Depreendi da leitura que outro dia fiz sobre corrupção, que o abalizado autor não se conformava com o fato de a mídia sempre dar maior relevância ao corrupto do que ao corruptor. Também li, escrita por um não menos tarimbado educador, síntese sobre destino, em que ele dizia que não é por decisão de Deus que existem os doentes, os deficientes, os bandidos, os desmazelados de toda sorte - do contrário, falo eu, não o articulista, seria uma contradição divina a existência de outros seres sadios, honestos, perfeitos física ou moralmente no mesmo espaço-tempo -, e disse mais: que o próprio destino não existe, pois, apesar de não termos poder de modificar o passado, podemos mudar, alterar, transformar o futuro.
     Sem querer contradizer os pontos de vista daqueles mestres, exporei minha versão sobre os assuntos arrolados.
     Penso que, a não ser que o corruptor se valha de ameaça ou violência física - de que seriam exemplos o sequestro e a chantagem - para obter aquilo a que se propõe, não há razão para colocá-lo na mesma condição ou em uma superior à daquele que por ele é corrompido. Acredito que, por se tratar de um ser inteligente, livre e racional, age mais criminosamente o homem que se deixa levar pela lábia ou outra forma de sedução e aceita ofertas, sabidamente inescrupulosas, feitas por alguém que tenta corrompê-lo. Se o corrompido se deixa seduzir por alguém que não lhe faz ameaça real, não o coage nem o constrange violentamente, atos que até poderiam, excepcionalmente, justificar a aceitação de propina ou espúrio favorecimento, não há como atribuir toda culpa ao suposto corruptor. Até porque este elemento não existiria se não houvesse indivíduos que, por fraqueza moral ou se valendo da lei do menor esforço, cedem ao que lhes é exigido ou recebem o que se lhes oferece, seja para facilitarem a ação de quem faz a proposta, seja para se calarem ou desaparecerem do cenário criminoso, se isso for melhor para a execução do intento.
     Não raro, a figura do corrupto se confunde com a do corruptor. Senão vejamos: alguém que, voluntária e, previamente, estabelece um preço para execução de uma tarefa irregular ou facilitação de um procedimento ilegal ou imoral, e em seguida recebe do interessado o valor combinado, estaria ou não acumulando as duas funções? Esse tipo híbrido vem proliferando, e não é de agora, em diversas instâncias do poder público. A mídia não cansa de falar neles.
     Quanto ao destino, também o considero mutável; mas discordo de que seja uma incompatibilidade humana, uma dualidade, acreditar ao mesmo tempo nele e em Deus.
     Quem acredita em Deus, crê que, para Ele, todos são iguais, ainda que nasçam diferentes e vivam cada um uma individualidade; as doenças e virtudes do corpo vêm em decorrência de sua própria imperfeição, o que se pode tentar entender a partir do seguinte questionamento: se já fôssemos perfeitos enquanto seres humanos, de que nos serviriam as experiências terrenas? Sabem os crentes, que nossa passagem por aqui é uma fase, um período para ganhos e não para perdas; por conseguinte, devemos aproveitá-lo, sejamos sãos, doentes, feios, bonitos, honestos ou desonestos, ricos ou pobres, para acumular pontos qualitativos. Estes, sim, contarão quando da final prestação de contas.
     O destino deve ser tomado como uma estrada que nos leva aonde desejarmos chegar. Pode ser um grande e valioso aliado. Se quisermos que ele nos reserve grandes riquezas, será isso que teremos, certamente. Se, por outro lado, entendermos que nosso futuro não será tão glorioso, ele não será. Os que almejam poder e glória não considerarão coisa do destino decepções sofrimentos, dores; os que previram estes sentimentos em seu futuro fecharão as portas de seu destino a tudo mais.
     Para quem crê, verdadeiramente em Deus, destino é o caminho que o levará até Ele.
          Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal e escritor piauiense ([email protected])