Os cisnes selvagens de Coole

 Em sua outonal beleza estão as árvores,

Secas as veredas do bosque;
No crepúsculo de Outubro as águas
Reflectem um céu tranquilo;
Nessas transbordantes águas sobre as pedras
Banham-se cinquenta e nove cisnes.
 
 
Dezanove outonos se passaram desde que
Os contei pela primeira vez;
E, enquanto o fazia, vi
Que de repente todos se erguiam
E em largos círculos quebrados revolteavam
As clamorosas asas.
 
 
Contemplei esses seres resplandecentes 
E agora há uma ferida no meu coração, 
Tudo mudou desde o dia em que ouvindo ao crepúsculo,
Pela primeira vez nesta costa, 
A alta música dessas asas sobre a minha cabeça 
Com mais ligeiro passo caminhei.
 
 
Infatigáveis, amante com amante,
Movem-se nas frias
E fraternas correntes ou elevam-se nos ares;
Os seus corações não envelheceram;
Paixão ou conquista solicitam ainda
Seu incerto viajar.
Vagueiam agora pelas quietas águas, 
Misteriosos, belos;
Entre que juncos edificarão sua morada, 
Junto a que lago, junto a que charco, 
Deliciarão o olhar do homem quando um dia eu despertar 
E descobrir que voando se foram?
 
 
W. B. Yeats, Poemas
selecção e tradução de José Agostinho Baptista, 1988
 
Postagem de Amélia Pais