[Maria do Rosário Pedreira]

Há encontros de escritores que são feiras de vaidades, onde falsos génios deambulam de nariz arrebitado e não existem conversas que não sejam maledicentes. Há outros, demasiado profissionais, nos quais impera o academismo em excesso – e daí ao bocejo é um instantinho. Há ainda aqueles em que nos divertimos muito e ouvimos histórias que nos transformam. Mas, em qualquer encontro de escritores, há pessoas que valem a pena e nos fariam pagar bilhete só para privar com elas alguns minutos e as ouvir falar das coisas mais comezinhas. Não há muito tive um desses momentos de prazer com aquele que julgo o maior nome da cultura portuguesa – esse mesmo em que estão a pensar. Acordáramos ambos preocupados com o que se estava a passar na Líbia e, juntos, corremos à papelaria em busca de um jornal. Como já não havia aquele que compraríamos num dia normal, eu acabei por desistir (pensando que, mais tarde, recorreria à Internet para me pôr em dia), mas ele aceitou levar um outro, de que a papelaria ainda dispunha. Sentámo-nos depois num sofá lado a lado – e ele foi folheando com calma e comentando as notícias até chegar àquelas páginas de anúncios muito sugestivos, que não só oferecem serviços óbvios, como ainda os ilustram com ligas, nádegas, seios e outra iconografia do tipo. Olhou para mim e disse-me: “Já viu? Este é o maior bordel portátil da Europa!” Genial, como sempre.