Padre Tomé de Carvalho e Silva
Reginaldo Miranda
Da Academia Piauiense de Letras
 
O padre Tomé de Carvalho e Silva foi o primeiro vigário do Piauí, fundador da freguesia de Nossa Senhora da Vitória do Brejo do Mocha do Sertão Piauí, onde tomou posse em 2 de março de 1697, com o beneplácito de seu primo, o também vigário Miguel de Carvalho e Almeida, da freguesia do Rodelas, de onde foi aquela desmembrada e que lhe deu posse.
 
Nasceu esse pioneiro vigário em Bragadas, minúscula povoação da freguesia de Santo Aleixo de Além Tâmega, do concelho de Ribeira de Pena, comarca de Guimarães, Arcebispado de Braga, no norte de Portugal. Era filho legítimo de José da Silva e de sua mulher Catarina de Almeida(2ª), do lugar de Bragadas, freguesia de Santo Aleixo, do concelho de Ribeira de Pena, comarca de Guimarães, Arcebispado de Braga, esta irmão do capitão Miguel Carvalho de Almeida (pai do Pe. Miguel de Carvalho), ambos filhos de Domingos Carvalho e Catarina de Almeida, primeira do nome, todos naturais e moradores em Ribeira de Pena.
 
Foi batizado o nosso biografado em 23 de janeiro de 1673, na freguesia de Santo Aleixo, pelo padre Antonio Pacheco, sendo padrinho seu parente homônimo Thomé Carvalho e madrinha sua irmã Domingas Carvalho.
 
Pouco sabemos de sua vida escolar, sendo plausível que tenha seguido os passos do primo Miguel de Carvalho, que cursou os estudos iniciais na terra natal e os superiores com os jesuítas no Seminário de Braga, onde se ordenaria.
 
Logo depois da ordenação, com 24 anos de idade, o jovem padre Tomé de Carvalho, por via de seu indicado primo, foi chamado a assumir uma missão de alta importância, instalar uma paróquia no sertão íngreme e desenvolver atividade missionária desde a margem ocidental do médio curso do rio São Francisco até os desconhecidos limites das terras de Espanha. Era a freguesia de Nossa Senhora da Vitória do Brejo do Mocha do Sertão do Piauí. Com ele, também viera do reino outro primo, o padre Inocêncio Carvalho de Almeida, irmão daquele, sendo, assim, os três parentes, todos da mesma localidade, a pequena aldeia de Bragadas, dois irmãos e um primo, fundadores de paróquias e missionários no Sertão de Dentro.
 
Digno de nota é o dignificante trabalho apostolar do padre Tomé de Carvalho e Silva, cujos sermões, onde pregava a palavra de Cristo e difundia o Evangelho, ecoaram em nossos sertões por trinta e oito anos, no tempo de fundação e consolidação da freguesia da Mocha, hoje cidade de Oeiras, por ele fundada. Fez de seu púlpito, nas margens do riacho do Mocha, uma trincheira civilizatória e um farol de irradiação da cristandade. Foi marcante a sua ação evangelizadora, sendo merecedor de todos os encômios de nossa sociedade e da Igreja Católica, porque era vocacionado para a fé e realizou obra notável.
 
Foi co-fundador da freguesia de Nossa Senhora da Vitória, enfrentou a prepotência de sesmeiros a exemplo de Domingos Afonso Serra, que o desacatou em princípio de 1698, expulsando-o da localidade e queimando sua casa, capela e demais instalações preparadas para receber os romeiros. Porém, as reconstruiu com determinação e coragem, primeiro todas de taipa e palha, depois de pedras e saibros, cuja conclusão da igreja matriz deu-se em 1733, quando pediu a El-Rei um sino, uma lâmpada, paramentos, alvas e vestimentas para celebrar com maior grandeza.
 
O Pe. Tomé de Carvalho foi também responsável pela criação de diversos curatos pelas ribeiras mais populosas, conforme testemunhou o governador João da Maia da Gama, em 1728.
 
Paralelamente a essa ação missionária, nesses trinta e cinco anos em que mourejara no Piauí, que elegera como sua nova pátria, também fez-se rico fazendeiro, construindo sólido patrimônio em terra e gado. Nas vizinhanças da morte, quando sentiu que os anos lhe pesavam e era chegada a hora da despedida, chamou o Tabelião da Mocha e ditou seu testamento, onde declara possuir os seguintes bens: três fazendas de gado chamadas Victória, Tranqueira e Caraíba, assim com o Sítio Novo, nos Alongases de Baixo, freguesia de N. Sra. do Carmo da Piracuruca, com os gados delas de seu ferro e sinal, escravos, cavalos de suas fábricas, selas e ferramentas, e o mais que nelas se achasse e por seu fosse conhecido; declarou possuir também uma partida de éguas com seu ferro na fazenda Ilha, de José de Abreu Bacelar, além de alguns outros escravos nominados no indicado testamento e bens móveis existentes em sua casa. Era, assim, um abastado fazendeiro.
 
Para auxiliá-lo na atividade sacerdotal, trouxe inúmeros parentes que fixaram residência no Piauí, entre esses o irmão mais moço padre Miguel de Carvalho e Silva e o sobrinho pela parte paterna padre André da Silva, este último sendo coadjutor em Oeiras.
 
Também, assumindo o encargo de arrimo de família, ajudou a muitos parentes, trazendo para sua companhia os sobrinhos Manoel de Carvalho da Silva e Almeida e Antônio Carvalho de Almeida, ambos filhos do casamento de sua irmã Izabel de Almeida com Domingos Dias, da freguesia de São João de Cabés; ao primeiro mandou, às suas expensas, estudar em Salvador e depois em Coimbra, onde se formou em Leis; ao segundo, entregou a administração de suas fazendas, onde se fez rico fazendeiro, capitão-mor do Piauí e genearca de numerosa e ilustrada descendência; no testamento também consta que trouxera o sobrinho Antonio Sanches, nascido em 5 de outubro de 1709, na freguesia de São João de Cabés, filho do casamento de sua irmã Ângela de Almeida com Manoel Sanches. Esses três sobrinhos foram instituídos como herdeiros universais, dividindo o patrimônio depois de pagas as dívidas e os legados.
 
Depois de desenvolver esse notável trabalho apostolar, falece o padre Tomé de Carvalho e Silva, aos 62 anos de idade, em 18 de setembro de 1735, na fazenda Corrente, com todos os sacramentos e deixando testamento, sendo o corpo sepultado na capela-mor da igreja matriz de Nossa Senhora da Vitória, por ele construída e onde, de seu púlpito, por tantos anos dissera a missa e exortara os fiéis aos bons exemplos do cristianismo. É um dos construtores de nosso Estado, cuja história de vida deve ser preservada para a perpétua memória dos tempos.