Podemos conhecer melhor ou prever o estilo de governar dos candidatos à eleição presidencial se analisarmos as peculiaridades de seu diálogo com o público, sua conduta verbal, sua postura física perante as câmeras etc.

Salta aos olhos, por exemplo, a desenvoltura de Lula. Seus anacolutos e solecismos não o inibem. E nós, por outro lado, já nos habituamos aos seus escorregões gramaticais, tanto quanto à voz rouca e encorpada. Mesmo a aderência da língua à abóbada palatina, a anciloglossia de que também padecem o ministro Palocci e o deputado Vicentinho, tem certo charme. O ceceio característico quase se torna sinal de status. Os que ainda forem eleitores do PT dirão: “é melhor língua presa do que rabo preso...”.

Lula não é refinado e se há alguém menos parecido com personagem proustiano, eis o nosso presidente. Contudo, eis também as antigas fotos do metalúrgico em contraste com as do atual chefe da nação. Nada mais natural. O fato, porém, é que ternos elegantes, barba aparada e cabelo bem cortado jamais eliminarão o modo um tanto áspero de dirigir-se a nós.

O estilo do governador Alckmin é bem outro. Fala com a afetação de quem precisa provar a cada minuto que possui todas as virtudes: honestidade, equilíbrio, prudência, autoridade, austeridade, perseverança, religiosidade, experiência, despojamento... Até os movimentos para tomar um copo d’água são calculados. Comportamento impecável, respostas firmes e serenas. Muita ascese por trás das palavras e gestos.

O maldoso (e acertado) apelido — picolé de chuchu — reflete-se na sem-gracice do candidato, o discurso frio e insosso. Contar piadas também é uma virtude, mas essa ele não possui.

A senadora Heloísa Helena carrega, como quem está sempre defendendo os filhos, a bandeira da indignação. Ternura há, mas a fúria é marca registrada. A voz em delírio. A voz estridente. A capacidade de brigar durante horas seguidas com a vizinha que jogou lixo na escada ou com todas as multinacionais do planeta.

A calça jeans e a camisa branca simbolizam a disposição de pôr a mão na massa. Não há tempo para maquiagem ou enfeites. Prende-se o cabelo e vamos à luta. O sotaque alagoano empresta tons proféticos de uma rebelião nordestina à la Antônio Conselheiro. Pregando no deserto, amaldiçoando os traidores da humanidade, terá vinte anos pela frente até alcançar o planalto prometido.

Estilo, como define Adélia Prado, é limitação.

 

Gabriel Perissé é coordenador pedagógico do Ipep (Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa) e autor do livro recém-lançado A arte de ensinar, pela Editora Montiei.