[Flávio Bittencourt]

Os primórdios dos quadrinhos Disney no Brasil

Quadrinhos e livrinhos infantis: objetos do desejo da criançada, há mais de 75 anos, sendo que na revista O Tico-Tico o camundongo Mickey denominava-se Ratinho Curioso, de acordo com Gerd Foerster.

 

 

 

 

 

 

 

"O TOCHA ENFRENTA NAMOR NUMA PARADA QUENTE!

32 PÁGINAS COLORIDAS"

(CHAMADA DE PRIMEIRA PÁGINA DE GIBI DOS EUA,

TRADUZIDO NO BRASIL, HÁ ALGUMAS DÉCADAS, 

AQUI APRESENTADA EM DIA DE LASTIMÁVEL INCÊNDIO NO RIO,

mas que, felizmente, não vitimou pessoas,

segundo consta [*])

 

[*] - "(...) De acordo com o responsáveis pelas escolas de samba Portela, União da Ilha e Grande Rio, todas as fantasias já estavam prontas e quase todos os enormes carros alegóricos em fase final, e o fogo, que também destruiu o barracão da Liesa, Liga das Escolas de Samba, devorou tudo, felizmente sem provocar mortes ou deixar feridos graves. [O GRIFO É NOSSO] (...)"

[http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/internacional/mundo/escolas-de-samba-perdem-quase-tudo-em-incendio]

 

 

 

 

COLUNA DO PROF. ROGEL SAMUEL NESTE 

ENTRETEXTOS (hoje, segunda-feira, 7.2.1011):

 

"ROGEL SAMUEL: TRAGÉDIA

 ROGEL SAMUEL: TRAGÉDIA

Fui um dos primeiros a ver crescer, na linha do horizonte, aquela grande coluna de fumaça.

Telefonei para minha amiga Nappy, que trabalha no centro.

- É um grande incêndio, - eu disse. Estou na rua caminhando, não sei o que é.

- Alguns minutos depois ela retorna a ligaçao avisando: "é na Cidade do Samba".

As repercussões desse desastre ainda não se pode avaliar.

Muda toda a cidade do Rio de Janeiro.
"
 
(ROGEL SAMUEL, Crônica de sempre,
http://www.portalentretextos.com.br/colunas/cronica-de-sempre/rogel-samuel-tragedia,189,5569.html

 

 

 

 

"Tocha HumanaTocha Humana :: Irmão de Susan. Controla o calor de seu corpo, podendo incendiá-lo e voar neste estado. Além disso, tem a habilidade de emitir bolas e rajadas de fogo. Apaixonado por garotas e pelo ''show business'', uma de suas diversões favoritas é pegar no pé de seu amigo Coisa."

 

 

 

 

(http://www.hyperfan.com.br/tits/quarteto.htm)

 

 

 

(http://programatahligado.wordpress.com/2010/04/05/)

 

 

 

 

PERSONAGEM TOCHA HUMANA, de Marvel Comics (NÃO É PERSONAGEM DISNEY):

"O verdadeiro Tocha Humana

Sabem o Tocha Humana, um dos integrantes do Quarteto Fantástico? Bom, esse aí é o segundo Tocha Humana, para todos os efeitos.

No início da década de 40 havia um outro personagem da Marvel com o mesmo nome e os mesmos poderes -- mas não tinha nada a ver com o Quarteto.

Era um andróide que pegava fogo. Durou poucos anos e, mais tarde, reciclaram o pobrezinho, agora um ser humano etc.

Enfim, esse post não é um verbete de enciclopédia. Toda a explicação acima é para contar que a Marvel começou a produzir uma série em oito partes sobre esse personagem esquecido.

O enredo ficará por conta de nomes importantes como Mike Carey e Alex Ross e a arte, de Patrick Berkenkotter.

A notícia é do blog UniversoHQ.

Escrito por Diogo Bercito às 14h07".

 

 

 

(http://blogdofolhateen.folha.blog.uol.com.br/arch2009-08-16_2009-08-22.html)

 

 

 

 

Tocha Humana (Ed. Bloch) nº. 5

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.rsraridades.com.br/sebo/bloch-tocha-humana-c-22_146_357.html)

 

 

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O MILIONÁRIO PATINHAS, TIO DE DONALD, "marvelizado"

(http://conversahafiada.blogspot.com/2009/09/disney-marvel.html)

 

 

 

A SEGUIR, CERTA "MARVELIZAÇÃO" PONTUAL DO PATO DONALD:

um meio "disnéico" (J. BAUDRILLARD) DONALD, meio TOCHA HUMANA 

(personagem de MARVEL COMICS [editora estadunidense de estórias em quadrinhos

que não foi fundada por W. Disney]):


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"O raivoso Pato Donald transformado em Tocha, do 'Quarteto Fantástico' "

(http://conversahafiada.blogspot.com/2009/09/disney-marvel.html)

 

 

 

  

"FALTA PONTO DE EXCLAMAÇÃO NA IMPRENSA BRASILEIRA"

(REYNALDO JARDIM)

 

 

 

"TONNERRE DE BREST, ÇA VA CHIER!"

ou, aproximadamente, em português do Brasil,

"COM MIL RAIOS, VAI DAR MERDA!"

(CAPITÃO HADDOCK, personagem de HERGÉ,

em vários álbuns de HQ destinados ao público

infanto-juvenil) 

 

 

 


 

 

"Será a permanente neurasternia do Pato Donald, famoso personagem de Walt Disney, sintoma de uma patopatologia? "

(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")

 

 

 

                               HOMENAGEANDO OS PESQUISADORES DE QUADRINHOS GERD FOERSTER E

                               ATHOS CARDOSO - cuja coleção é inimaginável, porque não contém "apenas"

                               HQ produzidas (ou traduzidas) no Brasil -, OS ESCRITORES

                               ROGEL SAMUEL, QUE FOI UM DOS PRIMEIROS A VER CRESCER

                               A GRANDE CORTINA DE FUMAÇA

                               DO TRISTE INCÊNDIO QUE ACABOU COM CARROS ALEGÓRICOS E FANTASIAS E

                               MIGUEL CARQUEIJA, QUE NÃO É, PROPRIAMENTE, UM

                               COLECIONADOR DE QUADRINHOS ANTIGOS -

                               como Athos Cardoso efetivamente é -, MAS QUE SABE APRECIAR

                               AS FABULOSAS PUBLICAÇÕES QUE GUARDOU

                               DESDE SUA INFÂNCIA - de resto, como também consegui fazer - E

                               EM MEMÓRIA DE

                               ADOLFO AIZEN, fundador e presidente da EBAL - Editora Brasil-América

                               (Rio de Janeiro, Brasil), amigo e confrade de meu pai e de meu

                               tio Carlos de Araújo Lima na O. V. J. (Ordem dos Velhos Jornalistas),

                               em cujos almoços na sede da A. B. I. (Associação Brasileira de Imprensa)

                               travavam agradabilíssimas conversas de seres que não precisavam

                               voltar correndo para o batente (serviço vespertino),

                               MAS ISSO SÓ DEPOIS DE OS DOIS ÚLTIMOS JÁ ESTAREM APOSENTADOS,

                               UMA VEZ QUE O PRIMEIRO ERA EMPRESÁRIO E CHEGAVA NA EBAL

                               NA HORA QUE BEM ENTENDESSE (*rs*)

                                                   

 

 

7.2.2011 - Gerd Foerster dedica-se ao que ele chama de ARQUEOPATOLOGIA - Apesar da terminação '-patologia', a obsessão (NÃO DOENTIA) por algo que causava alvoroço na meninada parece ser bem sadia: Gerd Foerster pesquisou com afinco e não se esquivou de transmitir o belo resultado de sua generosa pesquisa arqueo-brasileiro-disnéica. OBRIGADO, GERD FOERSTER. (Como ficaria o PATO DONALD se ele fosse CARIOCA como o ZÉ CARIOCA e soubesse que os carros alegóricos do próximo carnaval pegaram fogo por falta de prevenção contra incêndios??????  Arre, égua!)  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

GERD FOERSTER TRANSMITE-NOS,

PELA INTERNET, O RESULTADO DE SUA

PESQUISA SOBRE OS PRIMÓRDIOS DOS

QUADRINHOS DISNEY NO BRASIL (quadrinhos

e estórias infantis ilustradas, em forma de livrinhos

cujo formato era quadrado [CAPA E MIOLO DOS LIVROS], 

em alguns casos):

 

                          

 
 

"O objetivo desta Seção é apresentar os primórdios dos Quadrinhos Disney no Brasil, especialmente cotejando à evolução que ocorreu em alguns outros países, naquele período em que publicar "histórias em quadrinhos" era plena vanguarda.
 
Inicialmente, iremos focalizar esta evolução no Brasil e alguns países próximos, como a Argentina (face ao paralelismo da Editora Abril, como que operando como em duas unidades coadjuvante nestes dois países, o que ainda será objeto de análise), e tecer algumas considerações sobre a evolução de suas publicações.
Isto, pois sabemos que estas edições antigas são não apenas raras, mas também caras, então objetivamos possibilitar ao colecionador que ainda não adentrou nas peças dos anos anteriores a 1960, uma breve visão do que se passou em tais "priscas eras" dos Quadrinhos Disney no Brasil.
Este estudo não possui caráter científico "stricto sensu", posto que produzido por colecionador, e orientado a colecionadores e outros aficionados dos quadrinhos Disney. Sendo assim, prescindiremos de certo rigorismo científico.
Da mesma forma, não nos será possível entrar no mérito da criação dos personagens Disney em si, pois tal envolveria aprofundar-se no perfil sócio-personal do próprio Walt Disney, assim como de Carl Barks e dos roteiristas e desenhistas mais famosos que, por delegação do próprio Disney, auxiliaram-no a imprimir personalidades próprias aos diversos personagens.
A quem se interessar sobre este detalhamento, desde já deixamos recomendados os estudos e publicações do Prof. Roberto Elisio dos Santos, e quando o assunto for as características deste ou daquele desenhista e roteirista, sugiro neste mesmo site, uma pesquisa no link "Mestres Disney".
 

 
 

Quase todos os colecionadores que, algum dia, dedicaram-se a colecionar pelo menos parcialmente algum título de "HQ" Disney da Editora Abril no Brasil, mesmo sem se interessar por efetuar esta coleção de forma completa, acaba por inteirar-se que o marco inicial da Editora Abril está na revista em quadrinhos "O Pato Donald". Esta publicação surgiu em formato maior, intitulada "O Pato Donald - Revista Mensal de Grandes Historietas de Walt Disney", e que doravante trataremos simplesmente como "PD(BR)", ou simplesmente "PD", cujo número um (01) foi editado em julho de 1950.
 
Esta afirmação não é errónea de todo, se considerarmos o prisma das publicações ainda existentes e correntes.
 
Em primeiro lugar - e apesar de negado oficialmente pela própria Editora Abril - esta já ensaiou outras publicações antes de julho de 1950.
 
Além disso, historietas Disney em quadrinhos, ou na forma de textos ilustrados, ou mesmo na forma de tiras, já surgiram muitos anos antes.
 
O primeiro contato que o leitor brasileiro teve com quadrinhos Disney, na verdade, foi nas páginas do "Tico-Tico", revista que editou as tiras do "Mickey" sem os tradicionais balões de fala e pensamento. No "Tico-Tico", as expressões verbais eram apostas ao rodapé de cada quadrinho. Eram normalmente tiras de no máximo três ou quatro quadrinhos.
 

 
O Tico Tico
 

No "Tico-Tico", "Mickey" era designado por "Ratinho Curioso". A revista "Tico-Tico" foi publicada inicialmente em 1905 e tratou-se da primeira coleção de revistas direcionada especificamente ao público infantil no Brasil, de inspiração nitidamente francesa. Basicamente trazia textos para leitura (para não gerar conflitos demasiados com a Igreja que, na época, não se mostrava muito favorável ao manuseio de textos em quadrinhos por crianças), assim como tiras e historietas, em sua maioria de uma página, no máximo. Clássicos como "Popeye", "Gato Félix", "Pinduca", "Pafúncio", entre criações brasileiras e norte-americanas, eram o foco da publicação.
 
Os desenhos publicados eram em sua maioria atribuídos ao próprio Walt Disney, ou eventualmente a seu assistente Ub Iwerks. Investigações históricas posteriores demonstraram que tais desenhos na verdade foram de autoria de Gottfredson.
 
No suplemento "A Gazeta", também conhecida como "Gazetinha", também constavam algumas tiras.
 
A revista "Suplemento Infantil", posteriormente renomeada para "Suplemento Juvenil", era um suplemento do jornal "A Manhã". Em 1934, já por iniciativa de Adolfo Aizen (futuro Fundador e Presidente da EBAL) passou a publicar também tiras de quadrinhos Disney a partir de 1934, também na mesma forma do "Tico-Tico", ou seja, as falas dos personagens sendo apresentadas ao pé dos quadrinhos.
 
Assim, algumas cenas das "Sinfonias Alegres" já apareceram a partir do "Suplemento Infantil" número 5, datado de 11.04.1934, em conjunção a um texto com a história respectiva. Na edição número 6, Mickey estréia numa "Sinfonia Singular Colorida (Silly Symphony in Color)", apesar de que publicada em preto-e-branco. Na arte original promanada dos Estados Unidos, havia balões, os quais foram removidos e os diálogos foram transcritos ao pé dos quadrinhos, para manter o "standard" da época.
 
A edição de 31.10.1938, já então rebatizada para "Suplemento Juvenil", trouxe o "Pato Donald" em tiras de Al Tagliaferro, bem como as "Aventuras do Elefante Elmerindo" (que no original chamava-se "Elmer Elephant" e que no Brasil, posteriormente, veio a ser denominado também de "Elefante Bolinha".
 
Até aqui aludimos apenas a tiras. A seguir deve ser mencionada a revista "Mirim". O "Mirim" era um HQ editado pelo "Grande Consórcio Suplementos Nacionais (GCSN)", fundado por Adolfo Aizen em 14 de março de 1934. Apesar de Adolfo Aizen posteriormente vir a fundar a Editora "EBAL", na década de 1940, aqui se cogita de outra edição.
Já em seguida marcou espaço o "Mirim", um HQ de poucas páginas (dizia-se "gibi fininho" - alguns de 16 páginas, outros de 32 páginas), tri-semanal (saía três vezes por semana), sendo que o que realmente marcou época foi o "Mirim Sexta-ferino", o que chegava às bancas nas sextas-feiras, logicamente.
 
Paralelamente à Revista "Mirim", este Consórcio liderado por Adolfo Aizen editou também uma colecão de livrinhos de bolso, de pequenas dimensões (11,2 cm de altura x 9,0 cm de largura), também conhecidos como "tijolinhos", e que formaram a chamada "Biblioteca Mirim". Cada edição focalizava um tema ou um personagem, sendo narrado na forma de textos, com ilustrações em páginas separadas. A Coleção da "Biblioteca Mirim" principiou em 1937 e foi editada e reeditada praticamente até 1945, havendo sido editados 39 exemplares - do número 1 ao número 39, sendo que apenas os números 16, 18, 20, 21 e 24 focalizavam personagens Disney típicos ou atípicos. São eles :
 
Biblioteca Mirim 16 - "Pinnochio"
Biblioteca Mirim 18 - "Pato Donald"
Biblioteca Mirim 20 - "Camundongo Mickey e os 7 Fantasmas"
Biblioteca Mirim 21 - "Pluto"
Biblioteca Mirim 24 - "Sinfonias Alegres" (com Pato Donald e outros ...)
 
As edições 16 e 24 saíram apenas nas publicações mais recentes, conhecidas como "Novíssima Biblioteca Mirim".
Seguem, a seguir, os scans das capas destes cinco "tijolinhos" famosos do GCSN.
 

            

 
Também as publicações "O Guri", e "O Lobinho", já desde o final dos anos 1930, publicaram dezenas de tiras Disney, mescladas com tiras de outros personagens ou heróis, e em sua maioria na forma antiga de textos com as frases sob a vinheta. A Revista "Gibi", iniciada por Roberto Marinho em 1939, também trazia diversas inserções e tiras dos principais personagens Disney da época - Mickey, Donald, etc..., sendo provavelmente o pioneiro em trazer inserções dos três sobrinhos de Donald, bem como da namorada "Daisy Duck" - Margarida.
Um exemplar único mas notório é a publicação "Saludos Amigos", na versão castelhana do clássico "Você já foi à Bahia".

 
Saludos Amigos
 
 
                   
                   
                   
Outra coleção editada pelo Consórcio liderado por Aizen na época - a Coleção "BIG", que foi composta de 16 peças, sempre mesclando textos com desenhos, mas em páginas apartadas. A relação de edições da coleção "BIG" que incluíam personagens Disney é a seguinte :
 
-          Zé Carioca
-          Mickey e a Lâmpada Maravilhosa
-          Branca de Neve e os 7 Anões
-          Pato Donald vê Estrelas
-          Dumbo, o Elefante Voador
-          Os Filhos de Bambi
 
Até este momento, contudo, tivemos apenas "tiras" ou "histórias ilustradas", em que se mesclavam textos com ilustrações, estes desprovidos de balões. Eram ainda "textos ilustrados de contos", ou "proto-quadrinhos", ou "quadrinhos atípicos".
Foi, entretanto, com a constituição da Editora Brasil-América (EBAL) por Adolfo Aizen, no Rio de Janeiro, em 1945, que os personagens Disney passaram realmente a figurar mais amiúde.
EBAL foi o primeira editora no Brasil a lançar revistas apenas com histórias Disney: de 1946 até 1948 publicou 17 edições das "Seleções Coloridas" (impressas na Argentina, porque não havia recursos gráficos adequados no Brasil), 12 das quais continham história com personagens Disney (edições 1 a 10 e 12, 14 e 16). Graças a essa publicação, os leitores Brasileiros puderam apreciar as obras de Barks e Gottfredson, bem como as criações do artista Argentino Luis Destuet, que ilustrou duas histórias com o Donald. Depois do cancelamento das "Seleções Coloridas", a EBAL lançou outra série chamada "Nova Coleção Walt Disney", no fim dos anos 40, impressa em preto e branco em formato retangular que durou apenas 8 números.
 
 
Não foi porém o famoso HQ "Pato Donald", todavia, a primeira publicação em quadrinhos dos personagens de Walt Disney no Brasil. Além destas inserções na forma de "tiras" e "cases" específicos em quadrinhos de que se cogitará posteriormente (afora inúmeras aparições na forma de textos em prosa), é fundamental informar acerca dos dezessete exemplares das "Seleções Coloridas" (a que chamaremos - "SC"), editadas pela Editora EBAL.
Embora não fossem publicações exclusivas de historietas "Disney", vários destes dezessete exemplares foram integralmente dedicados a eles. Em específico, destas dezessete, somente as edições de números 11, 13, 15 e 17 traziam personagens outros. Os exemplares que não continham quadrinhos "Disney", de fato não continham nenhum, como que "segregando" "Disney" vs. "non-Disney" em edições diversas.
 
Relação dos Títulos das Seleções Coloridas "Disney":
 
           1 - O "crack" Pato Donald * Donald e o Pica-Pau
           2 - Mickey educando Terça-Feira
           3 - Donald e o Anel da Múmia + Esportes de Inverno
           4 - Mickey em Missão Secreta
           5 - Os Filhos de Bambi
           6 - Donald em Catch-as-catch-can * PD vendedor
           7 - O Pequeno Lobo Mau
           8 - Mickey na Idade da Pedra
           9 - Donald e o Tesouro do Pirata
         10 - Branca de Neve e os 7 Anões
         11 - (non Disney)
         12 - Mickey e a Caixa Eletrónica
         13 - (non Disney)
         14 - Donald no Alasca
         15 - Resoluções
         16 - Bambi
         
Entretanto, representava seguramente uma vanguarda corajosa a edição naquela época, de revistas totalmente coloridas e já no formato clássico do HQ - ou seja, histórias com balões, etc...
           
Seleções coloridas 01, 12 e 14
De fato, o editor Adolfo Aizen iniciou esta série em 1946, que, com a periodicidade mensal, perdurou por dezessete meses, ou seja, dezessete exemplares de SC - as SC foram acometidas de morte súbita e prematura em 1948, após somente 17 exemplares e duas primaveras ...
 
As SC possuíam as mesmas dimensões que teria o PD(BR) a ser editado posteriormente, sic, : 28 cm (altura) x 19,5 cm (largura). A maior parte das histórias Disney publicadas eram de Barks e Gottfredson, porém com acentuada participação do desenhista argentino Luis Destuet (v. Seleções Coloridas 1 e 6), e que foi responsável pela criação das primeiras historietas Disney na América Latina (e inclusive desenhou dezenas de capas das revistas "El Pato Donald") da Editora Abril na Argentina.
 
A curta duração da coleção SC instiga aos colecionadores, ensejando diversas explicações plausíveis.
 
Uma destas liga o fato de que, tanto as edições das SC brasileiras, como o PD(BR) em seus anos iniciais, foram impressas na Argentina, nas oficinas ou sob a supervisão da Editora Abril na Argentina, e que casualmente havia sido fundada anos antes por Cesare Civita, irmão mais velho de Victor Civita.
 
E é o de que nos ocuparemos na sequência.
 
A revista "El Pato Donald", que aqui referiremos por PD(AR) muito provavelmente está por trás dos bastidores deste episódio. Surgida anos antes - o número 1 foi editado mais precisamente em 18 de julho de 1944, esta revista também foi a primeira edição da Editora Abril Argentina e a primeira edição realmente em quadrinhos na América Latina e, quiçá, fora do seu idioma nativo (inglês). Observa-se que os irmãos Civita, emigrados dos Estados Unidos, numa época em que a Itália ainda se debatia com as sequelas e rigores da Segunda Grande Guerra, escolheram países vizinhos da América Latina para tentar repetir o sucesso destas publicações na América do Norte.
 
17 - (non Disney)
PD Argentino nº 1
Ora, quando foi editada a revista SC número 1, a revista PD(AR) já tinha passado do seu centésimo número, o que demonstra que os irmãos Civita presumivelmente já sabiam do potencial económico latente da revista, e não é de se espantar se algum "lobby" indireto dos irmãos junto à Walt Disney Corporation minou prematuramente a iniciativa de Aizen com suas "Seleções Coloridas".
 
Após o curto período das "Seleções Coloridas", a Editora EBAL viria ainda a publicar, no final dos anos 1940, a "Nova Coleção Walt Disney", totalmente em preto-e-branco e em formato retangular e comprido, com péssima qualidade de impressão - o que dá azo e reforça a premissa de que os irmãos Cesare e Victor Civita de certa forma estavam pressionando para que suas publicações ficassem com a exclusividade dos "Quadrinhos Disney" no Brasil e na Argentina, especialmente os coloridos.
 
Com poucos exemplares publicados (presumivelmente ...) no Brasil, na época mais atrasado em relação à Argentina em termos de parque gráfico, a série quedou fadada ao fracasso, terminando também prematuramente no oitavo número.
 
Em 1955 a EBAL viria ainda a tentar a "Coleção Encantada", a qual dedicaria seis de suas doze edições aos Quadrinhos Disney (as demais para a "Turma do Pernalonga"), não havendo prosperado tampouco.
 
Contrariamente ao PD(BR), o PD(AR) desde sua primeira edição já era semanal. Tanto é assim que a edição número "1" foi editada em Buenos Aires em 18.07.1944, o número 2 circulou em 25.07.1944, o número 3 em 01.08.1944, e assim passou a ocorrer sucessivamente.
PD Argentinos nºs 2 e 3
 O PD(AR) desde seu início e até o alvorecer da década de 1950 consistia de uma revista mista, apresentando historietas dos personagens Disney, bem como de outros personagens comuns à época.
 
Diferentemente das SC, o PD(AR) apresentava em todas as edições um misto de personagens - isto pois nas SC havia uma segregação de natureza dos quadrinhos por edição.
 
 
 
 
O formato do PD(AR) variou consideravelmente no tempo. Em suas edições iniciais, este era impresso em papel jornal da modalidade "cerado", que conferia um brilho especial à capa e maior gramatura às folhas. Media então 26,5 cm (altura) X 19 cm (largura). Este papel de gramatura de melhor qualidade durou aprox. até a edição número 50, que corresponde a meados de 1945.
 
Passados aproximadamente três anos, com a edição do PD(AR) 169, de 07.10.1947, as dimensões do formato aumentaram, passando à dimensão de "quase" 30,0 cm (altura) x 20,0 cm (largura) - o que é um dos maiores formatos de quadrinhos Disney jamais editados inclusive posteriormente, dentro ou fora dos Estados Unidos da América, se é que não é o maior. Deixaremos aos leitores deste "site" apresentarem provas ou evidências de HQs de maiores dimensões que estes em outros países do mundo, pois este Autor os desconhece.
 
Como exemplo para cotejo, seguem em anexo os scans do PD(AR) nums. 169, 170 e 171, datados respectivamente de de 07, 14 e 21.10.1947.
       
 
               

A Editora "Noite" também publicou entre 1941 e 1943 uma série de doze livrinhos de dimensões similares aos "tijolinhos da Biblioteca Mirim", conhecidos como "Coleção Walt Disney". Numerados de 1 a 12, também eram estruturados na forma de textos, em que algumas ilustrações mesclavam-se textos com desenhos em páginas apartadas. A "Coleção Walt Disney" , também referida por "COL-WD" desta época editou os seguintes títulos, sendo que cada exemplar media 12,4 cm de altura x 14,2 cm de largura :
 
COL-WD 1   - "João Mata 7" (posteriormente : "Mickey, o Alfaiate Valente")
COL-WD 2   - "Pateta"
COL-WD 3   - "O Porquinho Prático"
COL-WD 4   - "Elefante Bolinha" (Elmerindo)
COL-WD 5   - "O Patinho Feio"
COL-WD 6   - "Clarabela"
COL-WD 7   - "Mamãe Pluto"
COL-WD 8   - "Minie - a Namorada"
COL-WD 9   - "Mickey em Apuros"
COL-WD 10 - "Donald vs. Quinquim"
COL-WD 11 - "Sinfonia Campestre"
COL-WD 12 - "Coisas de Pluto"

 

Um aspecto que marca o PD(AR) é a enorme pulverização das historietas: editava-se, por exemplar, apenas uma página, ou duas, no máximo três páginas de cada história, o que obrigava o leitor menos interessado ou eventual, a imediatamente tornar-se colecionador... uma história de 20 páginas, por exemplo, levava de 10 a 15 exemplares para poder ser lida inteiramente, o que significava, na prática, esperar de 3 a 4 meses... e se fossem histórias compridas... os HQs convertiam-se quase que em "folhetins" que passavam de um ano...
Sem gracejos com os companheiros de além-fronteira, quase que se poderia dizer : gerar leitores de quadrinhos "no cabresto" ...
O PD(AR), diferentemente do brasileiro, que em suas 21 edições iniciais, tinha apenas a capa ou mais uma folha colorida, quase que intercalava páginas a cores e páginas preto-e-branco. O número de páginas variava entre 24 e 32 páginas por edição. Em sua maioria, possuíam 32 páginas, porém já nos últimos exemplares de formato grande, em 1951, revezavam-se exemplares de 16 e de 32 páginas.
Entende-se, talvez, a necessidade de Adolfo Aizen intercalar publicações com quadrinhos Disney e quadrinhos "non-Disney" nas suas Seleções Coloridas de 1946 a 1948 - por pressões da própria "Walt Disney Corporation" (ou "WDC") nos EEUU.
A Editora Abril na Argentina, sob a batuta de Cesare Civita, decidira ao enfrentamento com a "WDC", tanto que sofria pressões e sanções administrativas, que culminaram numa batalha judicial.
Após três anos lutando com base em liminares "pró" e "contra" a mescla dos quadrinhos "non-Disney", não mais tolerados pela WDC, finalmente, em dezembro de 1948, a Justiça Argentina dá ganho de causa definitivo à WDC.
Não se conhecem detalhes dos contratos originais entre a "Editorial Abril", de Buenos Aires, dos irmãos Civita (na época Victor assistia seu irmão Cesare Civita) e a "WDC", mas é de presumir-se que, de 1942 a 1944, estando Europa e Estados Unidos envolvidos na Segunda Guerra Mundial, havia uma tolerância inicial, por parte da WDC à presença de personagens "non-Disney" , mesmo pois o mercado local não era grande, e a revista portenha tinha a pretensão ser semanal, periodicidade esta que cumpriu religiosamente de 19.07.1944 a 08.02.1949, sem uma única falha.
Manter, naquela época, uma publicação semanal, de 32 páginas, com quase a metade de suas páginas coloridas, num mercado extremamente reduzido como era a Argentina, e já desde 1944 na vanguardíssima sistemática de "quadrinhos com balões", por si só, demandaria um estudo específico.
Este êxito seguramente tinha suas causas no "boom económico" pelo qual passava a vizinha República em meados dos anos 1940. Além disso , credite-se parte do êxito desta publicação semanal ao processo de "fidelização dos leitores no cabresto", com a divisão infinitesimal das historietas, bem como ao grau de exigência e sofisticação do mercado portenho, com uma classe média enriquecida pelas exportações de víveres a um mundo faminto - então em plena Segunda Guerra Mundial, e, especialmente, pela introdução das páginas "non Disney", em especial, clássicos do desenho no género "cult", bem como "westerns" e super-heróis - enfim - leitura para uma variada gama etária. 
A edição do PD(AR) núm. 239 do PD(AR), datada de 08.02.1949, porém, representa uma marca. Sucumbentes no litígio e sujeitos inclusive à prisão se descumprissem a ordem judicial definitiva, os Civita passaram quatro semanas sem editar o PD(AR), que surge no seu número 240, datado então de 15.03.1949, com uma das maiores mutilações da história dos HQs.

 
PD Argentino nº 239

Dos sete títulos de histórias com personagens "non-Disney" que vinham sendo veiculados pelo PD(AR) até o imediatamente anterior - 239 - quatro deles foram literalmente fechados "a fórceps" : numa mesma edição foram encerradas as historietas com o personagem épico "Jacinto", o "western" "Oro del Río" (Ouro do Rio), o drama "Atolín Trágico" e o cósmico-futurístico "Vuelo Infinito" (Vôo Infinito). Numa penada foram encerrados em uma ou duas páginas e já na edição do PD(AR) 241, de 22.03.1949, substituídos por quadrinhos "Disney".
 

     
PD Argentinos nº 240 e 241

Mais duas historietas - o policial com "Inspetor Slomp" foi encerrado na edição do PD(AR) 245, datado de 19.04.1949, - e o épico "Herón en Cartago" (Herón em Cartago) terminou no PD(AR) 250, datado de 24.05.1949.
 

 
PD Argentino nº 250

Tudo indicava que os Civita foram literalmente "forçados" a um acordo com a WDC, pois a partir do exemplar PD(AR) 251, de 31.05.1949, os HQs eram quase que puras revistas Disney, com uma única exceção - o épico "Gene Autry", que também viria a ser editado no Brasil, posteriormente.
 

 
PD Argentino nº 251

Talvez por sua extrema popularidade, os Civita literalmente "arrancaram" uma concessão da WDC, no sentido de permitir-lhes manter o seriado "Gene Autry" no meio de uma publicação então quase puramente Disney, no seu restante, o que perdurou até o PD(AR) 306, datado de 20.06.1950.
 

     
PD Argentinos nºs 306 e 307

Com a publicação do PD(AR) 307, em 27.06.1950, cumpriu-se, então e finalmente, a última cláusula do "Acuerdo General" entre "los hermanos Cesare y Victor Civita" e a WDC, e assim, abriram-se finalmente as portas para que no mês seguinte, a WDC não mais impusesse quaisquer óbices à circulação do PD(BR) número 1, através de edições mensais, enquanto que o PD(AR) seguia semanal - e ambas as publicações puramente Disney.
 
Seguem abaixo as capas dos PD(AR) 308, 309, 310 e 311, que correspondem cronologicamente ao PD(BR) número 1, todos de julho de 1950, montados e impressos nas mesmas gráficas da Editora Abril Argentina.
 

                  

 
Para que não fique no olvido, informamos que, talvez para contentar o público argentino àvido por leitura de histórias completas (ou em apenas duas edições), a Editorial Abril local publicava, já a revista mensal "La Gran Historieta".
 

 

 

A título de ilustração, pouco antes de iniciar-se a publicação do "Pato Donald" no Brasil, a Editora Novaro, no México, iniciou-se entre 1949 e 1950.

As "Organizaciones Editoriales Novaro", capitaneadas por Luis Novaro, mantinham a "Sociedad Editora América", que se encarregou desde então de publicar os "Cuentos de Walt Disney" ("Contos de Walt Disney"), em edições puramente "Disney".
Não tivemos acesso a números muito antigos desta série, mas sabe-se que iniciaram mensais e posteriormente, e por dilatados anos, foram publicados quinzenalmente.
A título de exemplo, segue o scan da capa do "CuentWD" número 209, de 05.02.1960.
 

 

 
Sabe-se porém que o formato da revista e o logotipo de Editora variaram consideravelmente nestes anos, o que prejudica uma acompanhamento contínuo, como foi com o PD(AR), até que a Abril perdeu sua concessão nos anos 1960, e como é no Brasil até hoje.
No México, na década de 1950, os "CuentWD" possuíram três formatos editoriais, o primeiro com o timbre "EMSA", a seguir "ER", e finalmente "SEA", conforme o desenho apresentado.
Na década de 1960, houve dois formatos : "N" (de "Novaro" presumivelmente...) num círculo. Após o formato de uma "àquila" (àguia), até 1966. De 1966 a 1984, prevaleceu o formato chamado de "EN" ("Editorial Novaro").
Desta evolução no México pode-se verificar o quão importante foi a batalha de Walt Disney e sua corporação, no sentido de buscar solidificar a sua "marca registrada", banindo tudo que fosse alienígena do seio de suas revistas e seus personagens.
 

 

 
A revista em quadrinhos "O Pato Donald - Revista Mensal de Grandes Historietas de Walt Disney", e que doravante estamos referindo tão-somente como "PD(BR)" surgiu em julho de 1950 como o primeiro grande lançamento da Editora Abril no Brasil. Impresso na Editorial Abril da Argentina, atendia, senão a nível nacional, prioritariamente os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, tendo alguns (poucos...) distribuidores no Sul, alcançando também escassamente os principais estados da Região Nordeste (especialmente Pernambuco).
 

 
PD Brasileiro nº 1

No Brasil, desde sua génese, não houve as mesclas ocorridas na Argentina. Sob este aspecto, observa-se que Victor Civita, quiçá bem melhor que seu irmão mais velho Cesare, soube penetrar e entender bem a psicologia de Walt Disney e seus auxiliares, tanto que conduziu as publicações sem maiores ruídos que se tenha tido notícia, e sempre em espiral ascendente de vendas, desde seu início em 1950, e pelo menos até sua morte, em 1990.
Um aspecto que normalmente passa desapercebido por vários colecionadores é que esta revista em suas primeiras vinte e uma edições era mensal, e não semanal, como depois veio a ocorrer. De fato, suas primeiras vinte e uma edições foram editadas entre os meses de julho de 1950 e março de 1952, perfectibilizando portanto vinte e uma edições em vinte e um meses calendários. Sua revista coirmã, o "Pato Donald" editado pela Editorial Abril em Buenos Aires (Argentina), estreado seis anos antes, nasceu desde já semanal, porém continha quadrinhos dos mais diversos autores, como já verificamos, o que não veio a ocorrer com o PD(BR), rigorosamente contendo tão-somente quadrinhos Disney.
Estas edições eram editadas no que posteriormente ficou conhecido como "formato americano", maior que o tradicional "formatinho" (o formato tradicional do "Topolino" italiano, e que posteriormente popularizou a revista.
As vinte e uma edições iniciais do PD(BR) possuíam aprox. as seguintes dimensões : 28,0 cm (altura) x 19,5 cm (largura). Portanto, uma tamanho intermediário entre o PD(AR) que vigeu na sua fase inicial (19.07.1944 a 07.10.1947) e sua fase de máximo tamanho (v. dimensões supra (14.10.1947 a aprox. 31.12.1951).
O PD(BR) núm. 1 foi editado com ca. 82 mil exemplares, o que representa um volume considerável, e de certa forma não explica a escassez desta publicação no mercado brasileiro atual, fazendo com que atinja valores consideráveis (em estado de conservação de "bom a ótimo" há notícia de estar sendo comercializada de R$ 2.500 a R$ 4.000 reais.
Apesar de ser este tipo de nomenclatura bem disseminada, o "formato americano" não constituía, nem mesmo à época, uma dimensão padronizada, pois tanto nos Estados Unidos como em outros países, houve variantes destes formatos. Para terem um parâmetro de comparação, adiante informamos dados sobre o tamanho das edições do PD na Argentina, também editado por uma co-irmã da brasileira, a Editorial Abril.
A Editora Abril estava recém iniciando atividades no Brasil à época, e para efeitos de "marketing", posteriormente, e até hoje, o PD(BR) é considerada a primeira edição da Editora Abril. "Tudo começou com um Pato ..." diziam vários epítetos comemorativos nas revistas Disney da Abril, especialmente nas décadas de 1970 e 1980. Controlador da Editora Abril, o ítalo imigrante Victor Civita, desde então, acreditava na força de crescimento desta revista.
Um aspecto instigante é o fato de que, no corpor editorial das revistas "Pato Donald" e "Mickey", assim como das publicações argentinas "Pato Donald" e "La Gran Historieta", não constavam os irmãos Civita como editores ou responsáveis. Talvez a legislação societária da época não permitisse esta faculdade sendo exercida por estrangeiros, ou pelo menos, brasileiros ou argentinos apenas naturalizados. No Brasil, por diversos anos constava sempre "Giordano Rossi" como "Editor responsável".
 

 

 
A redução no formato do PD(BR) ocorreu com o número 22, o primeiro exemplar em periodicidade semanal, editado em 08 de abril de 1952, que passou a medir 22 cm altura) x 14 cm (largura), portanto, alguns milímetros maior que o formatinho tradicional que perduraria ao longo de toda a segunda metade da década de 1950, bem como das décadas de 1960 e 1970.
 
O formato reduziu-se, após a Segunda metade da década de 1950 um pouco, para algo como 21 cm (altura) x 14 cm (largura). Este "formatinho" perdurou até a edição de número PD(BR) 1469, sendo que o tipo do papel era o "jornal", o qual veio sendo aperfeiçoado ao longo do tempo. O PD(BR) de número 1470 pela primeira vez cambiou o formato do título da edição, e reduziu as dimensões da revista para aprox. 19 cm (altura) x 13,5 cm (largura), o qual perdura até os tempos modernos, com pequenas variações.
 

 
PD Brasileiro nº 22
 

Já a redução no formato do PD(AR) ocorreu em duas etapas. Após o câmbio para o formato "mega-pato" (30,0 cm x 20,0 cm), que perdurou por aproximadamente 4 anos, no início do segundo semestre de 1951, a revista ficou reduzida para as seguintes dimensões : 22,0 cm (altura) x 15,0 cm (largura) - mesmo formato do PD(BR) 22 e seguintes.
 
Veja-se a este respeito os scans dos PD(AR) nºs 364, 367, 369, 370, 371, 372, 373, datados de 31.07.1951, 21.08.1951 , 04.09.1951, 11.09.1951 , 18.09.1951 , 25.09.1951 e 02.10.1951.
 

                
                             

 
No início de 1952, contudo, um pouco antes da redução do "patão brasileiro", os argentinos inauguram e buscaram "testar" um "mini-formato", com as seguintes dimensões - 19,5 cm (altura) x 14,8 cm (largura), peças que chamam atenção pois quase perdem a forma retangular, quase assumindo forma de quadrado. Vejam os scans das edições PD(AR) nºs 387, datada de 09.01.1952, bem como 396, de 11.03.1952.
 

        
PD Argentinos nºs 387 e 396
 

Ao se examinarem estas capas, observa-se que muitas delas foram posteriormente reprisadas no PD(BR), por exemplo : capa PD(AR) nº 370 (setembro 1951) = capa PD(BR) nº 24 (abril 1952); capa PD(AR) nº 371 (setembro 1951) = capa PD(BR) nº 26 (maio 1952).
 

     
PD Brasileiros nºs 24 e 26

De fato, consta que a WDC permitiu desde cedo, nos seus contratos do início da década de 1940, que a Editorial Abril de Buenos Aires mantivesse equipe específica local para o desenho de capas. Embora várias das capas dos PD(AR) tenham sido importadas das publicações norte-americanas (ou algumas européias), em sua maioria foram artes de artistas argentinos.
 
Estes artistas também contribuíram para o desenho de várias capas dos PD(BR) iniciais. Como ao personagem "Zé Carioca" não era dado na Argentina o relevo que se daria no Brasil, estas capas do Pato Donald em alguma armação com o Zé Carioca pouquíssimas vezes foram aproveitadas na Argentina, se é que foram alguma vez.
 
Mas isto se devia talvez a maniqueísmos e preferências locais, pois os artistas sabiam compor com o Zé Carioca e efetivamente, várias das capas dos PD(BR), especialmente dos seus primeiros cem números, vieram da Argentina.
 
Voltando-se ao formato "minúsculo" do PD(AR), este formato reduzido ao mínimo perdurou por pouco mais de ano na Argentina, sendo que, simultaneamente, eram editados "supernúmeros", o triplo ou o quádruplo de páginas (chegando quase a 100 páginas), com o formato de 22,0 cm (altura) x 15,0 cm (largura).
 
Em janeiro de 1953, o PD(AR) estabilizou-se finalmente no mesmo formato do PD(BR) post-edição nº 22, ou seja, com 22,0 cm (altura) x 14 cm (largura). Veja-se a respeito os Supernúmeros PD(AR) nº 383, datado de 11.12.1951, e o nº 434, de 02.12.1952.
 

      
PD Argentinos nºs 383 e 434
 

O PD(AR) e o PD(BR) finalmente alinharam seus tamanhos, o que se manteria até o final da década de 1950. A esta altura, a técnica editorial e gráfica no Brasil já estava bem desenvolvida, e com a estruturação das Empresas, estas passaram a seguir lineamentos distintos no que concerne às suas publicações.
 

 

 
Em próximas etapas, iremos comentar diferenças de editoração gráfica e de apresentação das historietas entre estas três publicações iniciais da Disney na América do Sul - SC, PD(AR) e PD(BR), bem como as variações no número de páginas, para, posteriormente, passarmos à revista "Mickey", que iniciaria no Brasil somente em outubro de 1952, também editado pela Abril.
 
Apenas a título de "trailler", pode-se observar a similitude de histórias publicadas entre as edições da Argentina e Brasil. O Supernúmero PD(AR) nº 383, que por sinal possuía uma capa que posteriormente seria aplicada ao PD(BR) nº 60, apresentava "La Cenicienta", que corresponde literalmente a "Cinderela", editada no "Mickey nº 1" no Brasil, dez meses após. Já o Supernúmero PD(AR) nº 434 apresentava "Alicia en el Pais de las Maravillas", o que corresponderia à única história do "Mickey nº 2" no Brasil, em publicações praticamente simultâneas.
 

        
PD Brasileiro nºs 60 e MK Brasileiro nº 1
 

A Revista "Mickey", em seus números iniciais, estava a demonstrar que a Editora Abril buscava um público mais selecionado, de maior poder aquisitivo, e que não precisaria ser objeto de "fidelização compulsória" pela separação de uma historieta em várias edições. Equivalia, na Argentina, à publicação "La Gran Historieta".
De fato, a revista possui o título em homenagem ao "famoso ratinho", talvez pela sua popularidade no Brasil, mas não estava dirigida inicialmente ao personagem. Na revista "Mickey" número 1, além de que "Cinderela" ocupava a quase totalidade das páginas coloridas centrais, pouco restava para o personagem "rato" além da participação em uma historieta narrada em forma de texto, que tratava dos "Discos Voadores".
  
Além disso, há que se referir algumas edições especiais publicadas na década de 1950 no Brasil, muito procuradas por colecionadores, como o Almanaque Disney da Abril de capa amarela, datado de 1954.
 

 

 
Temos ainda duas publicações na forma de Almanaque da "Editora Orbis", de 1955. Um de Natal, de capa branca, puramente recheado de histórias em quadrinhos, e outro mais dirigido a passatempos, mas com algumas historietas, capa avermelhada.
 
Não se sabe ao certo por que regime de exceção Civita, sempre cioso de sua seara, abriu esta exceção à "Editora Orbis".
 

           
Especiais da Orbis

 
Uma Quarta edição especial de "O Pato Donald" foi editada em 1963 pela própria Editora Abril, época em que estava fazendo seus "testes de mercado" para a introdução de uma publicação ainda mais encorpada e totalmente a cores, que viria a ser a Revista "Tio Patinhas", iniciada somente em dezembro de 1963.
 

 

Quando do aprofundamento destes Estudos de "Arqueopatologia", iremos dedicar um capítulo especial para os números iniciais da Revista "Mickey" e para estes quatro Almanaques Especiais.

 

Embora o relato da evolução do PD(AR) pareça um pouco fora de contexto para um colecionador que pretenda ater-se somente às coleções Disney brasileiras, uma realidade que não pode ser negada é que o PD(BR), no fundo, é um "filhote" do PD(AR), fruto do que ele chegou a ser em julho de 1950, pois resultado de mais de seis anos de acertos e desacertos dos irmãos.
Como colecionador de revistas puramente brasileiras, fui forçado a abrir uma exceção e incluir o PD(AR) - somente da série editada pela Abril Argentina de 1944 a 1963 - devido a esta quase "simbiose" que ocorreu entre elas, especialmente até o final dos anos 1950". (GERD FOERSTER)