Será que terão mais sorte do que seus irmãos tortos, os jumentos? Estes, há muito vêm sendo desprezados por seus donos, que preferiram substituí-los por motocicletas, senão mais possantes, bem mais rápidas, que vão aonde aqueles iam e sujam menos. Tanto é assim, que os coitadinhos dos jegues estão a um passo de virarem manjar na China. Dizem que a terra dos mandarins tem potencial para importar até um milhão deles por ano, para transformá-los em fina iguaria. E os burros, para onde irão? Não fui eu que ouvi, mas não tenho nenhum motivo para desacreditar no amigo que me falou a respeito. Disse-me ele haver sabido que um candidato a prefeito municipal – teria, acaso, querido ser irônico como aquele ex-governador que, enquanto titular do executivo, levou-os e a seus donos para pastarem e visitarem o palácio de onde despachava ordens e decisões governamentais? – ou, um tanto pitoresco, ou melhor, quixotesco, como o outro – que Deus o tenha –, trabalhador incansável e sonhador quimérico com barca do sal, asfalto branco, praia artificial e que tais? -, como promessa de campanha, e visando minimizar o maltrato aos animais domésticos, inclusive, os que atuam como força motriz ou instrumento de trabalho, informou a seus pretensos eleitores, críticos e adversários, que pretende retirá-los da frente das carroças, que passarão a ser motorizadas. Haja burro desempregado e carroceiro sem ganha-pão. Talvez em outro momento da campanha, depois de conversar com seus correligionários e patronos, informe-nos como fará para que os donos das carroças, no mais das vezes, indivíduos que apenas sobrevivem com o que conseguem graças a seus burros, arranjem dinheiro a fim de adquirir os motores que substituirão seus animais. E, obviamente, também, mais um jogo de rodas, eixo, pneumáticos, além de um volante, para que o novo e moderno veículo, a carroça automóvel, transite pelas vias públicas e privadas, transportando fretes e encomendas. O combustível não será problema: hoje, o motor, ou melhor, o burro, alimenta-se de milho e de algum outro tipo de ração vegetal; com a mudança da tração animal para motorizada, talvez seja utilizado álcool, gasolina, a mistura dos dois – vai que o possante seja bicombustível, flex - ou óleo diesel. Quem sabe, logo, logo, claro que antes do pleito eleitoral, venha-se a saber como se dará o financiamento do motor e demais equipamentos necessários à motorização da ex-carroça de tração animal; quem os bancará e em que condições; quem os produzirá em escala industrial, quem os instalará. Na mesma oportunidade, alguém já poderá haver pensado, tido uma ideia, uma sugestão do que será feito, para onde irá o defasado, preterido e superado ex-motor, o velho e bom burro. Como eleições novamente somente em dois mil e dezoito, quem sabe, até lá, um iluminado empreendedor não crie a associação dos ex-burros carroceiros e lance alguns dos filiados à carreira política. Burro para governador, deputado, senador e até presidente da república, já imaginaram? No passado, houve macaco candidato – e muito bem votado - papagaio, jabuti. Os asnos, muares ou mulas, como conhecemos nossos incansáveis burros que, sabidamente, são extremamente produtivos e trabalhadores, não farão feio. Com bons headhunters e conselheiros, irão longe. Um pouco da atenção dos senhores, carroceiros: não vão com muita sede ao pote; não vendam, não troquem, nem façam qualquer negócio com seus burros até que venha o resultado das eleições: e se o candidato que se comprometeu a possibilitar a motorização das carroças, não vencer o pleito? Será que o vencedor e novo prefeito assumiria essa utópica, quimérica – para não chamar de demagoga ou quixotesca – proposta do candidato perdedor? Mesmo que ele vença as eleições, ainda assim, esperem até que assuma, ou um pouco mais adiante: a história política tem registrado incontáveis casos de candidatos que, antes da votação, prometem mundos e fundos e depois dela, simplesmente, tornam-se amnésicos. Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected]