PERDER UM LIVRO
Por Washington Ramos Em: 05/01/2025, às 10H50
{Washington Ramos}
PERDER UM LIVRO
Eu sempre procuro evitar qualquer tipo de preocupação ou chateação com o que quer que seja. Sigo um ensinamento de S. Paulo que diz que não devemos nos preocupar com nenhuma coisa. Porém, um dia após o Natal, me aconteceu algo que me irritou e me entristeceu bastante.
O negócio foi o seguinte: de tanto ouvir amigos falando a respeito da minissérie sobre Cem Anos de Solidão na TV (parece que agora chamam é de streaming) e de ver na web comentários sobre essa série, resolvi reler o livro. Eu havia lido essa obra-prima há muito tempo e pouco me lembrava de seu enredo.
Fui, então, à procura dessa narrativa nas livrarias. Depois de perambular por várias, encontrei o livro numa no Centro de Compras da Beira do Rio. Custou 63 reais. Fui para casa na maior alegria e expectativa, doido para começar a releitura. Ao chegar e retirar as coisas de dentro do carro, pois havia feito outras compras também, percebi que o livro não estava. Levei um choque. Senti um enorme mal-estar. Era como se alguém estivesse me acusando de um grave erro. Ou melhor, de um crime vergonhoso que prejudicasse um inocente.
Voltei imediatamente ao Centro de Compras da Beira do Rio e fui à seção de achados e perdidos. “Não, não tem nenhum livro aqui, não!” foi o que a moça me disse. Fui, então, ao supermercado, e lá foi a mesma coisa: “Não, não tem nenhum livro aqui, não!” Saí do supermercado dizendo baixinho a mim mesmo, segurando minha raiva para não gritar: “Algum cliente desonesto achou meu livro e ficou com ele.” Em seguida, me dirigi ao guichê onde se paga o estacionamento. O rapaz foi taxativo: “O senhor saiu daqui com o livro, não ficou aqui, não!” Fiz e refiz o percurso entre o guichê e o local onde o carro ficara na primeira vez em que entrei no Centro de Compras para ver se o livro estava no chão, talvez tivesse caído, e eu não percebera. Mas, nada! Nem sinal do livro!
Desolado, me chamando do idiota por ter perdido um objeto tão precioso, voltei para casa, e, quanto mais o tempo passava, mais aumentava minha vontade de reler Cem Anos de Solidão. Pensei em comprar outro exemplar. Contudo joguei fora essa ideia e resolvi que iria pedir emprestado a meus amigos. O primeiro que me veio à mente foi o Dilson. Ele com certeza deve ter esse romance. Iria pedir pelo Whatsapp.
Quando cheguei à minha casa, resolvi dar mais uma olhada no chão do carro, e lá estava ele, o livro, atrás do banco do motorista, sobre o tapete de borracha preta. Que alívio! Tirei da consciência um enorme peso que estava ameaçando me esmagar por um longo tempo.