Pimenta: o tempero da primeira corrupção
DEONÍSIO DA SILVA*
 
No Brasil a corrupção começou ainda no Descobrimento. A viagem de Pedro Álvares Cabral foi financiada em grande parte pelo rei Dom Manuel.
 
O dinheiro tinha sido arranjado pelos diplomatas portugueses junto às casas bancárias dos Médici, na Itália.
 
Ao voltar a Portugal, depois de perder metade das naus (partiu de Lisboa com 13 naus, voltou com apenas seis) , Cabral recebeu autorização para superfaturar o carregamento de especiarias trazidas do Oriente.
 
A pimenta, o cravo, a canela, a noz moscada e o gengibre foram vendidos a peso de ouro.
 
Poucos professores de História explicam direito aos alunos por que razão as especiarias valiam tanto.
 
A mim explicaram nos meus mais tenros anos, ainda no Seminário São Joaquim, em São Ludgero (SC), cujo professor desta matéria, aliás, era o Padre Ludgero Waterkemper, xará do santo.
 
Professor de História e Geografia, exercia também as funções de ecônomo, isto é, o padre responsável por não faltar alimento para todos os habitantes daquele imenso prédio.
 
Voltemos à pimenta e às outras especiarias. Quando se aproximava o inverno, os camponeses europeus precisavam abater boa parte de bovinos, ovelhas e cabras porque logo as nevascas e a geada acabariam com os pastos, matando os pobres animais de fome.
 
O sal conservava um pouco os guardados, mas somente com molhos muito apimentados era possível digerir aquela carne.
 
Mas a pimenta era muito cara. Antes dos Descobrimento, era comprada na Índia (primeiro imposto) de onde seguia para Meca (segundo imposto), dali ia pelo Mar Vermelho até Ormuz (terceiro imposto), de onde partia para a Judeia (quarto imposto).
 
Seguia então em lombo de camelos para o Cairo (quinto imposto), depois para Roseta (sexto imposto) e enfim chegava a Alexandria (sétimo imposto).
 
Ali, galés vindas de Veneza e Gênova pegavam a pimenta e a distribuíam por toda a Europa.
 
Imagine a que preço o tempero chegava à mesa dos camponeses que tinham sacrificado as reses à entrada do inverno.
 
Depois da queda de Constantinopla, em 1453, ficou ainda pior: os árabes deram o monopólio do comércio da pimenta aos venezianos.
 
Inconformados, os genoveses financiaram a Era dos Descobrimentos, ajudando não só com dinheiro, mas também com geógrafos, pilotos, letrados etc. , fornecendo, além dos recursos financeiros, uma vasta e complexa mão de obra, boa parte obtida nas ordens religiosas.
 
Junto com Cristóvão Colombo, de Gênova, viajava Américo Vespúcio, de Florença, que trabalhava para os Médici.
 
Por isso, há tantos segredos ainda nos descobrimentos da América e do Brasil. E por isso o nome do continente é América e não Colômbia.(xx)