Pedro Nava: 1903-1984
Em: 01/04/2013, às 07H51
Em 13 de maio de 1984, o Jornal do Brasil noticiava a morte do escritor Pedro Nava:
"Naquela altura ele ficou distante, transmudou-se na coisa além das afeições, das convenções, dos contratos, das reciprocidades"
Pedro Nava, em Baú de Ossos
Encostado a um oitizeiro na Glória, bairro em que morava há mais de 40 anos, no Rio de Janeiro, o médico e escritor Pedro Nava, 80 anos, foi encontrado morto, com um tiro na cabeça. Segundo a perícia, o próprio Pedro atentou contra sua vida.
Conforme seu último desejo expresso em cartas a vários amigos, entre os quais o poeta Carlos Drummond de Andrade e o bibliófilo Plínio Doyle, seu corpo foi embalsamado, e velado no cemitério do Caju, numa capela que abrigava, além do caixão rodeado por palmas e pétalas de rosas, familiares e amigos. Também ainda a um pedido seu, foi sepultado junto de sua mãe.
O que se apagou na noite de um domingo, com a morte de Pedro Nava, foi muito mais do que a luz de um círio, aquele perfeito e consumado círio de que fala o título do seu último livro, publicado às vésperas do Natal do ano anterior. Apagou-se isto sim, uma enorme e luminosa fogueira de talento e verdade, à beira-mar acessa justamente num momento em que a navegação da inteligência nacional se fazia em meio à treva e em sentido contrário aos ventos do silêncio. Foi em 1972 que Nava publicou Baú de Ossos, o primeiro de seis volumes em que se desdobram as suas memórias, com as quais, ele passou sem transição da categoria "algo ambíguo de autor bissexto" para o "plano mais rarefeito dos grandes escritores".
Filho de médico, Pedro Nava nasceu na cidade mineira de Juiz de Fora em 5 de junho de 1903, onde fez seus estudos primários. Cursou humanidades como interno no Colégio Pedro II, no Rio. Formado em Medicina pela Universidade de Minas Gerais, em 1927, clinicou e Juiz de Fora, Belo Horizonte e Monte Aprazível, interior de São Paulo. Transferiu-se para o Rio em 1933. Dirigiu hospitais e lecionou em universidades. Publicou cerca de 300 trabalhos científicos sobre a sua especialidade, a reumatologia, presidindo a Sociedade Brasileira de Reumatologia e a Pan Americana League Against Rheumathism.
Embora só em 1972 tenha estreado literariamente, em livro, participou ativamente do movimento modernista em Minas, colaborando em A Revista. Um de seus famosos poemas, O defunto, figura na Antologia de poetas brasileiros bissextos contemporâneos, organizada por Manuel Bandeira.
Suas memórias começaram a aparecer em 1972, com Bau de Ossos (Prêmio Pen Clube e Associação Paulista de Críticos de Arte), seguido de Balão Cativo (1973), Chão de Ferro (1976), Beira-Mar (1978), Galo das Trevas (1981) e Círio Perfeito (1983).