral de quem possui a razão, defendeu a permanência do nome de João Isidoro França, e o manteve, com muita justiça, aliás.

2 de fevereiro de 2010