Cunha e Silva Filho

 

                          O padre Antonio Vieira (1608-1697), o maior orador sacro da língua portuguesa do período  Barroco, escreveu um texto admirável sobre a roubalheira, a rapinagem, texto que, apesar da distância da temporalidade, mais ainda se torna atual e elucidativo para explicar esse permanente estado de corrupção da atividade político-administrativa por que está passando o país. A melhor imagem desse estado é de um câncer maligno tomando conta de todo o tecido político, de todas as nossas práticas políticas, com muito poucas exceções, no território nacional. Cumpre assinalar que considerável parcela dessa estado de degenerescência de nossa vida pública tem seu ponto de partida justamente na capital federal – logo ela que deveria dar o melhor exemplo de probidade com o bem público.
                       Não bastasse o Mensalão que, ao ser revelado pela mídia, pôs a nu as “veias abertas’ dos atos e comportamentos indecorosos de nosso políticos, com irradiações deletérias em todos os poderes da República, agora pipocou – mais um novo capítulo nessa série de escândalos nacionais. E onde? Em Brasília, como não? Desta vez, o envolvido é o governador do Distrito Federal e seus auxiliares, numa teia de aranha fétida que atingiu não só o executivo, mas o legislativo e judiciário.
                       A impressão que tenho, e que acredito tenham todos os cidadãos brasileiros honestos dessa pátria tão malferida e enxovalhada por mais esse descalabro, é a de que nem de longe me parece que a moralidade no trato da res publica possa ser reabilitada. Tudo conspira contra a política e os políticos, guardadas as devidas e clássicas exceções.
                    A gravidade do despudor é tamanha que mal acreditamos estarmos assistindo a esses fatos desastrosos para a imagem de nosso povo, porque, afinal de contas, o político metonimicamente considerado, é a representação do povo, dos eleitores, das aspirações populares, dos pleitos da sociedade..Essa política minúscula praticada por esses supostos cidadãos que nos representam nos dois poderes, executivo e legislativo, mas que, quando empossados e diplomados, esquecem de sua ética e passam a desrespeitar todo um projeto político através do qual, pelo menos para alguns eleitores, lutariam para implementar e, desse modo, atender ao eleitorado que a ele confiaram um mandato.
                  Chegamos a um limite insuportável de paciência com respeito aos desmandos e falcatruas amplamente divulgados pela mídia. Como é possível manter-se impune um governador, ou um deputado, ou mesmo um membro do judiciário que deem demonstração de prevaricar? Um governador colhido nas malhas das câmaras e gravações, expondo ao povo brasileiro o que há de pior na ética das ações humanas se afigura forte demais para que uma sociedade não reaja energicamente contra essa ignomínia.

                  São imagens terríveis, misto de cinismo, ópera bufa e tragédia mambembe dos bastidores da vida política brasileira. Demonstração de comportamento de homens que se servem de seus cargos para vilipendiar as práticas sadias da administração pública, desde as campanha para eleições até durante todo o período de mandato. O candidato a um mandato tem que provar que é probo antes e depois das eleições. Se for apanhado em atos de ilicitudes antes das eleições, ainda se torna mais grave a posição do candidato.
               Se não houver punição efetiva e rigorosa para essa súcia de politiqueiros, legisladores e membros do judiciário de qualquer instância , haverá retrocesso e risco para a continuidade do regime democrático.
               O povo já está saturado de políticos que se revelam tão ou mais condenáveis do que os delinquentes das baixa camadas da sociedade.
Estamos aguardando que os culpados pelo desvirtuamento da vida pública brasileira sejam condenados após reveladas as suas culpabilidades e desídias contra a sociedade.