Poesia é melhor que churrasco
Em: 16/03/2012, às 07H15
João Pinto - especial para o Entretextos
Se a gente digerisse poesia em lugar de churrasco de boi, certamente seríamos mais magro, não se entupiria as artérias e, com certeza, o coração seria o órgão na contemplação da vida interior. É por isso que, hoje, 14 de março, Dia da Poesia, para quem é poeta e amante dela. E até mesmo para os escravos do dinheiro. Dinheiro pode até competir com a poesia, mas ele não tem a beleza da alma como tem uma rima, que nos deixa babando de contentamento.
Pergunte a Castro Alves, que nasceu em 14 de março. O poeta baiano deve estar muito contente por essa data, que veio lhe dar mais prestígio. E para não delongar muito o discurso a seu favor. Peço ao poeta romântico, que me dê licença para lembrar um pouco da sua passagem entre nós. Quem diria, ó poeta, que o amigo fosse reprovado 2 vezes no vestibular para Direito em Recife. Ainda bem que você estudou mais Matemática e conseguiu entrar no curso. Desculpe, Poeta dos Escravos, sou fã número 1 da sua verve poética. Posso contar o lado amoroso para os meus amigosr?
Conheço um pouco a tua história, mas ainda preciso estudar mais. Você se lembra de quando começou a tecer elogios para Eugênia Câmara? A garota pensava que o amigo você um jornalista velho ou gordo. Mas, quando o Diretor da Companhia de Teatro te levou ao camarim dela, a portuguesa quase caiu para trás. Foi amor à primeira vista. Como você não dispensava nada, todo dia ia ao teatro e, antes que terminasse o último ato no palco, você corria pelos corredores do teatro atrás do camarim dela. Dispensava a mucama e era você mesmo quem tirava a indumentária dela. E como o amigo era garanhão, tudo rolava naquele camarim. Sei que você arrebentava os corações das garotas e não houve só a Eugenia não. Se fosse hoje, não precisaria nem colocar aquela capa preta e ir atrás das mulheres na noite. O amigo não contaria as deitadas com tantas gatas à disposição.
Você alugou uma casinha na periferia de Recife e, lá toda pintada de azul, você e Eugênia viveram um amor que ainda hoje este cronista tem inveja. E foi nesse canto que o amigo cheio de amor, vivendo o seu lado CARPE DIEM, que seu gênio para a poesia mais deu certo. Aqui você criou a poesia mais diferente até então nunca vista. Você compartilhou a sua revolta para denunciar a escravidão que os nossos irmãos africanos passavam nos engenhos. Mas você era adorado nas senzalas e odiado nas Casas Grandes. E também aquela poesia magra de sexo nos outros poetas, mais de sonho não vingou em ti. A tua poesia tem cheiro de cama e de mamilos frequentados. Por isso que você é meu herói.
Como você foi e é reverenciado por todos nós brasileiros, sei que você vivia de mesada, filho de médico, era boêmio e morreu de tuberculose. Se a Eugênia Câmara rompeu o amor entre vocês, mas o amigo a imortalizou. Pena que um médico bárbaro com um serrote no Rio de Janeiro haja te amputado um pé, mas sei que te deram pinga e um pano entre os dentes para não morder a língua.