O ter sido publicado em Manaus o meu prefacio ao livro de Djalma Passos, AS VOZES AMARGAS, me leva a comentar o seu poema:



POBRE ELEGIA


Eu não te trago nem flores nem auroras,
Nem a mensagem de outro céu
Nem a terra meiga de novos caminhos ...
Eu não te trago o clarão de outras estrelas
Nem a luz de novos pensamentos,
Nem a coroa da suave esperança
Pela qual te sacrificaste...
Eu não te trago a recompensa
Do sofrimento que absorveu
Num crepúsculo de fogo, num por de sol sangrento,
Sem o ú1timo beijo dos que te amavam,
Sem o olhar dos que foram a tua propria vida
Sem os adeuses do coração que amaste ...
O que eu te trago nesta pobre elegia
É a noticia da ambição que não extinguiste,
Do ódio que não apagaste,
Da incompreensão que nao destruíste,
Da dolorosa inutilidade do teu sacrificio ...


De que trata o poema? De certo modo é um poema religioso, ou quase. Falará ele ao Cristo sacrificado? Ele nada diz, mas sugere. Como Passos era um político "de esquerda", ou melhor, do PTB da época de Jango, é possível que o poeta esteja falando de um líder sacrificado, talvez de Che Guevara. Mas não pode ser, o livro de Passos é de 52, e naquele ano Guevara ainda estava vivo e jovem.

Portanto o poema fala de algum outro revolucionário, ou santo, ou mártir.

A ambição não se extinguiu, nem o ódio, nem a incompreensão... falo "da dolorora inutilidade do teu sacrifício..."

Pobre, triste elegia!