[Maria do Rosário Pedreira]

Às vezes, dou comigo a pensar em palavras e ando com elas imenso tempo na cabeça. A minha avó nunca dizia «estore», usava a palavra «gelosia», e curiosamente «gelosia» é também o vocábulo italiano para «ciúme»: um ciumento é um «geloso», palavra que se aproxima do «celoso» espanhol, que tem o mesmo significado, por sua vez próxima do termo português «zeloso», que hoje tem pouco que ver com ciumeiras e com as gelosias através das quais podemos espreitar o que andam a fazer as pessoas que nos provocam ciúmes. Será que uma «gelosia» tem realmente que ver com a outra? Confesso que achei graça à imagem da espreitadela, mas não estou certa. Por outro lado, achei um dia destes que também poderiam ser aparentadas as palavras «asilo» e «exílio», uma vez que os exilados pedem muitas vezes asilo nos países para onde fogem ou são enviados, e ao ouvido o som nem é assim muito diferente; mas aqui a etimologia é claramente distinta: enquanto o asilo, na base, quer dizer refúgio, lugar protegido, o exílio está ligado a degredo e banimento e inclui a partícula «exil», que indica desde logo algo exterior, que fica fora. E, pronto, hoje era só isto.