Que me perdoe Mário Faustino (De Anchieta aos concretos, Companhia das Letras, 2003), mas a minha crônica se volta com freqüência sobre a minha subjetividade. É sabido que o ultra-rigoroso crítico piauiense detestava poetas que só falassem de si mesmos. Ufa! Não sou poeta... Será que seu juízo crítico  pressupunha também os cronistas? Estaria perdido, lost, lost,  lost no paradise! Entretanto, esqueceu o autor de O homem e sua hora que  de subjetividade viveram os grandes líricos do Romantismo  ocidental, incluindo, é lógico, os nossos Casimiros de Abreu, os nossos Álvares de Azevedo, os nossos Fagundes Varela, os nossos Junqueiras.  Seriam todos apagados?


Não creio que falar de si próprio  seja um grande e lamentável defeito na criação literária, tanto mais que, ao falarmos de nós mesmos, não o estamos fazendo por mero espírito narcíseo, porém estamos dando nosso testemunho perante a vida e a História.


A subjetividade nociva é aquela na qual egoisticamente pomos a nossa individualidade como se fora o “umbigo do mundo”.


O gênero memorialístico, que encontrou  entre nós, segundo a crítica,  a sua forma mais perfeita, temática e estilisticamente falando, na literatura de Pedro Nava (1903-1984), não só fixa a memória social mas imbrica ainda a memória subjetiva, que, para Álvaro Lins (1912-1970), é tanto melhor  recuperada quanto mais envelhecemos. E podemos adiantar mais: quando falamos de nós não estamos circunscritos à pura subjetividade. O mundo objetivo, a realidade empírica, a visão dos fatos, das pessoas, dos seres que formam o “vasto mundo”, pressupõem subjetividades interligadas à coletividade humana.


Por conseguinte, ao girar sobre mim mesmo, estou  indiretamente influindo  de alguma maneria e em certo grau nos meus semelhantes e ao mesmo tempo estou recebendo  fortes influxos do que me cerca e isso tem um peso enorme na esfera da criação  literária  segundo ainda me recordo das aulas magníficas  de teoria literária de Augusto Meyer (1902-1970) A subjetividade  não pode, assim, estar sozinha nem pode, ipso facto, estar dissociada do  outro, da alteridade.
Subjetividade e objetividade, individualidade e sociabilidade se complementam e, no  plano da inventio artística, a opção pela subjetividade como forca-motriz do fenômeno  literário não me parece um  despropósito.O que pode existir é a boa ou má subjetividade na elaboração estética.
Esta minha divagação vem a propósito da minha atividade docente. Há poucos dias recebi a aguardada e boa notícia de que me aposentei como professor titular de língua inglesa do centenário Colégio Militar do Rio de Janeiro. E não sou o primeiro piauiense que por lá marcou passagem como educador. Tivemos, no passado,  o escritor piauiense Berilo Neves ( 1901-1974), que lecionou língua portuguesa naquela instituição federal-militar. Tivemos, por algum tempo, a jovem professora Assunção Sousa, que lecionou língua  portuguesa e, se não me engano,  literatura brasileira. Hoje, mora em Teresina e é professora da UESPI, ensaísta que há pouco tempo publicou um estudo,  em obra coletiva, Alguma prosa (7 Letras, 2007), livro que recebeu acolhedora resenha  no caderno Idéias do Jornal do Brasil.


Lecionei durante 10 anos no renomado Colégio Militar como professor concursado de provas e títulos, chegando ao nível máximo da minha ascensão funcional nessa instituição.


Na realidade, a minha  atuação docente começou mesmo em Teresina quando, para ganhar alguns trocados para despesas  de adolescente – como pagar um sorvete para a namorada ou o bilhete dela numa sessão de cinema -,   pedi a papai que me publicasse no jornal Estado do Piauí, de Josípio Lustosa, um anúncio em  inglês oferecendo-me para dar aulas   de reforço de inglês  e de francês a alunos ginasianos, embora, no anúncio , só constasse  aulas de inglês.


No entanto, foi no Rio de Janeiro que iniciei a minha atividade docente profissionalmente,  a qual data de 1970. São, por conseguinte, 38 anos  quase de atividade na área do ensino, com um curto período em  atividade bancária. Foram  longos anos de trabalho  em três e até quatro  escolas. No ensino público e  particular, em  todos os níveis e lecionando português, literatura brasileira, literatura  americana e língua inglesa. É tempo, pois, de dar uma trégua à minha trajetória de educador. Quanto  à vida intelectual, nessa ,  me parece, que  não terei tão cedo férias, a não ser  aquelas para  descanso periódico, porque  ninguém é de ferro.


A minha mulher, brincando comigo, me dissera tão logo recebera a notícia da publicação da aposentadoria no Diário Oficial da União: - Os guarda-pós estão de férias. –Sim, lhe respondi, mas havia um fiapo de tristeza na minha resposta monossilábica. Ela, então,  talvez para me  consolar, acrescentou: - Eu disse  “de férias..”. Caro leitor, veja bem,   os guarda-pós estão - apenas  -  de férias.