OS DEPENDENTES ON LINE
Margarete Hülsendeger
“Boa tarde, meu nome é Ana e eu sou uma dependente on line”. Talvez, antes do que pensávamos, grupos de apoio para dependentes das ferramentas relacionadas à internet venham a se tornar tão comuns como o dos alcoólicos anônimos.
Primeiro foram os e-mails, os substitutos da tradicional correspondência em papel e do telefone. Depois o orkut, acenando com a possibilidade de estabelecer relacionamentos com todo o tipo de pessoa sem sair do conforto e da segurança de sua casa. E agora temos o twitter, uma espécie de híbrido entre o e-mail e o orkut, permitindo a troca de mensagens curtas com um grupo imenso de indivíduos a qualquer hora do dia ou da noite.
Os contatos diretos, nos quais era possível pelo menos ouvir a voz do interlocutor, estão se tornando desnecessários e, consequentemente, fora de moda. É muito comum ver jovens optando por trocarem mensagens em vez de promoverem encontros, ao velho estilo olho no olho. Isso sem falar no surgimento de uma nova linguagem – cheia de abreviações e contrações – que somente os “iniciados” são capazes de entender.
“E aí, qual o problema? Novos tempos, novos recursos”, alguns poderão argumentar. O problema, como tudo na vida, é o excesso, o descontrole. Alguns estudiosos do assunto, como a psicóloga Luciana Rufo do Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática da PUC de São Paulo, já prevêem um aumento de casos de dependentes da internet que serão forçados a procurar ajuda especializada. Pessoas que, por seu perfil psicológico, sentem a necessidade de permanecer em contato com outros usuários o tempo todo. Ou que passam a ter a sua vida centrada na quantidade de ferramentas que são capazes de utilizar. Esses indivíduos sentem-se mal e até sofrem se não estão conectados a todos esses recursos simultaneamente. Segundo essa mesma psicóloga, o resultado de todo esse excesso poderá se manifestar na forma de sintomas como insônia, cansaço, angústia e, em alguns casos, hiperatividade.
Como tratar esse novo tipo de doença – a dependência cibernética – é o que muitos especialistas estão começando a discutir. O método aconselhado por alguns terapeutas é o tradicional: eliminar ou, pelo menos, reduzir consideravelmente o uso desses recursos. Semelhante, portanto, ao tratamento dispensado a drogaditos e alcoolistas.
De qualquer maneira, precisa-se compreender que o uso da internet e das suas ferramentas é de nossa inteira e absoluta responsabilidade. Se escolhermos abrir mão das nossas relações sociais diretas pelas relações virtuais à distância, ou se preferirmos enviar mensagens de texto ao invés de falar olho no olho, precisamos estar preparados para as consequências. Elas podem vir na forma de um isolamento cada vez maior do mundo real ou ainda na forma de uma compulsão difícil de controlar que pode, inclusive, interferir na nossa saúde física e mental.
Portanto, procure analisar o quanto você está dependente da internet. Observe a forma como isso está afetando a sua qualidade de vida. Você fica ansioso quando não está conectado? Tem dificuldades em dormir depois que desliga o computador? Sente palpitações quando não consegue atualizar o seu twitter? E, finalmente, seu comportamento está de alguma maneira atingindo aqueles que lhe são próximos? Quando a família e os amigos começam a reclamar da sua ausência, pode ter certeza: alguma coisa muito errada está acontecendo. Contudo, se esse é o seu caso, não se assuste, pois o tratamento não é complicado: basta ter coragem suficiente para apertar o botão de desligar. Esse gesto, com certeza, vai fazer toda a diferença.