Cunha e Silva Filho


                     O título deste artigo me foi inspirado pelos corajosos e magníficos artigos de Villa- Boas Corrêa, em sua coluna Coisas da Política, do Jornal do Brasil.
Conhecedor profundo da história política brasileira por muitas décadas, seus artigos, dissecando os males da política nacional, de quando em vez repisam alguns temas de nossa política, temas que se tornam recorrentes porque o status quo das instituições que estão sempre na sua mira teimam em manter-se na mesma falta de dignidade, no mesmo cinismo, no mesmo jogo de ardis, de armadilhas e sinuosidades, deixando a sociedade civil do país cada vez mais pessimista, cada vez mais indignada com a crônica da nossa política contemporânea. (Rui Barbosa diria politicalha).
                   Ontem mesmo, na televisão, saiu um notícia da mídia inglesa que bem define esse quadro de podridão em que está enlameado o Senado Federal. A revista inglesa, The Economist, chamou-o de a “Casa dos Horrores”. no que está correta. Não é exagero de expressão definidora da real situação de vilanias daquela instituição representativa. 
                 Como não a definir senão naqueles termos da imprensa inglesa? Esta sucessão de denúncias envolvendo a principal figura do escândalo, o Presidente do Senado, é  tão grave que o coloca numa sinuca de bico, não havendo como não nos causar arrepios e calafrios como se estivéssemos assistindo a um circo de horrores, a me lembrar de um filme americano ou inglês, não me recordo  ao certo, em que, dentro do próprio ambiente circense, havia um dos seus artistas que cometia crimes pavorosos, sendo, ao final, descoberto pela polícia. Só que os crimes do Senado são de outra ordem, envolvem dinheiro público, ou seja, recursos financeiros que vêm da contribuição do povo através dos impostos e sobretudo do imposto de renda, que já é, por si só, um a espécie de horror contra o cidadão brasileiro honesto e trabalhador.
               Neste espetáculo vampiresco , de sugação do Erário Público, não pode haver condescendência, ainda que o envolvido seja um homem público de projeção nacional, um ex-presidente, um intelectual, um membro da Academia Brasileira de Letras, enfim, um político de carreira que, por isso, tem uma grande responsabilidade de se conduzir com toda a lisura exigida pelas funções relevantes que tem desempenhado ao longo de décadas.As supostas denúncias que o colocam como personagem central no palco da política nacional têm que ser apuradas com transparência, sem subterfúgios. Não há que haver dois pesos para o julgamento de quem seja acusado de prevaricação ou de cumplicidade com o dinheiro do povo. Se prevalecerem os dois pesos, não há democracia no país e essa forma política entra em colapso, pode ruir e dar ensejo a quarteladas ou motins no setor militar. Nepotismo, corrupção das instituições públicas, simbiose de transações e ações espúrias entre o público e o privado só irão agravar o estado de falência moral das duas Câmaras.
           "Senado" vem do latim senatus que, por sua vez, prende-se a senex, velho, ancião antigo, ou seja, implica experiência, sabedoria. O termo senador, na Roma antiga, era função só atribuída aos mais velhos. Semanticamente se associaria à função que exige experiência e seriedade no trato da res publica . Pelo visto, o caso brasileiro sofreu entropia na acepção do termo.Quanta distância!
          Ligando uma coisa  a outra, e voltando ao sentido do título deste artigo, fico falando com meus botões. Os senadores, os deputados federais,  para encurtar a história, são remunerados com salários milionários caso considerássemos todos os privilégios e regalias pantagruélicas de que dispõem mensalmente. São verbas para isso, verbas para aquilo, e aí se inclui quase tudo de que só os reis e milionários daqui e dalhures desfrutam. Até verba para comprar jornais e revistas lhes estão ao alcance das mãos. Até motorista ganha mais do que um professor universitário federal e, nas horas de folga, se transforma em mordomo  da res privata. Isso não lhes basta ou a volúpia do poder político e financeiro não tem termo? 
         Estou cansado de ouvir da fala desses representantes do povo que vão constituir CPIs disso ou daquilo para apurar denúncias que, no cômputo da salada da patuscada indiferenciada de matizes políticas, tudo só me leva à desconfiança e à descrença diante de tanto barulho vazio. That’s the limit!, diria a imprensa inglesa e se apressando perplexa, diante da nação tupiniquim, em exclamar aos quatro ventos: The House of Horrors! Ugh!