M. T. Piacentini

--- Ouço a toda hora a expressão “pessoa humana” dita por gente acima de qualquer suspeita. Não seria uma danada de uma redundância? Cao Hering, Blumenau/SC


Aparentemente, “pessoa humana” é uma redundância. Ou “pessoa” ou “ser humano” – basta um ou outro. Mas então por que é que em textos jurídicos, sobretudo na área de Direitos Humanos, encontram-se os dois termos juntos? Vejamos um exemplo:
 

Procura-se psicopata que vá à televisão pedir desculpas por torturas, como se esses atos de supremo agravo aos direitos da pessoa humana fossem perdoáveis venialmente.


A explicação está em que neste caso é necessário distinguir a pessoa de direito privado ou pessoa jurídica (que seria uma sociedade, uma empresa, uma organização), que também tem seus direitos e pode sofrer danos, da pessoa física, que é a pessoa natural ou pessoa individual: o sujeito de direitos pelo fato de pertencer à espécie humana.


--- A palavra reuso é acentuada? Claudia Rodrigues do Nascimento, Fortaleza/CE

--- A palavra reuso tem hífen? Roseana Rodrigues, São Paulo/SP


Não tem hífen, mas tem o acento gráfico para marcar a sílaba tônica no U: reúso. Sem acento você pronunciaria o eu como ditongo /reu/, e não como hiato, em que o u é pronunciado sozinho numa sílaba: /re-ú-so/. Se fosse grafado “reuso”, uma pessoa desavisada (já que é novidade e não aparece nos dicionários) poderia ler /reu-so/ como se lê deusa e Neusa. Este vocábulo tem sido utilizado geralmente em relação aos recursos hídricos:


O uso controlado e o reúso da água estão contemplados na nova política ambiental da instituição.


--- Quanto ao uso dos verbos, estas frases estão corretas? Ele reaveu os bens que havia perdido. Se ele ver você na rua, não ficará contente. W.R.C., Araçatuba/SP


Quanto à primeira frase, nem *reaveu, nem *reaviu, pois o verbo reaver deriva de haver [re + haver sem o h], e não de ver. Ele é conjugado somente nas formas em que a letra v aparece nas flexões do verbo haver. Por exemplo, no tempo presente conjuga-se hei, hás, há, havemos, haveis, hão. Então, no caso de reaver, só temos as formas reavemos e reaveis. Trata-se de um verbo defectivo. Não existe o subjuntivo presente nem o imperativo. Nos outros tempos, segue-se o verbo haver, como foi dito:


Ele reouve, logo, os bens que havia perdido.

Se os rebeldes reouvessem as armas que lhes tiramos, voltariam a atacar.


A segunda frase – Se ele ver você na rua, não ficará contente – contém uma impropriedade linguística do ponto de vista da norma culta ou da língua-padrão, já que o verbo ver é irregular, devendo ser conjugado assim no futuro do subjuntivo: se/quando eu vir, vires, vir, virmos, virem. Na hora de falar, poucas pessoas o usam assim. Porém, numa linguagem mais monitorada é solicitada essa conjugação, como nos seguintes exemplos:


Se eles virem você na rua, não ficarão contentes.

Quando eu vir
o João, vou lhe dar o recado.

Por favor, diga à sua diretora, se você a vir ainda hoje, que o relatório está pronto.

Se não nos virmos mais, boa viagem!