POEMA 'ÁGUA FRIA'
Por Jefferson Bessa Em: 26/05/2017, às 16H04
levei um banho de água fria
como se chovesse há séculos,
como a chuva que veio do mar
e deixou um pouco de brasa,
pois a fogueira logo foi levada
e, sem o fogo, apenas abrasou.
o dia estava quente, era solar,
pouco solar, pois a brasa exige
tempo, mas começava a estalar,
se ouvia e refletia sua centelha.
a lenha ainda seria melhorada,
mas levei um banho de água fria
antes mesmo de se ver acender
a fogueira, voltei à antiga brasa.
brasa que com a água se fez lama.
e no ar o odor de fogueira apagada,
na terra as cinzas viviam fumaça,
e a água obstruía os caminhos.
senti a água fria em dia quente
o arcaico banho apagou a brasa.
dela devem ter feito um brasão
também arcaico. Foi quando vi
a fria água escorrendo no corpo:
era medrosa, presa em conserva
se guardou e ainda se guarda
esta água num braseiro úmido.
mantida com gelos e gosmas
ela inflama por não ter chama,
sua brasa ao chamar se apaga
para dar um banho de água fria.
Jefferson Bessa
Do e-livro Água Fria (2017)