MARIA DE LOURDES AMORIM VERAS
MARIA DE LOURDES AMORIM VERAS

EU ME PROCURO

 

 

 

Eu me procuro no ventre da vida

nas águas insones, na minha cidade,

Eu me procuro na sorte parida,

na floração do amor de verdade.

 

Eu me procuro no redemoinho,

no sol da manhã, na alvorada,

Eu me procuro no berço, no ninho,

na boca da noite, na madrugada.

 

Eu me procuro no trem da história

que parte de mim rumo ao além,

Eu me procuro nos vagões da memória,

paisagens que são estações do bem.

 

Eu me procuro na casa invadida,

nas recordações da minha infância,

Eu me procuro na alma escondida,

no medo, no espelho, na distância.

 

Eu me procuro no silêncio do grito,

no pesadelo, no sonho sonhado,

Eu me procuro esperança e conflito,

no tempo de Deus, perdido e achado.

 

 

Poema de Diego Mendes Sousa

 

Extraído do livro de poemas intitulado "Agulha de coser o espanto" (Instituto Amostragem, 2023)

 

 

 

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EU ME PROCURO - A ANÁFORA SUBLIME

 

Ensaio de Maria de Lourdes Amorim Veras

 

Esse poema expressa uma busca incessante do eu em diversas situações, tempos e espaços, sugerindo uma jornada existencial profunda. O autor Diego Mendes Sousa demonstra uma procura por identidade e por compreensão, movendo-se entre contrastes: luz e escuridão, vida e morte, momentos triviais e eventos significativos. A repetição do verso “Eu me procuro” sugere uma angústia e uma busca contínua, refletindo o desejo de se encontrar em meio ao caos e às transições da vida.

Há uma ênfase na dualidade, como na cicatriz (marcas do passado) e na ressurreição (renovação), sugerindo que essa procura envolve não só as experiências físicas e tangíveis, mas também espirituais e metafísicas. Ao citar o camaleão e a casa invadida, o poeta parece abordar a adaptação e as vulnerabilidades humanas. No final, ao mencionar a procura em "Deus", há um movimento de transcendência, como se, após explorar todos os aspectos terrenos e temporais, o autor buscasse respostas no divino.

Esse poema poderia ser interpretado como um espelho da condição humana — a eterna busca por significado, identidade e propósito — envolvendo tanto o mundano quanto o sublime.

 

Maria de Lourdes Amorim Veras é psicóloga clínica, escritora e palestrante.