Os Cães não Deixavam Passar
Por Rodrigo Darini Valente Em: 08/10/2012, às 06H37
Naquele dia, os cães ladravam mais do que o normal
Chovia demais e os trovões torturavam os tímpanos de todas as criaturas
Do nada, todos começaram a correr... corriam, corriam...
Os cães pareciam liderar os demais grupos
Fugiam de quê? Nem eles sabiam
Mas os cães lideravam
Horas, muitas horas depois
Pareciam ter chegado a seu destino
Como não diferente, os cães decidiam quem deveria entrar
Muitos humanos ficaram de fora... para falar a verdade, a maioria deles
Cães, pobres cães, só podiam deixar entrar aqueles que tivessem a virtude
E os humanos não a tinham
Os ferozes leões a tinham
As venenosas cobras, aranhas e escorpiões também
Os elefantes, as capivaras e as raposas tinham, bem como seus primos lobos
Menos os humanos
Malditos, ficavam quase todos do lado de fora
Não ousavam entrar... não mesmo
Os cães é quem decidiam
Impediam, mesmo que fossem velhos inválidos, grávidas ou inocentes crianças
Os cães não deixavam
Os cães viam e sentiam
Por isso, se necessário fosse
Não os deixavam passar
Eles sentiam a virtude
Ou a falta dela
Quem merecia entrar entrava
Humano nenhum ousava burlar a regra
Pois, se o fizesse, era morte certa
Pois os cães não deixavam
A fila diminuía, ao passo que a procissão de humanos...
Ah, humanos malditos
Eles, os cães não deixavam passar
A procissão de humanos errantes aumentava
Iam pra todos os lados, exceto em linha reta
Pois os cães não os deixavam
A chuva caía... os trovões ficavam mais fortes... mais tenebrosos
E os humanos... erravam por itinerários errantes
Será que passarei? Será que passarei?
Os cães... ah, os cães...
Livravam-se de seu câncer
Os cães não deixavam passar...