Passeio pelo Shopping
Por Cunha e Silva Filho Em: 18/09/2021, às 19H08
PASSEIO PELO SHOPPING (12)
Cunha e Silva Filho
Acompanhado de minha família, lá vou eu, após um bom almoço, dar uma passadinha num shopping da Tijuca, nesse domingo chuvoso carioca. É claro que cada um de nós, minha mulher, meu filho Alexandre (o outro, o Francisco Neto, está no frio de Curitiba) e eu, ao entrarmos no grande shoppping, tem um objetivo especial, ou melhor, uma preferência íntima, para ali passar algum tempo. O da minha mulher, a se ver pela direção que toma, é costumeiramente olhar as vitrines das lojas, parar alguns instantes numa delas, olhar os produtos, verificar os preços e, em seguida, deslocar-se para outras lojas, sempre parando em cada uma delas para seguir o mesmo ritual: olhar objetos à venda, ver os preços e me dar a impressão de que deseja comprar alguma coisa.
Mas, observo com cuidado que a loja que mais lhe chama a atenção é a de joias ou de bijuterias. Nesta ela demora mais tempo. Fixa os olhos no brilho daquelas peças, desde as maiores até as minúsculas feitas de ouro, prata, diamante (Onde estão os famosos diamantes raros das aulas compassadas do saudoso professor de ciências do Domício, o professor João Antônio, que também, se não me engano, era professor de educação física, alto, meio magro, calvo, paciente, educado, voz tranquila, que, segundo papai, ocultava um homem de muita força física e imbatível na quebra de braço das mesas boêmias regadas a cerveja de bares teresinenses lá pelos anos cinquenta do velho século passado?), pedras preciosas ou semipreciosas ou de outras espécies: água-marinha, esmeralda, ametista, opala, pérola, rubi, safira, colares em forma de brincos, pulseiras, anéis, cruzes, brincos, pingente, broche, colares, relógios de diferentes designs e das mais custosas marcas.
Ao lado de minha mulher, fico dando algum palpite somente para não a contrariar. Logo me vem à lembrança os poucos dias que compareci à elegante H. Stern na condição de trainee para me preparar para a função do que chamavam de guide-tour, - período de treinamento rápido ao final de cuja aprendizagem éramos destinados a acompanhar sobretudo clientes estrangeiros por vários andares do prédio-sede, mostrando-lhes como eram preparados e lapidados os diversos tipos de joias feitas de várias espécies de pedras preciosas desde as menos raras às mais sofisticadas e dispendiosas só ao alcance de milionários
Cada trainee tinha um instrutor que nos acompanhava mostrando as diversas workshops e as muitas fases de preparação daqueles produtos de beleza exuberante, de cores, brilhos e tamanhos diferentes. As explicações dos instrutores eram dadas em inglês, francês, espanhol e italiano, conforme fosse a língua ou línguas do domínio do trainee. Era um treinamento exaustivo, pois tínhamos que memorizar uma apostila no idioma escolhido por nós.. Eu tive certa dificuldade de memorizar com perfeição todas aquelas fases de preparação das joias e me atrapalhava todo trocando as fases de preparação das joias até o seu acabamento final. Eram vários os instrutores que nos ensinavam essas etapas. Alguns dominavam bem a língua; outros eram menos fluentes e não tinham boa pronúncia.
Me lembro de que um deles, um italiano, uma vez me acompanhou fazendo uma exposição muito rápida e demonstrava pouca paciência em ensinar-me. Era antipático e malcriado e me falara que eu não tinha memorizado como devia para exercer a tarefa. Achei que aquilo me humilhou e terminei desistindo de continuar o treinamento. Além disso, achava chato aquele ritual pelo qual passávamos. Um outra razão para meu desestímulo era a obrigatoriedade de usar terno e gravata. Acontecia que só tinha um terno e me envergonhava de estar todo dia lá envergando o mesmo terno. O de que precisava urgente era ganhar dinheiro para tocar a vida, enquanto não entrava para a universidade.
A única coisa boa que aconteceu foi ter encontrado uma colega de trainee, uma jovem simpática, fluente em inglês, porquanto tinha na época há pouco chegado do Canadá e estava com o inglês fluente. Acredito que tenha sido aproveitada para a função. Essa jovem me achava parecido com o cantor Paul Anka e me dizia que, daquele grupo de jovens que faziam parte do treinamento, só eu lhe parecia um jovem verdadeiro, diferente daqueles outros jovens que para ela não passavam de gente artificial, burguesinhos sem graça, emproados e vazios. Não sei se a declaração daquela jovem escondia alguma admiração além da simples amizade. Tempos, depois, casualmente a vi na Rua das Laranjeiras. Trocamos algumas palavras e nunca mais nos vimos.
Prosseguindo o nosso passeio pelo shopping, fomos nos pesar numa balança de uma farmácia. Em seguida, entramos numa livraria, a Saraiva. Tenho um vício danado, que é o de entrar em livrarias e, ao mesmo tempo, tenho uma frustração, a de sair de uma livraria e não comprar um livro sequer. Meus dois filhos são igualmente vidrados em livros e até nas livros de sebos, que hoje podemos encomendar pelas livrarias virtuais.
Tenho observado nas livrarias um dado novo relacionado a línguas estrangeiras. Era algo impensável no passado: a quantidade de autores e de livros para o ensino de línguas estrangeiras dos idiomas vivos mais conhecidos e - grande surpresa - nas línguas que nem pensávamos que hoje seriam procuradas por interessados, como o russo, o árabe, o japonês, o chinês, o russo, o aramaico, o hebreu, o holandês, o grego e o latim e línguas de outras origens exóticas - fruto certamente da globalização da economia mundial.