ELMAR CARVALHO 

 

No dia 27 de novembro, cedo da manhã, cheguei à portaria do prédio onde mora o poeta Rubervam Du Nascimento, meu amigo e conhecido desde o final da década de 1970, quando nos conhecemos, em Parnaíba, conforme já registrei neste diário. O vate não se fez esperar, e logo seguimos para Luzilândia, onde participaríamos do II Festival Literário das Águas – FLIÁGUAS. Eu faria uma palestra sobre o tema “A poesia no contexto das novas linguagens e recursos tecnológicos” e o Rubervam discorreria a respeito de “O Lugar do Poema”, em que ele aplicaria uma oficina poética. 

 

Embora nossa amizade tenha se mantido sempre firme, sem nenhuma espécie de arranhão, nos encontramos raramente, mas sempre que isso acontece a alegria e o congraçamento são efusivos, de sorte que a viagem de mais de quatro horas, posto que fui sem pressa, foi entremeada de histórias e de “causos” pitorescos, jocosos, anedóticos. Recordamos algumas conversas anteriores, mas surgiram muitas novidades, tanto minhas como dele.

 

Há muitos anos li texto, no qual o escritor Eduardo Galeano dizia que publicar livros é como meter uma mensagem numa garrafa e lançá-la ao mar; a possibilidade de que alguém a leia é muito remota. Exatamente por causa dessa frágil perspectiva, fiquei admirado de três, digamos, coincidências que Rubervam me relatou.

 

Disse-me que nos idos de 2003, numa viagem de fiscalização do Ministério do Trabalho, encontrou na cidade de Paulistana a professora Tânia Rosado Paranaguá, que lá se encontrava em trabalho de pesquisa sobre a oralidade de quilombolas da região. Ela lecionava na Universidade Federal de Pernambuco – Campus de Arcoverde, em cuja cidade residia. Ela lhe revelou apreciar minha poesia. Por que meios misteriosos alguns de meus poemas chegaram a seu conhecimento não posso imaginar, uma vez que nossas edições são pequenas e precárias, e sempre circunscritas a algumas poucas pessoas de Teresina e de duas ou três cidades interioranas.

 

O nosso poeta, em outra viagem a serviço, em 2004, encontrou em um restaurante da longínqua Parnaguá um rapaz de nome Evangelista de Lima, que se encontrava, sozinho a uma mesa, a ler um livro de poemas de H. Dobal. Por ser um fato raro, chamou a atenção de Rubervam, que entabulou rápida conversa com ele. Descobriu tratar-se de um leitor contumaz de literatura, que disse gostar de nossa poesia. Como meus versos foram esbarrar em plagas tão distantes e cair em terreno tão fértil também me é outro mistério, que prefiro não decifrar, para entender esse fato pouco provável como algo um tanto enigmático.

 

Rubervam também me falou que muitos anos atrás, ao participar de um debate sobre poesia na desvairada Pauliceia, encontrou o poeta José Almino, nascido em Pernambuco, que se referiu a minha poemática de forma elogiosa. Disse que a conheceu através do festejado poeta e sociólogo Clóvis Moura, que me incluíra na seção Quatro Poetas (do Piauí) da revista LB – Revista da Literatura Brasileira, número 6, na qual me encontro na agradável companhia de Da Costa e Silva, H. Dobal e Clóvis Moura. Aproveitei para ler e reler o grande poeta José Almino, que é a melhor maneira de se render homenagem a um literato, sobretudo numa época em que poucos leem os escritores e poetas nacionais.

 

Ainda na esteira dessas surpresas agradáveis, contei a Rubervam que havia recebido, alguns meses atrás, um e-mail do poeta e contista Edson Guedes Moraes, no qual ele, de forma elegante, me pedia “desculpas” por somente agora haver conhecido minha poesia. De forma surpreendente, no mesmo bilhete eletrônico, o poeta, que é também editor, anunciou-me que faria uma edição artesanal, de exemplar único, contendo o meu poema Noturno de Oeiras. Guedes foi além do anunciado, e poucos dias após me enviou um volume primoroso, verdadeira obra de arte, com o referido texto, devidamente ilustrado, em papel couchê de altíssima qualidade, e mais alguns exemplares artesanais (diria louçanias gráficas) de uma bela antologia de meus poemas. Sem dúvida, o escritor e poeta Edson Guedes Moraes recebera uma das garrafas lançadas ao mar, cujo conteúdo era alguns de meus textos poéticos.

 

Quando menos esperei, ante a agradável conversa que tivemos, eu e o poeta Rubervam chegamos a Luzilândia, onde fomos recebidos, com toda fidalguia pelo escritor e poeta Ivanildo Di Deus, que todos os anos, há mais de duas décadas, promove encontros literários e culturais em sua bela terra da luz, à beira do Velho Monge erguida.

 

Entre outros, lá estavam os poetas, escritores e historiadores Dalila Teles Veras (da qual tive a satisfação de receber os livros Solidões da Memória, estranhas formas de vida e Retratos Falhados), Adrião José Neto e João Renôr Ferreira de Carvalho. Em Luzilândia, Rubervam me autografou seu livro Espólio, vencedor do VI Prêmio Literário Livraria Asabeça 2007 – Categoria Poesia. Aliás, nos últimos anos o vate de A profissão dos peixes arrebatou importantes prêmios nacionais com a sua poesia sempre carregada de novidades estéticas e estilísticas.

 

À noite, em esplêndida homenagem, recebemos (Dalila, Adrião, Rubervam, Francisco Miguel de Moura, Hardi Filho (in memoriam), Cícero Brito, Glayds Castro e este cronista) o honroso Título de Cidadão Luzilandense, concedido pela Augusta Câmara Municipal de Luzilândia, em que todos os vereadores, o vice-prefeito Oliveirinha e os homenageados proferimos breves e comovidas palavras.