Pequena bateria de poemas de Eduardo Lins
Em: 21/02/2019, às 16H00
#MINIBIOGRAFIA
Eduardo Lins Cavalcante nasceu em 6 de dezembro de 1994 em Teresina. É o membro nº 19 da Academia Piauiense de Poesia – ACAPP, com patrono Licurgo de Paiva, e é bacharelando em Direito na Universidade Estadual do Piauí. Estagiou na Procuradoria Geral do Município de Teresina.
Foi, por dois anos, produtor e apresentador na TV Assembleia Legislativa do Piauí, onde produzia o Pauta Cultural, de Alexandra Teodoro, e apresentava o Arte Inclusiva. Fundou e dirigiu o extinto jornal online Folder da Cultura.
É ator de Teatro e Cinema, gostando de dar destaque para: 1) O Jogo de Inácia, de Marcos Aureliano; 2) Dolores, e Dolores e os remédios para dormir, de Ithalo Furtado; e 3) Tubarões, do próprio Eduardo Lins. Já trabalhou também, sendo dirigido, com Well BM, Gilvana Morgana, Moisés Chaves, Adalmir Miranda, Franklin Pires, Arimatan Martins e outros.
Como escritor, além do monólogo Tubarões, tem publicado um livro de poesia (Esperanças, Dinheiro, Ócio e Besteiras), trabalhos jurídicos e prosaicos. Atuou em Roleta Russa em trânsito, pelo qual ganhou, junto a Taiguara Bruno e Marcos Aureliano, o prêmio de Melhor Roteiro Nacional de Curta Metragem no Encontro Nacional de Cinema dos Sertões 2017. Apresentou discussões acadêmicas no X Encontro Nacional da Associação Nacional de Direitos Humanos, Pesquisa e Pós-Graduação – ANDHEP e na Semana Científica 2018 do Centro Universitário Santo Agostinho.
#POEMAS
1. Teus atos, Meus fatos
Te vejo chorando aí sozinha pelos fardos da vida
Mas te quero sonhando com seu doce encanto de menina
vou te ver cantar, gritar que é bom ter quem amar,
Então o seu olhar me ganha e dá um brilho ao ar.
Estás bem vivendo, enquanto eu penso em uma flor,
Que já tem tempo que ganhou de um possível amor
Mas te ver cantar, gritar que é bom ter quem amar
Quero admirar como se fosse o meu altar.
Meu único coração para uma única pessoa
Não falo isso em vão, e nem quero dizê-lo à toa.
Ah, te ver cantar, gritar que é bom ter quem amar,
E logo logo me falar que esse alguém sou eu...
Ah, como é bom sonhar!
E assim, feliz, ficarei quando unir-se a mim
E nunca, nem por um triz, pensarei que te esqueci.
Porque te ver cantar, gritar que é bom ter quem amar,
Quero admirar como sendo o meu altar.
Porquanto teus atos são meus fatos
Abstratos do coração,
Que implora em vão a tua atenção
com tristeza maior do que dor de sezão.
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2. Desarmado
Eu nunca vivi um mar de rosas,
E em nada mais eu acredito
– é um alívio ou um desastre viver sem direção?
Eu ando na contra mão
Com uma ideia sem explicação
(sendo mais um boa vida)
Onde está a concepção?
A análise do buraco negro
revelou que da educação
Se ausentou aquela base da razão.
A mensagem que quero dizer
não sei como explicar...
só sei que eu quero o meu lugar!
E quem conhece o espírito das leis
Ou venceu todo o seu desejo?
Esse é o enigma a desvendar.
E será se consigo imaginar
quando posso confiar
Em alguém que venda
o meu direito de sonhar?
Com tudo isso é tão estranho
O desinteresse dos atos humanos:
Sem desconfiança me vem o meu ledo engano.
Meu Deus, me diz o que eu faço?
Meu Deus, eu não sou de aço!
A paz dos fortes é um grande descompasso.
Desarmado e enrolado,
sigo desolado neste estado:
Fadado a ser baleado.
Furado e errado sou enganado,
E agora, armado,
quero ser vingado!
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3. Res Cogitans
Quero puxar um verso, mas não sei sobre o quê,
Queria algo pesado como a bigorna
E ao mesmo tempo doce como glacê.
Que enfeite bem como a prata adorna
A face corada de uma linda mulher.
Decorando bem a sua faceta,
Embelezando-a da cabeça aos pés.
Quero alcançar o ideal da beleza grega,
E escrever como os simbolistas escrevem,
Engraçando-me com qualquer objeto,
e atrevendo-me como um romântico se atreve.
Para que ninguém passe reto
Sem que, antes, leia algum texto meu.
Para que se aproveite dele tanto o cristão
Tanto quanto encanta ao ateu.
Que crie respeito como o furacão,
Que faça o leitor pensar enquanto lê,
Queria algo pesado como a bigorna
E ao mesmo tempo doce como glacê.
Que alguém me dê uma rima, por favor!
Quero fazer um poema que atina
Mas não quero falar de amor,
Desejo embelezar algo que seja da rotina.
Busco, enquanto ser pensante,
Poetizar sobre o chão, a lua, o navegante.
Assim é o melhor poeta, mesmo que errante,
Sempre procura fazer algo marcante.
Reinventando todo o contingente
De coisas banais na vida da gente.
E o realiza assim, firmemente,
Poetizando sobre a poeira e um dente.
Sendo assim tenho muito a melhorar
Sobre como escrever e com as palavras brincar.
Pra, quando pensar sobre a arara e o carcará,
Que eu já tenha aprimorado o meu poetizar.
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4. Sem Título
É tão difícil entender que haja complicação
Quando dois se amam e ambos se querem sempre
Mais que amigos e que tudo então.
Unidos por tudo mas soltos por nada:
Por que é que tem que ser assim?
É tão mais fácil agir sem negar a vontade
De matar a saudade e sorrir...
Eu pediria um mar de rosas
Mas pra quê se todos têm defeitos?
Por vezes cede, mas não dobra
E eu mesmo também sou alguém sem jeito:
Sempre questionando e indagando
Filosofias desprovidas de lógica
– platonismo puro,
Sem dialética além da retórica.
Não preciso dizer que, se ficarmos juntos,
Seria melhor!
Preciso mesmo pedir pra que fiquemos juntos?
Seria melhor se fosse sempre assim:
Você tão perto de mim…
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5. Corifeu dos "Pés Inchados"1
Estou aqui cuidando dos negros
(aquele milhar de pequenos negros para os quais
noutro dia demos os nomes
para todos, sem esquecer nenhum)
e estou, aqui, pensando no apego
àquela que, lá dentro, está mais
concentrada noutro nome...
E que não nego de jeito algum
que seja incrivelmente atraente
na sua poderosa concentração
na arte de remodelar
o que a natureza criou.
E que meu ser também entende
na sua arte, na sua atuação,
alguém a se admirar
porque nisso põe tanto amor.
Ó Corifeu dos "Pés Inchados",
entrega-te a criar e transformar
(com sua poderosa imaginação)
a presença que tem essa menina!
Ó amor meu, que há a mim ganhado,
entrega-te para amar e apostar
que podes reinar meu coração
enquanto desfrutamos cajuína!