OS MUITO IDOSOS E A TECNOLOGIA

CUNHA E SILVA FILHO

A realidade digital, tecnológica, automotiva, robótica está rondando os bancos. Quem não tem notado essa transformação não prestou atenção ainda ao que o /a rodeia. Mas, é coisa séria e já está acontecendo diante dos olhos pálidos e fracos dos muitos idosos cada vez mais dependentes de ajuda e da boa vontade dos funcionários dos bancos brasileiros a fim de levar a cabo os seus extratos, as suas transferências, as suas contas a pagar mensalmente. Por falar em funcionários, nota-se também uma atmosfera pesada como se os funcionários tivessem medo de perder o emprego diante da redução de funcionários empreendida pelos bancos diante dos avanços da era digital.

Todos os meses a ida ao banco se está transformando e tomando um rumo meramente digital para o pesar e o sofrimento dos clientes idosos ou muito idosos que nada entendem do manejo das máquinas eletrônicas.

Os bancos passam por mudanças que sinalizam para mais diminuição de seus funcionários a fim de atenderem a seus clientes A máquina, o pix (que é um perigo para os mais anciões que gostam de encontros amorosos fake pelas redes sociais...

O que o Banco Central deveria fazer é evitar que o uso do pix fosse indiscriminado. Se dependesse de mim, seriam cancelados das transações bancárias, pois numerosos são os exemplos de vítimas fatias que caem nas mãos de criminosos dispostos a tudo a fim de obrigar pessoas a entregar-lhes a senha e assim permitir que os marginais façam transferências bancárias. Sobretudo quando sequestram pessoas desavisadas malgrado os repetidos avisos dos especialistas em segurança.

Os pagamentos virtuais já estão tomando conta dos funcionários do número de gerentes do espaço do banco para atender com mais conforto os clientes que andam, agora, como baratas tontas à medida que vão envelhecendo e não se adaptaram à velocidade das transações bancárias. Toda ciência e tecnologia só são válidas na medida em que se voltam para a produzir felicidade, saúde e paz no mundo. O que fica fora deste parâmetro é improdutivo e maléfico ao ser humano. Novas descobertas, no campo da medicina e de ciências correlatas, para a cura de doenças consideradas incuráveis de nossa tempo, são bem-vindos. E isso vale para outros campos da inteligência humana.

O tecnicismo, em qualquer área, especialmente se forem do âmbito das humanidades, das artes em geral, tampouco pouco acrescenta. A máquina jamais terá a capacidade de penetrar no domínio individual e de percepção da beleza das artes e da criatividade em geral.

Do jeito que andam as mudanças do funcionamento bancário, chegará um dia em que, num banco, nem gerente, pessoa humana, gente de carne e osso, haverá para resolver problemas e reclamações dos clientes. Em vez disso haverá um robô frio e indiferente que cuidará (Será que cuidará?) de todos os de assuntos mais complexos envolvendo as transações bancárias dos clientes.

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, professor emérito aposentado da Universidade de Duke, em entrevista recente ao jornal O Globo, declarou que a Inteligência Artificial , não é “inteligência,” e sim “marketing para explorar o trabalho.” Aludindo ao ChatGPT, assevera o cientista que “ ...é um grande plagiador porque pega o material feito por um monte de gente mistura e gera algo que chama de produto novo”...

Sei o quanto devemos às tecnologias, porém é preciso que se tenha limite em tudo na vida. Virtus in medim est. O excesso tecnológico pode levar a consequências desastrosas à sobrevivência na Terra. Vejo os seus males mais relacionados à condição humana, às relações interpessoais, ao exacerbamento da falta do humanismo, à ausência da convivência saudável entre as pessoas em qualquer pare do orbe, enfim, à morte da dimensão da espiritualidade tão necessária ao instinto gregário da humanidade. Ou seja, levará, enfim, concretização das distopias à Huxley, do Admirável Mundo Novo (1932).

O linguista Mario Pei, no belo livro All about language, referiu-se à pretensão do ser humano em querer igualar-se -se à inteligência de Deus ou mesmo ultrapassar o poder divino ao reportar-se ao episódio bíblico do Velho Testamento, chamado Torre de Babel. O resultado foi a confusão de gente falando línguas diferentes e sendo, portanto, impedidas de descobrir os mistérios do Altísssimo. Podermos transpor essa realidade bíblica para a nossa contemporaneidade.

Por outro lado, não me pejo de afirmar que tenho muita saudade da era pré-digital em que eu ia ao banco e lá encontrava gente e não robôs humanos ou máquinas que  faiam a alegria dos inumeráveis velhinhos e velhinhas conversando  confortavelmente com os gerentes de bancos e sendo tratados como seres humanos, não como máquinas indiferentes frias e perigosas. Aguardo que os banqueiros pensem bem no que estão fazendo com os seus clientes. Os banqueiros dependem mais dos clientes e não vice-versa.

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