Bráulio Tavares



No princípio era o Orkut, um planeta virtual, onde a humanidade se reunia para jogar conversa fora. Depois veio o Facebook, um dos “saites de relacionamento” que mais crescem no mundo. Há quem diga que é perda de tempo, coisa para adolescentes, para aposentados e outras pessoas de ocupação incerta e não-sabida. Há quem ache que é um Ágora ateniense, um Hyde Park londrino, um local onde cada um pode dizer o que quiser, postar fotos, postar textos, postar links para websaites, postar links para vídeos no YouTube.

Quinze anos atrás, eu próprio consideraria ininteligível o parágrafo acima. Não importa: foi graças ao Orkut e ao Facebook que reencontrei amigos que não via há trinta anos. Não direi que fiz novos amigos, porque uso esta palavra com parcimônia, mas fiz muitos conhecidos, gente legal, boa para trocar idéias, dar dicas, conversar abobrinhas ou coisas interessantes. O Orkut acabou me enchendo o saco pela dificuldade de navegação, era mais de um minuto para trocar de página. Não posso perder tanto tempo assim. Dizem que os jovens gostam de velocidade. Errado: quem gosta (ou pelo menos quem precisa de rapidez) são os velhos, que têm na mente uma contagem regressiva tiquetaqueando sem parar.

O Facebook, como o Orkut, emprega com liberalidade o conceito de “amigos”. A sua página anuncia: “Você tem 1.134 amigos”! É curioso, porque certamente nunca vi mais gordas 99% dessas pessoas. Amizade virtual pe um novo conceito antropológico. Li uma vez num almanaque que a gente devia ter um amigo verdadeiro por ano de vida. Como não tenho 1.134 anos, só me resta supor que os demais não são propriamente amigos, são simpatizantes, pessoas que ouviram falar de mim e querem ver as coisas que eu prego no meu mural. (Esta, amigos, é a definição da amizade facebookiana: pessoas que se dão o trabalho de querer saber o que você está pensando agora.)

Quando entrei no Orkut, temi que fosse uma complicada conspiração destinada a um dia me envolver com traficantes de órgãos ou viciados em drogas, provando que eles eram “meus amigos no Orkut”. Duas conversas e dois dedos de bom-senso me convenceram do contrário. Do modo virótico com que essas amizades se propagam, não há tempo para cada um saber o que os demais andam aprontando. Seriam necessárias evidências de outro tipo; já que não existem, relaxemos.

Facebook e Orkut são uma imensa “pesquisa do Ibope” destinada a ter – quando alguém precisar – um “perfil do consumidor” completo a respeito de cada um dos 500 milhões de indivíduos que os compõem. Que filmes veem, que livros leem, que músicas escutam, que links distribuem entre os “amigos”, que nomes próprios são mais citados em seus posts, que websaites visitam, quanto tempo livre têm para jogar Farmville ou outras bobagens. Que bom que o Facebook existe num mundo ocidental e democrático, porque no dia em que todas essas informações caírem nas mãos de um (digamos) Stálin ou Mao-Tse-Tung, eu não quero nem sentir o cheiro.