Elmar Carvalho

 
Mais uma vez em Parnaíba. Mais uma vez com a finalidade de proferir palestra sobre a Literatura Parnaibana, como parte das comemorações aos 300 Anos de História de Parnaíba, tomando-se como marco a data em que o governador do Bispado do Maranhão teria autorizado a construção da ermida de N. S. de Monserrat, descoberta faz pouco tempo, na rua Duque de Caxias, nas proximidades do Porto das Barcas, cuja data foi convertida por lei como uma das efemérides magnas do município. A igrejinha estava camuflada há muitos anos pela marquise e outros apetrechos de loja comercial. Um dos coordenadores da programação comemorativa foi o Vicente de Paula Araújo Silva, que foi um dos mais assíduos colaboradores do jornal Inovação, com a sua série de Missivas a Simplício Dias, que ele pretende enfeixar em livro. O Vicente é hoje um dos mais profícuos e diligentes historiadores de Parnaíba, inclusive com elucidativos estudos genealógicos referentes a velhas estirpes do norte do Piauí.
 
Na minha palestra, que era sobre literatura em sentido estrito, falei nos periódicos e nos livros que mais divulgaram a arte literária parnaibana. Nesse segmento de minha fala, dediquei bom espaço ao jornal Inovação e ao Almanaque da Parnaíba, que ainda hoje circula, porém como revista da Academia Parnaibana de Letras. No Almanaque, ainda sob a direção de Ranulfo Torres Raposo, na segunda metade da década de 1970, foi publicado um poema de minha autoria, sobre Pedra do Sal, cuja beleza ímpar sempre me encantou, desde 1975, quando vim morar em plagas parnaibanas, juntamente com minha família. O poema foi estampado no periódico graças ao professor Joaquim Furtado de Carvalho, primo de meu pai, que também foi colaborador do anuário. Perdi a cópia do meu poema, e nas minhas várias mudanças extraviei o exemplar em que ele se encontrava estampado. O professor Joaquim, solteirão, tinha uma conversa agradável, atraente, e falava a língua inglesa com muita fluência, tanto que era amigo do professor Antônio Gallas, com quem entretinha conversação nesse idioma. Embora contido e até mesmo recatado, no poema publicado no Almanaque da Parnaíba, o meu parente, num arroubo digno de um adolescente, ao falar na saudade, que se dizia roxa, também falava na beleza de certo feminil palmo de coxa, em poética imagem, devidamente rimada e metrificada.
 
Voltando à bitola de minha palestra, citei os livros que mais difundiram a poesia parnaibana, entre os quais o A Poesia Parnaibana, que idealizei, e cuja publicação consegui através do amigo Eliseu Fernandes Monteiro Filho (o Tourinho), então sub-chefe de gabinete do governador Moraes Souza. Nesse livro foram publicados os principais poetas parnaibanos, tanto os antigos como os novos. Entre os críticos e historiadores de literatura, considero que é o Alcenor Candeira Filho quem mais tem falado sobre a literatura e sobre os escritores locais, em seus vários trabalhos e livros sobre o assunto, especialmente na obra Aspectos da Literatura Piauiense, na qual enfeixa vários ensaios e monografias a esse respeito. Disse que o livro A Poesia Piauiense no Século XX, organizado por Assis Brasil, publicado pela Imago, em parceria com a Fundação Cultural Monsenhor Chaves, quando eu tive a honra de ser o presidente do Conselho Editorial dessa entidade pública, acolheu vários poetas parnaibanos, cujos nomes referi. Creio ser essa obra uma das principais antologias da poemática piauiense. Mas citei vários outros livros, entre os quais Poemágico – a nova alquimia e Poemarít(i)mos, que divulgaram bem alto a poesia produzida por parnaibanos, natos ou que se fizeram parnaibanos.
 
Quando, porém, fui falar sobre os poetas que, no meu entendimento, tanto pelos aspectos quantitativos e sobretudo qualitativos, bem como pela dedicação e persistência, mereciam ser nomeados, tive o cuidado, para não ferir suscetibilidades mais delicadas e melindrosas, de dizer que toda lista inevitavelmente sofrerá o reparo de quem não foi mencionado, seja sob o argumento de conter inclusão indevida, seja de ter injustamente excluído alguma personalidade das letras.
 
Finalizando, disse que não era a pessoa mais indicada para falar sobre a literatura atualmente produzida em Parnaíba, em razão de meu afastamento físico, de minha falta de acesso a esses textos, mas também porque, a meu juízo, somente o tempo, através da persistência do escritor em sua vocação, da receptividade de sua obra, da fortuna crítica que venha a amealhar, do próprio distanciamento no tempo, que dá uma maior imparcialidade à judicatura crítica, é que iria assinalar o literato que realmente é detentor de uma legítima vocação, e que não faz literatura apenas por diletantismo, vaidade ou empolgação momentânea.
 
Como uma homenagem à juventude estudiosa e aos jovens escritores de Parnaíba, após traçar um paralelo entre os jornais Inovação e O Piagüí, li um pequeno texto que sobre este último periódico escrevi, do qual transcrevo, para encerrar este registro, o seguinte trecho: “Para mim, com sinceridade devo confessar, a equipe do Piagüí é a mais brilhante geração surgida após o Inovação, sobretudo porque infensa a radicalismos e individualismos tacanhos e improdutivos”.